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Os haters que me perdoem, mas o Grande Prêmio de Mônaco é fundamental

Se a Fórmula 1 é o pináculo, o ponto alto do esporte a motor, o Grande Prêmio de Mônaco é a joia da coroa

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Após um pequeno hiato para colocar a vida pessoal em ordem, volto a ocupar este espaço no Portal Rondon. E o título da coluna Pit-Stop de hoje é uma alusão a Vinicius de Moraes. No poema “Receita de Mulher” o carioca afirma que “As muito feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”. E sempre que a Fórmula 1 chega a Monte Carlo, surgem inúmeras pessoas afirmando que o traçado não deveria mais fazer parte do calendário da F1, que não proporciona boas corridas, que não existem opções de ultrapassagem… Bobagem. E eu explico o porquê.

Se a Fórmula 1 é o pináculo, o ponto alto do esporte a motor, o Grande Prêmio de Mônaco é a joia da coroa. A corrida, que é uma das mais tradicionais do esporte a motor, ao lado das 24h de Le Mans e das 500 Milhas de Indianápolis, teve sua primeira edição realizada em 1929. Veja, cerca de 20 anos antes de a Fórmula 1 existir enquanto um campeonato organizado, a corrida já vinha sendo realizada e reunindo os principais nomes do esporte da época.

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Fangio desfilando todo o seu talento a bordo da Ferrari | 1956

Ao lado de Mônaco, cidades como Milão, Marselha, Lion, e até mesmo o Rio de Janeiro, recebiam corridas deste tipo, que reuniam montadoras do porte de Audi, Mercedes, Alfa Romeo, Maserati e Bugatti. Aliás, esse é um período em que os Grand Prix eram apenas corridas espalhadas por aí. E isso só foi mudar em 1950, com a fundação da Fórmula 1 – um campeonato, com regulamento próprio, calendário definido, sistema de pontuação uniforme, etc.

O fato de o Circuito de Mônaco ser o mais antigo e mais tradicional da Fórmula 1, obviamente tem o seu valor. Praticamente todo ano – infelizmente a corrida não pode ser realizada em 2020 – a Fórmula 1 tem um encontro marcado com suas origens, com seus heróis, e com o seu passado. E isso é muito importante para uma categoria que já tem seus 70 anos de história.

O traçado é praticamente o mesmo, desde 1929. Com exceção o trecho entre os S da piscina até a última curva, o restante da pista é exatamente o mesmo utilizado no início do século passado. Ter a oportunidade de assistir um carro atual de Fórmula 1 – com toda a tecnologia nele abarcada, chegando a quase 300km/h, elementos aerodinâmicos e avanços mecânicos – desfilando pelas mesmas ruas que os canhões dos anos 30, as baratinhas dos anos 60, os carros asa dos anos 70/80 percorreram, é espetacular.

Curva da Tabacaria | 1968

Nomes como Fangio, Clark, Hill, Stewart, Lauda, Senna, Prost, Schumacher e Hamilton, entre outros, percorreram exatamente essas mesmas ruas. Saint Devote, Cassino, o hairpin, o túnel, a chicane, a curva da Tabacaria. Cada um a seu tempo, controlando com destreza e maestria máquinas complexas, pondo à prova seu talento e habilidade.

Jackie Stewart | 1970

Mônaco representa um desafio diferente a todos os envolvidos com a categoria. Pilotos, engenheiros, mecânicos. Em Mônaco, o importante não é ser o mais rápido sempre. É ser o mais preciso. É conviver melhor com a pressão. Tomar as melhores decisões da forma mais rápida. É conviver por um final de semana inteiro flertando com o perigo, deixando marcas de borracha no guard-rail em busca de centésimos de segundo. Clique e veja o gif:

Senna bastante atarefado ao volante | 1990

Não se trata de ter o motor mais potente, tampouco ser o mais veloz em linha reta. O que importa é a agilidade. Conseguir contornar as curvas estreitas e fechadas da maneira mais rápida. É uma prova absolutamente mental. É manter os níveis de concentração e percorrer o mesmo traçado sem qualquer erro por 78 voltas. Não tem essa história de limites de pista. Em Mônaco, o limite da pista é o muro. Perdeu a concentração? Muro. Ayrton Senna que o diga.

Kimi Raikkonen | 2017

O mesmo Ayrton Senna que venceu esta corrida por seis vezes. Além disso, Senna teve atuações memoráveis em 1984 – quando o brasileiro ainda pilotava para a Toleman, e realizou manobras de ultrapassagens ousadas em cima de pilotos como Niki Lauda e chegou na segunda colocação – e em 1992 – quando Nigel Mansell liderava a prova e precisou fazer uma parada não programada nos boxes, caindo para a segunda posição, atrás de Senna. Com uma McLaren, no mínimo, 2s mais lenta que a Williams do inglês, Senna pilotou com brilhantismo, soube posicionar seu carro nas ruas estreitas do principado, e bloquear qualquer tentativa de ataque de Mansell no final da prova.

Mansell x Senna | 1992

Se até aqui você ainda não está comigo nessa, tenho a acrescentar que correr sob condições tão peculiares, faz com que imprevistos ocorram mais vezes. A chance de acidentes e confusões aumenta consideravelmente, o que dá margem a resultados, digamos… inusitados. Já houve de tudo um pouco: onda do mar atingindo a pista na primeira volta e limando 9 carros de uma vez só (1950), piloto caindo com o carro no mar (1954), o líder da prova batendo o carro na última curva da última volta pra desviar de um retardatário (1970), cinco líderes diferentes nas últimas três voltas (1982), uma corrida com chuva repleta de acidentes e com um vencedor improvável (1996) e, certamente, outros momentos que eu porventura esteja esquecendo.

Fangio e a série de carros acidentados ao fundo | 1950

Para este que vos escreve, Mônaco é muito mais do que o glamour de um paddock cheio de gente famosa. Mônaco é o encontro do passado com o presente, um pedaço da alma deste esporte que a gente tanto ama.

E você, o que pensa sobre o Circuito de Mônaco?

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