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Bastidores do MDB rondonense: Habilidade Política X Força Política

Josoé Pedralli foi reeleito presidente do MDB com 96% dos votos da convenção

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A política é uma arte, um jogo, onde você pode se destacar pela habilidade ou através da força, e foi esse embate que nós presenciamos logo nos primeiros dias de 2022, com a eleição do novo diretório do MDB rondonense.

2022 é ano de eleições gerais, que definem as condições para as eleições municipais de 2024. O debate interno de um dos partidos mais tradicionais de Marechal Cândido Rondon foi o primeiro fato importante na esteira dos acontecimentos e articulações políticas que devem ocorrer este ano, ela define os nomes e a importância de alguns personagens para o futuro deste jogo.

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Ao noticiar, no dia 10 de janeiro, que o MDB realizaria sua convenção para eleição do seu diretório, apontei que Josoé Pedralli pretendia continuar na presidência do partido e que, declarações públicas do vereador emedebista João Eduardo dos Santos (JUCA) evidenciavam que ao menos dois parlamentares municipais desejavam uma mudança no comando da sigla. Juca estava acompanhado pelo ex-prefeito e atual vereador Moacir Froehlich, que desejava presidir o maior partido do município.

Tática e estratégia

No jogo do poder, cada um luta com as armas que tem, ou seja, com as suas condições reais. E o que determina tais condições é a postura dos personagens diante da realidade nua e crua. Esse é o jogo onde não se permite sonhar, os resultados políticos são oriundos das táticas empregadas para alcançar um determinado objetivo estratégico.

O objetivo estratégico dos citados até aqui é o mesmo: conduzir o partido e garantir uma posição de destaque para o MDB nas eleições municipais de 2024.

O que diferencia a dupla de vereadores Juca e Moacir do presidente do MDB, Josoé Pedralli, é a tática empregada para conquistar o objetivo estratégico.

A Habilidade

Pedralli escolheu a habilidade na articulação política. E não é de hoje que o derrotado na última eleição municipal faz essa opção, é preciso lembrar que ele foi o único candidato a prefeito a oferecer uma chapa completa de vereadores para a eleição de 2020. No processo de articulação para aquela fatídica eleição, Pedralli foi buscar lideranças históricas que já tinham identificação com o MDB e lideranças emergentes, como atual vereador Iloir de Lima (Padeiro). Pedralli fortaleceu a chapa de vereadores emedebistas a tal ponto que ele deve ser reconhecido como principal responsável pelo partido ter três cadeiras no legislativo municipal.

Pedralli terminou aquela eleição sem mandato e com uma derrota gigante a ser digerida. A conclusão de quem observou só os números é que o tamanho da “tunda” seria a “pá de cal” na carreira política do ex-vereador. Mas, as observações superficiais são enganosas no terreno da política. Numa observação profunda, é nítido que a base emedebista reconheceu o esforço feito por seu presidente para manter o protagonismo do MDB, diante da desistência da concorrência daquela eleição pelas principais lideranças do grupo de oposição.

As três cadeiras emedebistas são prova inequívoca do acerto tático produzido pelo seu presidente, já que Moacir Froehlich não fez os dois mil votos em que muitos acreditaram que o ex-prefeito poderia alcançar. A vinda de Padeiro para o MDB, retirado de um partido aliado, que depois levantou a bandeira branca, se tornou uma das jogadas mais importantes daquela eleição, e o resultado numa eleição proporcional depende diretamente dos votos produzidos pelo conjunto da chapa. Uma análise fria dos números comprova a tese aqui exposta.

A força

Juca e Froehlich saíram vitoriosos nas eleições 2020, eles foram os dois candidatos mais bem votados do partido e se tornaram uma força política de respeito, capaz de fazer articulações políticas no legislativo que os permitissem se destacar e fazer um contra ponto ao campo situacionista. Assim aconteceu, recursos foram mobilizados, projetos de lei relevantes foram apresentados e isso fortaleceu a dupla de vereadores politicamente, garantiu acesso às principais lideranças do partido no Estado e, inclusive, garantiu uma vaga para cada um no diretório estadual do MDB.

