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Setembro Amarelo: informação é a solução

O mês de setembro, também chamado de setembro amarelo, é dedicado a prevenção do suicídio

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|Foto: Alesp /Divulgação|
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Em uma supervisão de assessoria emocional recebi uma mãe para conversar. Ela narrou algo que me deixou profundamente intrigado. Chegou até suas mãos um livro, com título sugestivo sobre suicídio (por questões de direitos autorais não citaremos o título), parecia ser um manual de suicido para adolescentes.

O livro trazia passos e métodos indolor e tinha por narrador e personagem principal um “fantasma” que havia tirado sua vida e agora motivava outros a tirarem suas vidas para lhe fazerem companhia. Fiquei estarrecido com o conteúdo do que não nos convém nem chamar de obra literária.

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Vivemos o pós pandemia, uma pandemia silenciosa e invisível de depressão, ansiedade e suicídio. Mais alarmante que isso é que essa crise emocional que vivemos está apenas no começo.

O mês de setembro, também chamado de setembro amarelo, é dedicado a prevenção do suicídio. A melhor forma de prevenção é a informação e o diálogo. A cada 40 segundos uma pessoa tira a vida, a cada 80 segundos uma pessoa tenta tirar a vida e não consegue.

Aproximadamente 87% das pessoas pós pandemia irão apresentar alguma sequela emocional que pode conduzir a depressão crônica. Ainda em 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados com um acompanhamento sério da família, amigos e profissionais.

Falar sobre suicídio é um tabu, mesmo em nossos dias. O assunto é conturbado e por sua vez coberto de preconceitos e julgamentos. Grupos minoritários se tornaram vulneráveis e suscetíveis à depressão, e por consequência, aos desdobramentos que essa doença traz.

Historicamente falando esse é um assunto proibido. As famílias que foram atingidas com esse mal, tratam o assunto de maneira muito velada. Isso, porque o suicídio vem acompanhado de uma carga emocional tão grande que é difícil discernir e falar.

Sobre a família é importante dizer que muitas vezes ela não se dá por conta da realidade minimizando os sinais por falta de informação ou medo de tocar no assunto.

A Igreja, por sua vez, durante muitos anos lidou com esse assunto de maneira nada pastoral e, porque não dizer, nada amorosa. Basta lembrar que por muitos anos os suicidas eram sepultados do lado de fora dos cemitérios e sem direito à assistência religiosa. Estes atos só aumentavam a dor dos familiares e potencializavam os julgamentos.

Somente na Reforma Protestante que passamos a ter uma compreensão diferente do assunto. No filme Lutero, observamos o Reformador, sepultando um adolescente suicida, no cemitério cristão. Na sequência ouvimos uma homilia onde Lutero trabalha o suicídio de maneira pastoral. Observamos nesse gesto de Lutero, dois elementos significativos: Amor e Verdade. Amor manifestado no ato das Exéquias, Verdade na Homilia, que não encobriu o fato, que já era público, mas trabalhou de maneira clara a luz das Escrituras.

É claro que esse gesto que a Reforma Protestante trouxe só foi possível por conta da compreensão da Teologia da Graça redescoberta através das Escrituras. (Mesmo não sendo uma cena historicamente comprovada que tenha acontecido, sabemos que no decorrer da história da Igreja Luterana, essa foi uma prática adotada e difundida).

Ainda convém desmistificar que falar sobre suicídio é algo negativo, ou como outras pessoas dizem, pode até incentivar. Isso na verdade é um mito. Falar abertamente sobre suicídio, sinais e maneiras de ajudar são, na verdade, as ferramentas mais eficazes para que pessoas em sofrimento consigam sair dessa prisão sem grades.

A verdade sempre liberta, João 8.32. É bem verdade que a depressão é o mal dos nossos dias e que a maioria dos casos de suicídio está ligado à depressão. Já no meio evangélico, como vimos nos últimos anos uma série de pastores cometendo suicídio, podemos perceber que a falta da compreensão da Teologia da Graça, fez com que muitos entrassem nesse “barco furado”, por não saberem lidar com seus conflitos pessoais e vicissitudes humanas. Associado a isso, o legalismo da leitura equivocada das Escrituras, (que é nada mais do que a falta da compreensão da Graça de Deus), juntamente com o julgamento insano. de quem parece ser invulnerável, só agravam os casos.

O suicida em potencial dá sinais. Ele começa com a ausência do sentimento de vontade de viver, passando pelo pedido de que Deus tire a sua vida. Geralmente adota comportamentos de risco que colocam a vida em perigo (drogas, sexo, velocidade etc), autoflagelo (muito comum em adolescentes e jovens) até tentativas de morte.

É importante dizer que o suicida em potencial não é alguém que quer chamar a atenção. Ele, na verdade, está com uma dor tão profunda incompreensível na alma que não sabe como fazer para acabar com ela. O suicida em potencial não quer tirar a vida, ele quer acabar com a dor, mas ele não sabe como e, assim, nesse processo nebuloso, a realidade fica distorcida e os sentimentos confusos. Então, ele vê na morte a “porta de saída.” É dessa maneira que, infelizmente, muitos acabam, vendo a morte como sua única saída e o suicídio como sendo a única forma de resolver suas crises existenciais.

Quando alguém comete suicídio, na verdade, nunca acaba com a dor. O que acontece é que a dor da alma daquele que tirou a própria vida é como se fosse transferida emocionalmente para a alma daqueles que o amavam e que ficaram. Quem fica, sente na mesma intensidade a dor que sentia aquele que partiu. Isso significa que a dor para quem fica é potencialmente tão intensa quanto a dor que levou a pessoa a cometer esse ato contra a própria vida. Mais do que a dor para os que ficam, o sentimento de culpa e impotência diante do fato, são expressados por questionamentos e perguntas sem respostas, que necessitam ser tratadas em meio ao processo do luto.

Quando alguém comete suicídio, a família toda sofre e sente-se fragilizada e precisa ser cuidada.

Famílias de suicidas criam traumas equivalentes a sobreviventes de guerras, contudo com o peso invisível da culpa em seus ombros.

Prevenir sempre é a melhor opção, portanto:

  • • Não minimize a dor dos outros;
  • • Não diga que é frescura;
  • • Procure colocar-se no lugar do outro;
  • • Esteja pronto a ouvir e tardio para julgar;
  • • Estenda a mão;
  • • Faça-se presente na vida de pessoas em sofrimento;
  • • Encaminhe para ajuda especializada (médicos, psicólogos, psicoterapeutas, reverendo que entendam do assunto);
  • • Encaminhe para ajuda especializada (médicos, psicólogos, psicoterapeutas, reverendo que entendam do assunto);
  • • Não tenha medo das medicações;
  • • Não abandone os tratamentos com remédios e terapia;
  • • Procure fazer atividades físicas e ocupar a mente com projetos ligados à vida e auxílio de outras pessoas;
  • • Procure uma Igreja onde você possa exercer a fé de maneira saudável e conforme as Escrituras;
  • • Lembre-se você não está sozinho.

Mario M. de Melo é formado em Teologia, pós graduado em Psicologia. Especialista em transtorno de personalidade. Professor, Pastor, Capelão e Terapeuta. Idealizador do conceito de Grace theo therapy.

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