Mundo
Etíopes enfrentam deserto, guerra e criminosos para chegar à Arábia Saudita
Todo os anos, milhares de imigrantes trilham a arriscada jornada de mais de 2 mil km. Muitos não chegam ao destino final.
Todo os anos, milhares de imigrantes da Etiópia trilham o caminho de mais de 2 mil km entre seu país e a Arábia Saudita.
No percurso, enfrentam os perigos de atravessar montanhas, desertos, o Mar Vermelho e uma zona de guerra no Iêmen.
“Desde que voltei, tenho avisado todo mundo: “Não tomem esse caminho”, diz o etíope Mustafa Djamal, que tentou fazer a travessia em 2020 e acabou sendo deportado.
“Ou conseguimos [terminar a travessia] ou morremos”, diz outro imigrante.
Quem decide fazer a viagem segue a pé por uma antiga rota de comércio de escravizados, que tem centenas de quilômetros.
Eles atravessam o deserto do Djibuti, país ao nordeste da Etiópia, até chegar ao litoral.
Durante o caminho, muitos não resistem ao calor de até 50 graus.
“Há pessoas que não entendem o calor. Eles começam a viagem só com uma garrafa de água e, após chegarem na metade do caminho, nem têm como voltar, nem conseguem chegar ao fim da travessia. Então continuam andando, ficam desidratados e acabam morrendo” explica Lucien, ex-traficante de pessoas que atua no Djibuti.
Chegando à costa, os que sobrevivem precisam cruzar o Mar Vermelho até o Iêmen, onde têm de atravessar uma zona de guerra para chegar ao destino final.
Eles entregam toda a confiança, o dinheiro e as próprias vidas nas mãos de traficantes de pessoas. Além da fome, do calor e da desidratação, os imigrantes enfrentam outros perigos no novo país.
“Aqui no Iêmen, quando veem imigrantes andando pela estrada, eles sequestram. Se não têm dinheiro, precisam pedir à família. E são torturados”, diz Ibrahim, traficante de pessoas no Iêmen.
Entre os que conseguem chegar ao país, alguns ficam sem recursos para pagar traficantes e acabam tendo de interromper a viagem e viver nas ruas da capital, Áden.