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Por dentro dos circuitos: Ímola
Sabendo toda a história por trás desse circuito, fica muito melhor acompanhar a próxima etapa da F1
O Autódromo Internacional Enzo e Dino Ferrari, mais conhecido como Autódromo de Ímola, recebe a segunda etapa do mundial de Fórmula 1 de 2021. Vamos conhecer um pouco mais sobre este lugar?
ANTES DE COMEÇAR A FALAR SOBRE A PISTA EM SI, É IMPORTANTE RESPONDER: QUEM FORAM ENZO E DINO FERRARI?
Dino Ferrari era o único filho legítimo de Enzo Ferrari, fundador da Ferrari, e faleceu muito jovem, em 1956, devido a uma distrofia muscular. Com a comoção entorno de sua morte, o autódromo passou a levar seu nome. Com o falecimento de Enzo Ferrari, em 1988, o autódromo também levou o nome do dirigente italiano.
HISTÓRIA
A pista foi fundada no ano de 1953 e, inicialmente, recebia apenas corridas regionais de carros e motos. Em 1963 a F1 realizou uma corrida extracampeonato no local, e a vitória ficou com o escocês Jim Clark. Em 1979, após uma extensa reforma no traçado em si, e nos boxes – os mais modernos da Europa à época, a F1 retornou ao circuito para a realização de mais uma prova que não valia pontos para o campeonato. Todos gostaram do resultado dos ajustes, principalmente Niki Lauda, vencedor do GP Dino Ferrari.
Com o sucesso do evento-teste de 1979, a Fórmula 1 passou a fazer de Ímola uma parada obrigatória. Em 1980, com o nome de GP da Itália, foi realizada a primeira prova válida pelo campeonato de F1 no local, e a vitória ficou com Nelson Piquet, então na Brabham.
A partir de 1981, o GP da Itália voltou a ser realizado em Monza, e Ímola passou a receber o GP de San Marino. Ímola fica em San Marino? Não. Fica próximo de San Marino? Mais ou menos. Mas, foi essa a solução encontrada à época para a realização de mais de uma prova da F1 num mesmo país.
A F1 correu no local de forma regular até 2006. Por ser um circuito muito próximo à sede da Ferrari, é considerado a casa dos Tifosi. Em 1983, inclusive, os espectadores que estavam presentes no autódromo foram à loucura com o abandono do italiano Riccardo Patrese, que corria pela Brabham. É que isso deu a liderança da corrida à Ferrari de Patrick Tambay, vencedor da prova. Patrese, que nunca pilotou pela Ferrari, que nunca escondeu a chateação pelo episódio.
O contrato entre a F1 e o circuito chegou ao fim em 2006, e não foi renovado. Afinal de contas, a pista já estava um pouco ultrapassada para a F1 e, claro, os petrodólares do Oriente Médio eram bem mais interessantes do que correr em um circuito que já estava em decadência.
E assim ficamos até o ano de 2019. Em 2020, como vocês sabem, a F1 precisou rebolar para formar um calendário com 17 etapas devido à pandemia, e Ímola passou a figurar como uma possibilidade para a categoria, já que não havia a possibilidade de a F1 visitar a Ásia ou as Américas. Com o cancelamento dos GPs da China e do Vietnã, Ímola volta a figurar no calendário da F1.
O TRAÇADO
Inicialmente, Ímola era um circuito muito veloz e fluído. No entanto, a segurança não era o seu forte. Os pilotos precisavam ser muito precisos, pois cada erro poderia ser fatal.
Devido à gravidade de acidentes, e também para se preparar para receber a Fórmula 1, o traçado do circuito passou por algumas alterações para reduzir as velocidades dos carros. Foram criadas, então, a Variante Alta e a Variante Bassa.
Em 1981, foi realizado um pequeno ajuste, e a curva Acqua Minerali passou a contar com uma chicane em sua entrada, também para reduzir as velocidades dos carros em curva.
É importante lembrar a você, leitor ou leitora do Portal Rondon, que naquela época, os carros eram projetados com base em um conceito chamado ‘efeito-solo’. Dessa forma, os carros geravam muito mais pressão aerodinâmica pelo assoalho do carro e, com isso, os carros contornavam as curvas com muito mais velocidade do que antigamente. A F1 estava descobrindo seus limites.
Entre 1981 e 1994, o traçado permaneceu o mesmo. Um primeiro trecho muito veloz, seguido por um trecho bem técnico, com retas curtas e freadas fortes. Alguns acidentes bem fortes ocorreram nesta configuração de pista. Em 1987, 1989 e 1992 houveram fortes acidentes na curva Tamburello envolvendo, respectivamente, Nelson Piquet, Gerhard Berger e Michele Alboreto. O acidente de Alboreto, inclusive, foi muito semelhante ao acidente sofrido por Ayrton Senna dois anos depois. Entretanto, nada foi feito e a configuração seguiu a mesma.
Até que o GP de San Marino de 1994 aconteceu, e toda a série de acontecimentos negativos daquele fim de semana mudaram completamente o autódromo de Ímola e, por consequência, toda a F1.
