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Política

O MDB “Velho de Guerra” ou “Novo” MDB?

A disputa interna pela direção do MDB do Paraná é o assunto da coluna Politiquês deste sábado (17)

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A disputa política mais quente do momento na terra das araucárias é sem dúvida nenhuma, a disputa interna pela direção do MDB do Paraná. Muito mais que uma simples disputa por cargos de comando partidário, a convenção vai determinar os rumos dos emedebistas na política paranaense.

Existe uma clara disputa entre duas frentes muito bem representadas e que, principalmente, se equivalem e cada um compreende a sua importância na construção partidária. Existe também uma terceira via que pode surpreender por ser fator determinante na convenção que ocorre no final do mês de julho. Mais do que a presidência é o rumo político que está em jogo no MDB do Paraná.

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Os emedebistas vão definir se reencarnam o “MDB velho de guerra” e iniciam uma saga pela candidatura própria no Estado sob a liderança do filiado Nº001 do partido, o ex-Governador e ex-senador da República, Roberto Requião. Ou, se dos escombros emedebistas, deve surgir o “Novo MDB”, focado na disputa eleitoral para o parlamento estadual e na construção de uma provável aliança com o governador Ratinho Junior, liderado pelo deputado federal Sergio Souza.

Quem é quem?

Roberto Requião não está sozinho. Ele tem o apoio do deputado federal Hermes Parcianello, o Frangão. Também é apoiado pelo deputado estadual Requião Filho, que é uma liderança de oposição de peso ao atual governador. Tem, ainda, uma massa de militantes que se intitulam “requianistas”, e defendem que um partido com as dimensões e enraizamento do MDB deve disputar o governo do Estado com uma candidatura própria.

O deputado federal Sergio Souza é o político emedebista mais influente do momento. Ele tem atuação destacada na Câmara Federal e lidera a frente parlamentar da agricultura, além de manter uma relação muito próxima com o presidente nacional do MDB, o seu colega deputado Baleia Rossi, que determinou a atual intervenção na direção estadual do partido. Sergio Souza conta também com o ex-Governador Orlando Pessuti. Os dois defendem uma reestruturação do partido. Nos bastidores se dá como certo que, vencendo a disputa interna, eles devem liderar uma aproximação partidária com PSD do governador Ratinho. A meta é ousada: emplacar o nome do vice-governador. Essa aliança tem grandes chances de selar a vitória de Carlos Massa Ratinho Jr, antes mesmo da eleição começar.

O fiel da balança

Tenho entrevistado políticos nos últimos meses para o podcast Diálogos, do Portal Rondon… Quando o assunto são as eleições presidenciais de 2022, se pudessem, a maioria deles gritaria por uma “terceira via” viável que derrote Lula e Bolsonaro. Entretanto, nenhum deles acredita que isso possa acontecer. Já no MDB do Paraná é justamente a terceira via que pode definir a “tese” vencedora da convenção e capitanear a decisão majoritária do partido.

Anibelli Neto é quem deve definir o jogo. Na correlação de forças, o deputado estadual que tem histórico de atuação no movimento estudantil onde presidiu a União Paranaense dos Estudantes e foi vice-presidente da UNE, não reúne apoio político para voltar à presidência do partido e colocar em prática a sua política. Porém, com a liderança que tem e com o bom número de delegados que vem elegendo em convenções pelo Estado, pode voltar a presidência para liderar o projeto de uma das correntes majoritárias.

Requião no PSB?

Requião é, sem dúvida nenhuma, o maior político que essa terra chamada Paraná produziu. Ele foi deputado estadual, prefeito de Curitiba, foi governador por três oportunidades e foi eleito senador da República duas vezes. Militante político que ajudou o país a enterrar a ditadura militar, tem alta identificação com o MDB, é o filiado número 1 do partido no Estado e exerceu todos os seus mandatos pelo movimento democrático brasileiro.

Requião foi desgastando a sua imagem junto da população e das lideranças partidárias com a defesa do Partido Trabalhadores em um momento em que o PT ocupava o horário nobre da televisão em casos de corrupção, que até hoje não se mostraram sólidos.

A política midiática da destruição de reputações respingou nele, e o apoio à candidatura da deputada Gleisi Hoffmann em 2018 foi a gota d’água em um Estado com raízes conservadoras. Requião tinha 40% das intensões de votos segundo pesquisas no início do período eleitoral. Entretanto, a população paranaense resolveu eleger “os desaparecidos” senadores do Podemos.

Requião luta para se manter no MDB, mas só pode ficar se puder ditar o ritmo político.

Nos bastidores, algumas lideranças identificam uma maior aproximação de Anibelli Neto com o Sergio Souza, o que deve levar o MDB ao apoio do atual governador, cenário inimaginável para um MDB com Roberto Requião na sua executiva.

O PSB se reinventa no cenário nacional e fez dois movimentos importantes no último mês: filiou o atual governador do Maranhão, Flávio Dino, que é um virtual vice do presidente Lula e filiou o deputado federal Marcelo Freixo que estava no PSOL e vai disputar o governo do Estado do Rio de Janeiro pelo PSB.

Ter Roberto Requião em suas fileiras seria um ganho importante para os socialistas, mais uma grande aquisição de impacto nacional e que colocaria o PSB em evidência no Paraná. Caso aceite o convite do presidente Carlos Siqueira, Requião vai encontrar velhos conhecidos no partido, como seu ex-secretário de Esportes, Ricardo Gomyde e o ex-desafeto no MDB Luiz Claúdio Romanelli, além do jovem deputado federal Aliel Machado. Requião chegaria ao PSB para oferecer a Ratinho Junior um adversário de grande envergadura, mas com chances mínimas de vitória.

É inverno no inferno e nevam brasas

Consultei alguns requianistas do Oeste do Paraná… Uma das minhas fontes garante que existe um grande jogo de cenas e tudo acabará num grande acordo. Apesar de levar a sério as fontes que cultivo no dia a dia, avalio que um acordo que una duas visões distintas de partido e de atuação política, ficará muito caro para um dos grupos e inviabilizaria em curto prazo o fortalecimento do MDB. O melhor para o MDB, é que uma das correntes vença o debate e o partido tenha um rumo definido ou, do contrário, o partido intensificará a sua ruína no Paraná.

Não sou apegado às previsões, mas existe uma tendência e a alta repercussão da notícia do convite do PSB para Requião denunciam que o deputado Sergio Souza deve ser o grande vencedor da convenção emedebista. Isso não quer dizer que Sergio será o presidente, quer dizer que o deputado federal deve ditar o ritmo político e a aplicação da política pode ficar por conta de outra liderança, como Anibelli Neto, João Arruda ou com seu aliado de primeira hora, Orlando Pessuti.

Confirmando a vitória, Souza se consolida ainda mais como liderança emedebista influente e com boas condições de construir uma aliança forte com o Governador Ratinho Junior.

A disputa é quente e vai aquecer o inverno paranaense.

Fernando Nègre é apresentador do Podcast Diálogos e colunista do Portal Rondon

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