A musculatura política acumulada por esses dois personagens emblemáticos da política rondonense os permitiu elaborar objetivos estratégicos para seus futuros políticos e dentre os objetivos a serem alcançados estava afastar o atual presidente da sigla e impor um novo ritmo ao partido.

Mas não adianta ter força se você não tem articulação, utilizar a imprensa para manifestar suas vontades foi uma das táticas empregadas pela dupla, além da articulação junto das lideranças estaduais do MDB. Juca e Moacir apostaram num jogo de caciques, enquanto Pedralli trabalhava em silêncio no diálogo com a base partidária.

Os bastidores

Juca e Moacir Froehlich foram surpreendidos pelo edital de convocação da convenção para eleição do novo diretório, pegos de “calças curtas”, eles simplesmente não reuniam condições de montar uma chapa para disputar os rumos do partido.

Pedralli conversou com as duas lideranças, que reclamaram da convocação e não admitiam não terem sido consultados. Esse é o jogo que cada um joga com as armas e com as informações que tem. Josoé sabia das intenções dos vereadores através da imprensa, e os vereadores julgavam que Pedralli estava inerte, enquanto, na verdade, o ex-vereador estava apenas em silêncio.

Josoé Pedralli apresentou uma chapa com 70 nomes para compor o diretório, com a presença do vereador Iloir Padeiro e de lideranças históricas do partido e com a ausência dos vereadores Juca e Moacir. O trabalho silencioso da articulação política pela base foi o primeiro grande passo para a vitória de Pedralli. Mas até confirmar a vitória no último dia 20, o caldeirão dos bastidores ferveu e os telefones não pararam de tocar.

Habilidade X Força

A força de um mandato é relevante, de dois mandatos então, é extremamente relevante. Assim, Juca e Moacir Froehlich buscaram uma saída com suas influências na direção estadual do MDB para o imbróglio, saída essa que visava substituir Pedralli por Moacir Froehlich.

Quando consultado sobre a possibilidade por lideranças estaduais, Pedralli explicou o seu posicionamento. Entretanto, não foi taxativo, pediu um tempo para consultar lideranças do partido. Foram ouvidos pelo atual presidente, o ex-secretário municipal Christian Guenther, o ex-prefeito Ariston Limberger, a líder partidária Amélia Grams, o vereador Padeiro entre outras lideranças, todos rechaçaram a possibilidade e insistiram na manutenção da chapa presidida por Pedralli, que de imediato comunicou as lideranças estaduais do MDB.

A consolidação da vitória

A habilidade na articulação política teve sua vitória consolidada sobre a força, na última quinta-feira (20), quando Josoé Pedralli foi reeleito presidente do MDB com 96% dos votos da convenção.

Juca e Moacir ainda podem seguir numa articulação de força que possa fazer com que a direção estadual não reconheça a convenção emedebista. Contudo, diante do resultado e expressividade da formulação da chapa, dificilmente uma liderança estadual vai querer perder o apoio de um grupo coeso e unido de 70 pessoas.

A chapa eleita recebeu o nome de “MDB Unido” e foi essa a demonstração dada pelo conjunto do partido sob a liderança de Josoé Pedralli. O partido está unido, resta saber se Moacir Froehlich e Juca vão querer se unir a ele.

A situação ainda pode mudar? É possível, mas improvável! O MDB pretende eleger Sergio Souza deputado federal com uma ampla votação e pretende aumentar a sua base na assembleia legislativa. Para alcançar tal objetivo, as lideranças estaduais sabem que não devem criar instabilidades em nome da força política de alguns personagens da nossa política local em detrimento do conjunto partidário que tem mais condições de oferecer resultado eficaz ao partido nas eleições de 2022.

Fernando Nègre é sócio-proprietário e colunista de política do Portal Rondon

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