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O caso Edna Storari: veja detalhes da história e da investigação

A redação do Portal Rondon teve acesso a documentos da investigação e traz detalhes do caso para os internautas

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Luiz Carlos Mendes Rissato e a companheira, Edna Storari, desaparecida no dia 21 de setembro de 2021
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Marechal Cândido Rondon acompanha, desde setembro, o desenrolar de uma história que pode ser de um dos crimes mais macabros do Brasil nos últimos dez anos. Semelhante ao desaparecimento e morte de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, inicialmente, o desaparecimento da empresária rondonense Edna Storari foi noticiado sem suspeitas de um crime.

A redação do Portal Rondon teve acesso a documentos da investigação e traz detalhes do caso para os internautas.

Family Pets

No dia 27 de setembro, uma das duas filhas de Edna, deslocou-se da cidade de Pérola do Oeste-PR, onde vive, para Marechal Cândido Rondon, com o intuito de dar queixa do desaparecimento da mãe e comentou sobre suas suspeitas em relação ao companheiro de Edna. Ela contou, na delegacia, que a última conversa que teve com a mãe por WhatsApp foi esquisita. Edna apenas disse que se afastaria por um bom tempo, para fazer uma viagem à cidade de Assunção, no Paraguai. Essa viagem, segundo a mensagem, fazia parte de uma missão da igreja que ela frequentava.

As filhas estavam sem notícias da mãe há seis dias, e isso era muito estranho para elas, pois, conversavam frequentemente pelo WhatsApp e Edna não fazia viagens longas, porque era muito dedicada e preocupada com a empresa.

“Ela não largaria tudo da noite para o dia. Todos sabiam que ela tinha vontade de participar de missões, mas não tinha nada planejado e nunca havia participado de uma”, comentam as testemunhas.

O que deixou a filha com a “pulga atrás da orelha” mesmo foi o fato de “Edna” dizer que deixaria o seu celular em casa, com o companheiro dela, Luiz Carlos Mendes Rissato.

PRIMEIRO DEPOIMENTO DO SUSPEITO

Depois de tomar conhecimento dos fatos relatados, um investigador da Polícia Civil de Marechal Cândido Rondon acompanhou a filha até a residência do casal, no Bairro Alvorada, Loteamento Luciana I. Neste momento, as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas.

Primeiro, Luiz demorou para abrir a porta. Quando saiu de dentro de casa, disse ao investigador que estava a caminho da delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência sobre o desaparecimento da companheira.

Na delegacia, Luiz contou ao delegado Rodrigo Baptista Santos que, no dia do desaparecimento de Edna (21 de setembro), ele saiu de casa por volta das 16h45 e quando retornou, às 18h45, Edna não estava mais na residência. Contudo, de acordo com a história inventada pelo suspeito, ele não se preocupou com a esposa porque já sabia que ela iria para a viagem da igreja com um casal de amigos de Guaíra, que ele não conhecia, e a esposa ficaria fora por aproximadamente 40 dias.

Quando interrogado sobre o celular que Edna teria deixado com ele, Luiz contou que não estava com o aparelho porque, naquela manhã, antes dela viajar, os dois foram juntos à uma loja de Assistência Técnica levar o aparelho para formatar.

Ele ainda contou que a companheira havia levado somente algumas roupas para a viagem e pelo menos R$ 17 mil reais em espécie. Mas, na verdade, as principais roupas dela estavam no guarda-roupa. A filha, que esteve junto com a equipe de investigação da Polícia Civil na casa, notou que tudo estava devidamente organizado nos cabides, inclusive, as maquiagens estavam no banheiro.

“Se ela tivesse viajado, teria levado pelo menos as maquiagens”, afirmou a filha no depoimento.

Neste momento, começaram a surgir novas suspeitas. Aliás, por que o marido estava registrando um B.O se ele sabia que Edna estava em uma missão da igreja no Paraguai?

FATOS E CONTRADIÇÕES

O companheiro de Edna contou para a Polícia histórias que não combinavam com a versão de nenhuma outra testemunha, nem com as provas que foram sendo obtidas ao decorrer da investigação.

