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Politiquês

O bode na sala 2.0 e as novas praças de pedágio no Paraná

O foco está no “bode”

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Imagem ilustrativa | Mariana Helfenstein Rosa
Imobiliária Maurício Vazquez

A última moda no meio político do nosso país é a estratégia de aprovar propostas impopulares, oferecendo ao debate matérias esdruxulas, mal formatadas e com o claro objetivo de criar falsas polêmicas. Isso faz com que algumas medidas soem palatáveis mesmo que não tenham a ver com os anseios populares.

Essa estratégia é inspirada na parábola chamada “O bode na sala”: Um homem cansado das discussões familiares, orientado por um amigo sábio, coloca um bode na sala da família. O bode bagunça tudo, tem um mau cheiro que incomoda a todos e transforma a sala num lugar completamente desagradável. Em apenas uma semana todos passam a odiar o bode.

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O amigo sábio, então, orienta que o homem tire o bode da sala e torne aquele ambiente agradável novamente. E assim acontece: ao retirar o bode, a harmonia retorna ao lar.

A PEC da reforma eleitoral foi a última vítima da famigerada forma de conduzir debates com pouco apelo junto aos cidadãos do nosso país. As coligações proporcionais favorecem os partidos de aluguel e fomentam a indústria de criação de partidos políticos, e não são vistas com bons olhos pelos eleitores.

Mas, para aprovar tal matéria, foi preciso criar um perigo maior, um bode na sala, o “distritão”, uma ameaça clara a proporcionalidade de representação da nossa população no parlamento. Para evitar tal atraso, um acordo foi costurado e as coligações voltaram. E nós fomos obrigados a sorrir para um “mal menor”.  Afinal, o bode foi retirado da sala.

O bode na Sala 2.0 e a história

Entretanto, existe aqui no nosso Estado uma estratégia mais elaborada, refinada e com alto poder de persuasão. Ela tem sido executada pelo Ministro da Infraestrutura do Governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas, numa parceria afinada com o governador Ratinho Junior.

O novo modelo de pedágio apresentado pelo governo federal é, de fato, melhor do que os contratos fechados há quase duas décadas e meia, que nos impuseram uma lógica de corrupção institucional que chegou até o Palácio Iguaçu no centro cívico da capital paranaense.

A população do nosso Estado está calejada. A reação diante do anúncio das novas concessões foi intensa, a Assembleia Legislativa foi unânime em exigir um novo modelo, o setor produtivo bateu o pé, e as cooperativas foram fundamentais no primeiro impacto do debate. E a população vendo seus representantes unidos na pauta, acreditou que teríamos obras e o menor preço.

Quem colocou esse bode aqui?

Na última quarta-feira (11), o Ministro Tarcísio e o governador apresentaram o novo modelo, com quinze novas praças, pedágios em estradas estaduais, um valor considerado alto para o começo do leilão e o descumprimento do “acordo” que garantia a extinção da praça Toledo/Cascavel nos contratos, o bode que estava faltando nessa história.

Ao ver o anúncio, imaginei uma reação forte dos nossos representantes, algo que não aconteceu. O setor produtivo se calou, os deputados estaduais se calaram, os prefeitos e os vereadores se calaram diante de um projeto que não tem aprovação popular.

A reação

No domingo (15) surgiram dois grupos de WhatsApp, aglutinando 500 pessoas da região que passaram a debater o assunto e organizar uma mobilização. As manifestações não se destacaram em volume, mas geraram pressão política nas lideranças que estão mais próximas: prefeitos e vereadores.

Esse grupo é diverso, extrato real da população e das diversas matizes políticas presentes na região Oeste. Foi possível ver petistas e bolsonaristas concordarem, porque independente de posição política, foi o cidadão paranaense que foi roubado durante duas décadas e a unidade se tornou fundamental. É verdade que nem todos toparam a unidade, mas foi possível testemunhar até bolsonarista de carteirinha elogiando deputados petistas, que votaram contra a cessão das estradas estaduais ao governo federal no início dessa semana.

O que o povo quer?

Grande parte da população acredita que é possível ter boas estradas, segurança e atendimento rápido nas nossas rodovias, e inclusive concordam em pagar para ter acesso às obras e serviços. Entretanto, não aceitam novos contratos, sem o ressarcimento dos valores e das obras do atual contrato. Até aceitam o pedágio, desde que seja justo.

Para ser mais claro, “5 pila” no pedágio é caro, e as prováveis empresas, as “pedageiras” que têm condições de disputar o certame e aportar valores altos para ganhar a licitação são as mesmas que operam atualmente no Estado.

O paranaense não quer se deixar enganar por mais três décadas. Por isso, o lema do movimento é “Não vamos aceitar”.

O silêncio nada inocente

O silêncio das nossas lideranças é um sintoma claro do ambiente político que estamos vivendo. 2022 é logo ali, e os nossos deputados e prefeitos não querem problemas com o governador virtualmente reeleito. Os vereadores têm seus interesses junto aos prefeitos e seus deputados e também silenciam para não causar constrangimentos. Outras lideranças silenciam, pois, elas sabem que o projeto de concessões é do governo federal e temem um desgaste ainda maior para um governo que está nas cordas e se mantém em pé devido ao apoio fisiológico do centrão.

O bode para romper o silêncio

Os prefeitos de Cascavel e Toledo formaram uma dupla, excluíram ou foram excluídos pelo prefeito Marcio Rauber de Marechal Cândido Rondon. Se, em julho, circulava um vídeo com os três lutando contra o pedágio entre Toledo e Cascavel, desta vez o prefeito rondonense não participou do debate protagonizado pelos políticos experientes, Leonaldo Paranhos e Beto Lunitti.

Beto e Paranhos demonstraram de forma veemente estar lutando pela sua população. Entretanto, o foco está no “bode”, a praça de pedágio entre as cidades lideradas pelos dois políticos, e não na discussão profunda do problema que é o pedágio no Estado do Paraná.

E se tirarem o bode?

Os deputados estaduais do Oeste, acompanhados pelo líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Hussein Bakri, protocolaram um requerimento endereçado ao presidente da República pedindo a reconsideração da praça entre Toledo e Cascavel. Os prefeitos de Cascavel e Toledo enviaram um vídeo ao presidente solicitando a mesma coisa, contudo, esse não é desejo real da população.

Quando batizo esta estratégia de “Bode na Sala 2.0” é devido à complexidade da elaboração desta proposta, que faz com que muitos de nós acreditemos que as novas quinze praças de pedágios são inevitáveis. Assim, devemos nos contentar com uma pequena vitória: a exclusão de uma praça de pedágio, entre Toledo e Cascavel. Em contrapartida, somos obrigados a carregar o ônus da instalação de outras quatorze novas praças pelo Paraná e aceitar a renovação dos contratos com as mesmas empresas que já geraram prejuízos à nossa população.

Basta tirar o bode da sala para construir o consenso? Ou a população paranaense dará uma demonstração de força que vai unir todas as matizes para a construção de um modelo justo?

O bode segue na sala e pautando o nosso debate.

*Fernando Nègre é colunista do Portal Rondon e apresentador do PodCast Diálogos – A Política e o desenvolvimento do Oeste do Paraná em debate

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