O GRANDE PRÊMIO QUE MUDOU A HISTÓRIA DA FÓRMULA 1
Caso você esteja se perguntando o que houve naqueles dias, eu explico. Na sexta-feira, Rubens Barrichello sofreu um forte acidente na entrada da Variante Bassa, e foi direto nas telas de proteção. Rubens ficou desacordado por seis minutos, enquanto aguardava o resgate. Além disso, ele também quebrou o nariz, trincou uma costela e ralou o braço.
No dia seguinte, sábado, foi a vez de o austríaco Roland Ratzenberger sofrer um grave acidente. A asa dianteira do seu Simtek Ford se rompeu a 324km/h, e o piloto não conseguiu frear a tempo de evitar a batida. As cenas do acidente foram muito fortes. O piloto chegou a ser socorrido, mas chegou sem vida ao hospital.
No domingo, apesar da pressão para os pilotos não correrem, houve uma corrida de Fórmula 1 mesmo assim. Logo na largada, um forte acidente envolvendo os pilotos JJ Letho, da Benneton, e Pedro Lamy, da Lotus. Letho deixou o carro apagar na largada, e Lamy não conseguiu desviar a tempo. Com o impacto, pedaços dos dois carros voaram por cima das telas de proteção e atingiram alguns espectadores que estavam nas arquibancadas. Safety Car acionado. E na volta 6, quando a corrida foi retomada, Ayrton Senna escapou da pista na curva Tamburello e sofreu o acidente que lhe tirou a vida.
A corrida foi interrompida, e após o resgate de Senna – quando um helicóptero pousou na pista – a corrida foi retomada. Como se não bastasse todos os incidentes que haviam ocorrido até o momento, na volta 48, o piloto italiano Michele Alboreto levou sua Minardi aos boxes, para troca de pneus e abastecimento. No entanto, a roda traseira direita de seu carro estava solta e, com a velocidade – lembre-se que não havia limite de velocidade nos boxes na época – o pneu saiu pulando pelo pit-lane e acabou atingindo dois mecânicos da Ferrari e outros dois mecânicos da Lotus. Neste incidente, ninguém se feriu com gravidade, fora só um susto.
O AUTÓDROMO DE ÍMOLA PÓS 1994
Imediatamente a F1 tomou medidas para ampliar a segurança. Introduziu o limite de velocidade nos boxes, e passou a dar maior atenção aos circuitos. Barcelona, Silverstone, Monza, Spa Francorchamps e Montreal foram alguns dos circuitos que passaram por modificações (temporárias ou permanentes).
E é claro que Ímola não ficaria de fora dessas mudanças. Aquele traçado fluido e com grandes trechos de aceleração passou a ser só uma lembrança do passado. As curvas Tamburello e Villeneuve – locais dos acidentes de Senna e Ratzenberger, respectivamente – que eram trechos de aceleração plena, passaram a ser trechos de baixa velocidade. A Variante Bassa, local onde Barrichello se acidentou, foi remodelada e ganhou mais segurança com uma zebra mais baixa e um único ponto de freada. E a Acqua Minerali perdeu a chicane da entrada, passando a ser uma curva bastante veloz.
Além disso, um monumento em memória de Senna e Ratzenberger foi criado. Todos os anos, uma legião de fãs vão até o circuito para celebrar o legado deixado pelos dois pilotos.
O circuito, então, passou a ter retas curtas e poucos pontos de ultrapassagem. Nem sempre foram realizadas corridas primorosas nesse traçado, é verdade. Mas dois momentos foram marcantes para mim nesta configuração:
Em 2003, Rubens Barrichello fez uma ultrapassagem digna de uma placa, de tão bonita que foi. O brasileiro ‘pedalou’ pra cima do alemão Ralf Schumacher, e conseguiu ganhar a posição.
Em 2005, Michael Schumacher e Fernando Alonso travaram um duelo de tirar o fôlego pelas últimas 15 voltas da corrida. Ao final, Alonso venceu por uma diferença mínima. Para mim, este foi o momento em que Schumacher passou o bastão para Alonso e a nova geração de pilotos que estava começando a crescer na F1.
Em 2006 foi realizado o último GP de San Marino. O circuito já estava um pouco defasado para o padrão das corridas que estavam entrando para o calendário da F1 (Sepang, Bahrein, China e Turquia) e precisava de vários ajustes. Além disso, a Itália já não era um mercado tão atrativo para a F1, e o contrato não foi renovado.
PÓS 2006
Após 2006, o autódromo passou por uma série de reformas que o deixaram novamente apto a receber uma corrida da principal categoria do esporte a motor. No traçado, a novidade passou a ser a remoção da Variante Bassa, trazendo um longo trecho de aceleração plena entre a saída da curva Rivazza, e a entrada da Tamburello. Além disso, os boxes foram totalmente remodelados, e uma nova torre de cronometragem também foi construída.
A atual configuração do traçado conta com 19 curvas, sendo 12 para a esquerda e 9 para a direita. A pista não oferece muitos pontos de ultrapassagem, e a freada para a Tamburello é a melhor oportunidade. Um carro de F1 atualmente chega a aproximadamente 320 kmh durante a classificação, e a volta mais rápida da atual versão do circuito pertence a Lewis Hamilton, com o tempo de 1min15s484.
Agora que você já sabe toda a história por trás desse circuito, fica muito melhor acompanhar a próxima etapa da F1, não?