A outra filha de Edna, que reside em Tapejara-PR também esteve em Marechal Cândido Rondon para prestar depoimento. Segundo ela, no dia 20 de setembro, de manhã, a mãe também lhe enviou uma mensagem avisando sobre a viagem. Além de estranhar o fato da mãe não ter comentado nenhuma vez sobre essa viagem anteriormente, a filha encontrou vários erros de português nos textos “escritos pela mãe”, inclusive o nome de sua irmã estava escrito errado.

Então, ela foi até a igreja que a mãe e o companheiro frequentavam e descobriu que sua intuição não estava equivocada: não havia viagem marcada, muito menos uma missão no Paraguai.

A filha precisava continuar ajudando a Polícia a buscar a verdade. Foi também procurar uma amiga da mãe que, igualmente, havia recebido uma mensagem com o número telefônico de Edna falando sobre a tal viagem. O mais estranho é que essa amiga teria encontrado Edna no dia 19 de setembro, à noite, e em nenhum momento a vítima comentou sobre a missão.

“Na manhã do dia 20, lá pelas 11 horas, recebi as mensagens ‘da Edna’ relatando sobre a tal viagem, o que me causou estranheza, mas imaginei que ela fosse passar na minha casa mais tarde para me contar direito, e isso não aconteceu”, contou a amiga da vítima.

Depois de prestar seu primeiro depoimento sobre o desaparecimento da esposa, Luiz iniciou tentativas de apagar provas de um possível crime, como afirmou o delegado durante as investigações, e foi aumentando o número de suspeitas em torno de si mesmo e de seus filhos.

Pelo bairro, Luiz foi procurar casas em que haviam sistema de monitoramento. Duas residências vizinhas à casa deles têm câmeras de segurança. Luiz foi em vários vizinhos pedir sobre as imagens captadas recentemente. Ele fez um pedido esquisito aos vizinhos: que apagassem o histórico das câmeras dos últimos dias. Segundo ele, bandidos estavam extorquindo-o para apagar as imagens.

Até então, nenhum dos moradores da vizinhança suspeitava de que havia algo errado na casa. Edna e Luiz eram vistos como um casal que trabalhava junto com seus micro-ônibus e eram reservados. Os vizinhos nunca souberam nem ouviram brigas ou algo do gênero entre eles.

“Nunca vimos nada de ruim ou estranho entre eles. Aliás, pelo contrário… eles trabalhavam juntos, saíam juntos para caminhar, mantinham uma horta no terreno ao lado da casa da esquina… Nunca se viu uma briga sequer. E a relação com a vizinhança era mínima. Alguns moradores do bairro nem sabiam que a empresária desaparecida era vizinha deles”, contam os moradores do bairro com quem o Portal Rondon conversou.

Edna e Luiz eram discretos e não interagiam muito com a vizinhança. Inclusive, os vizinhos relatam que até a prisão do suspeito, a movimentação da casa continuou igual, com as saídas veículos de transporte nos horários de sempre.

“O que mudou é que, de uma hora pra outra, pessoas diferentes estavam dirigindo os micro-ônibus, mas pensamos que a Edna e o Luiz tinham saído de férias […] Dias depois percebemos que o Luiz estava em casa e a filha dele estava dirigindo no lugar da Edna. Mas até a Polícia aparecer nas nossas casas não suspeitamos de nada grave”, contam os vizinhos.

A presença frequente da Polícia no bairro fez com que as pessoas começassem a desconfiar de que alguma coisa estava errada. Em todas as casas que o suspeito foi pedir pelas imagens das câmeras, ele contava uma história diferente, se contradizendo o tempo inteiro.

Com o intuito de convencer os vizinhos a fazer o que ele pedia, Luiz teria dito que a esposa havia ido embora com medo “dos bandidos, que tentaram arrombar a casa deles e estavam extorquindo o casal”. Noutra casa do bairro, ele apenas queria saber se haviam câmeras porque alguém teria tentado arrombar a residência. “Ele parecia nervoso”, contam os vizinhos.

“Edna era simpática. Luiz sempre estava com a cara fechada. Só foi simpático quando veio perguntar das câmeras”, a vizinhança comentou com o Portal Rondon.

Outra versão contraditória desvendada logo no início da investigação foi sobre a saída de Luiz na tarde do desaparecimento. As câmeras de segurança da vizinhança captaram apenas dois homens deixando a residência às 15h56 e retornando às 18h50 e, neste intervalo, mais ninguém saiu do local, nem o Luiz.

Sobre o celular de Edna, o proprietário da loja de manutenção e reparos onde o suspeito do crime disse que foi com a esposa a fim de deixar o celular para formatar, negou tê-la visto. O homem disse que Luiz estava sozinho quando levou e quando buscou o celular. Segundo o depoimento do assistente técnico, Luiz queria que o aparelho fosse completamente formatado, para ficar “tudo limpo”.

As filhas dizem que, toda vez que perguntavam notícias de Edna para o companheiro, depois do desaparecimento dela, ele dizia coisas diferentes sobre horários, pessoas e a relação deles. No dia 25, ele contou que Edna ligou, mas teria proibido Luiz de passar informações dela para as filhas.

Os dias de investigação seguiam… e os boatos começaram a surgir na vizinhança, iam se espalhando pela cidade. E os vizinhos nunca mais viram a Edna em casa, muito menos chegando ou saindo.

Residência onde a vítima, Edna Storari, vivia com o companheiro

POSSÍVEL MOTIVAÇÃO DO CRIME

O casal, Edna e Luiz, se conheceu pela internet. Ela morava no Paraguai onde tinha uma loja, que foi fechada quando decidiu vir morar em Marechal Cândido Rondon com seu novo companheiro. Pelo Facebook, o Portal Rondon descobriu que estavam juntos desde 2012.

Luiz era proprietário de uma empresa desde 2006. De acordo com as consultas feitas, essa empresa está inativa desde 2018.

Edna Storari tinha em seu nome a empresa denominada E.S. Trans Lugui desde 2013. A principal atividade da empresa é o transporte escolar e o transporte rodoviário coletivo de trabalhadores. Em 2016, porém, conforme registros encontrados no © Transparência CC – Dados de Interesse Público, a empresa E Storari E Cia Ltda foi fundada no nome de Edna. Desta, Luiz Rissato é descrito como sócio da empresária. As duas continuam com o cadastro ativo.

Um dos possíveis motivos para a vítima ter desaparecido, segundo testemunhas, é que o casal estava em processo de separação, mas não havia acordo na divisão dos bens. Inclusive, essas testemunhas informaram que há suspeita de que Luiz poderia estar mantendo uma relação extraconjugal, mas não queria se separar para não sair perdendo financeiramente.

Na igreja que Edna e Luiz frequentavam, eles tinham até procurado aconselhamento devido aos problemas conjugais.

Conforme o delegado Rodrigo Baptista Santos relatou nas coletivas de imprensa, testemunhas afirmaram que Edna estaria sendo ameaçada pelo companheiro e estava sofrendo pressões psicológicas devido à vontade dela de terminar o relacionamento.

Segundo depoimentos, o suspeito teria, inclusive, tentado fazer Edna assinar um documento lhe dando poderes para gerenciar a empresa. A própria vítima estaria desconfiada do companheiro, pois, descobriu que havia sido medicada com calmantes para Luiz obter sucesso na ideia da transferência de poderes.

O CRIME

O desaparecimento de Edna Storari foi noticiado pelos meios de comunicação rondonenses no dia 29 de setembro. As informações que a imprensa tinha é de que ela teria saído de casa sem celular e avisado o marido que iria para uma viagem através da igreja.

A Polícia Civil já estava investigando o caso há dois dias, desde que a filha foi dar queixa na delegacia.

No dia 07 de outubro, a prisão temporária de Luiz foi decretada, e foi considerada uma medida extrema. Porém, era fundamental para o andamento dos trabalhos de investigação. Em liberdade, ele poderia fugir ou influenciar as testemunhas a prestarem depoimentos ao seu favor, além de destruir outras provas, como fez com o celular da vítima.

No dia 26 de outubro, policiais civis e três peritos do Instituto de Criminalística, realizaram uma série de diligências para o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra pessoas próximas ao investigado: seus dois filhos e o noivo da filha de Luiz. Uma perícia técnica foi realizada na residência da vítima, no Bairro Alvorada e nos veículos da empresa do casal.

Os peritos utilizaram a técnica de luminol, que é um pó formado por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio diluído em água oxigenada. Essa solução, quando borrifada nos locais suspeitos, reage em contato com o ferro presente na hemoglobina do sangue e libera uma luz azulada, suficientemente forte para ser vista no escuro e encontrar possíveis vestígios de sangue. Em partes de três micro-ônibus da empresa de Edna e em dois locais no quarto da vítima a luz azul do luminol foi detectada. Porém, o resultado final do laudo ainda não saiu.

No último dia 02 de novembro foi decretada a prisão preventiva (sem data para acabar) de Luiz, que estava preso apenas temporariamente, e também da sua filha e o noivo dela, além do filho do principal investigado. Também foram apreendidos aparelhos telefônicos, cujo exame dos dados foi feito após a autorização do juiz .

“É um caso de extrema gravidade que ocorreu aqui na nossa cidade, comparado ao caso Eliza Samúdio do goleiro Bruno, em que o corpo não é revelado pelas partes envolvidas. Contudo, nós conseguimos juntar elementos suficientes para que a gente possa fazer todo o indiciamento dessas pessoas envolvidas”, o delegado Rodrigo Baptista Santos afirmou no dia das prisões.

Depois de receber autorização do juiz de Direito da Comarca de Marechal Cândido Rondon, Clairton Mário Spinassi, para verificar os aparelhos de celular dos suspeitos no envolvimento do caso de feminicídio, a investigação tomou outros rumos. Mesmo com possíveis provas do crime presentes nas mensagens “relembrando de algo que o filho e o pai tinham combinado de fazer em algum dia depois do desaparecimento da Edna” os suspeitos continuaram negando qualquer possibilidade de terem cometido o crime. Eles também negam a conversação.

“Não tô sabendo dessas mensagens”, relatou o filho do investigado no depoimento.

Pela cidade, há comentários de que Edna tenha sido morta, esquartejada e as partes de seu corpo queimadas na caldeira de uma empresa localizada entre a cidade de Quatro Pontes e Novo Sarandi-Toledo. A versão não está descartada, pois, um dos depoentes do caso, supostamente, teria visto Luiz jogando uma sacola na caldeira, sem prévia autorização. Além disso, há vestígios encontrados nos micro-ônibus e no quarto da vítima, que ainda não se sabe o que são.

Muitas provas puderam ser obtidas nesse processo de investigação. Veja o documento na íntegra clicando aqui.

Mesmo assim, os suspeitos continuam negando o crime. Contudo, cada um deles poderá responder conforme a sua suposta participação nos crimes de Feminicídio, Ocultação de cadáver e Fraude Processual.

O Portal Rondon entrou em contato com o delegado Rodrigo Baptista Santos na quarta-feira (08) para saber mais detalhes do caso, porém, ele optou por não se pronunciar.

“Somente na sexta-feira (10) voltaremos a falar do caso”, adiantou o delegado.

Faltam menos de dez dias para finalizar o inquérito. A princípio, as investigações apontam para um crime horrendo. Após finalizado o inquérito, ele será enviado ao Judiciário e ao Ministério Público, com os devidos indiciamentos de cada um.

A única coisa que a família espera é que, se Edna estiver morta, o corpo seja encontrado para que possam realizar um sepultamento digno.

“Tem sido os piores dias que já passamos. A incerteza do que de fato aconteceu… Queremos justiça, e que os culpados paguem pelo que fizeram”, afirmam desolados os familiares da vítima.

A sociedade está chocada com cada resultado apresentado pela investigação.

ATUALIZAÇÃO

Na sexta-feira (10), foi realizada uma coletiva de imprensa na delegacia e o delegado deu mais detalhes sobre o final do inquérito. Foram divulgadas mensagens trocadas entre Luiz e o filho e um áudio em que Edna diz para uma amiga que o companheiro era vingativo. Veja a matéria clicando aqui.

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