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‘Errei’, diz técnico que desativou áudio do palco durante incêndio na Kiss

Venâncio da Silva Anschau, testemunha da defesa de Marcelo de Jesus, é o primeiro ser ouvido nesta terça (7), sétimo dia de julgamento. Ele chorou ao relatar que fechou o som do palco.

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Venâncio Anschau, técnico da banda Gurizada Fandangueira — Foto: Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul/Reprodução
SF CONSTRUTORA NOTICIA

O julgamento da boate Kiss, em Porto Alegre, começa às 9h desta terça-feira (7) com o depoimento do ex-técnico de som da banda Gurizada Frandangueira, Venâncio da Silva Anschau, de 40 anos.

Questionado pelo juiz Orlando Faccini Neto se alguém havia alertado o público sobre o incêndio no palco, Venâncio contou que desligou o áudio do ao ver que o fogo tinha iniciado.

Ótica da Visão

“Eu não tenho dimensão, não imagino o que esteja do que aconteceu e eu desligo os microfones. Eu desabilitei. Errei”, disse, chorando.

Ele confirmou que já havia visto a banda usando artefatos pirotécnicos anteriormente, tanto na Kiss quanto em outros locais.

No dia da tragédia, ele afirma que não viu o fogo iniciando. “Olho pro palco e Marcelo [de Jesus, vocalista e um dos réus] e Márcio [irmão de Marcelo, percussionista da banda e depoente no processo] se direcionam à esquerda do palco, olham pra cima e gesticulam. Alguém sobe no palco, de fora. Ela tem um extintor. E eu fecho o áudio da banda. Não sabia o que tava acontecendo”, relatou.

Venâncio também contou que ele e os integrantes da banda gritavam para quem estava próximo sair após o início do fogo.

“Eu mal percebo uma circunferência de fogo, um princípio de incêndio, pequeno, menos de um palmo”, descreveu. O extintor utilizado não funcionou, segundo a testemunha.

Anschau explicou que fechou o áudio por uma questão técnica. A banda iniciava o show com os microfones fechados e eles eram abertos posteriormente, com o andamento da apresentação. Uma tecla na mesa de áudio servia de atalho para isso fosse feito de forma rápida.

Antes de perceber o incêndio, o técnico optou por fechá-los. Disse que fez isso porque viu que algo acontecia no palco, mas não sabia o que era.

“Podia ser de alguém ter invadido o palco, aí, era rápido de fechar o áudio”, conta. Ele afirma que não tinha visão do palco de onde trabalhava.

Venâncio teve problemas respiratórios e precisou de internação. No júri, ele relatou que poucos dias depois do incêndio, sua filha nasceu.

Depois dele, devem ser ouvidos ainda Nivia da Silva Braido, arquiteta indicada pelo Ministério Público, e Gerson da Rosa Pereira, arrolado pela defesa de Elissandro Spohr. Pereira era comandante do Corpo de Bombeiros de Santa Maria.

O que disseram os sobreviventes

  • Kátia: ‘comecei a gritar que não queria morrer’, diz ex-funcionária que teve corpo queimado
  • Kelen: ‘última vez que corri foi para tentar me salvar’, diz sobrevivente que teve perna amputada
  • Emanuel: ‘não soou alarme’, conta sobrevivente especialista em prevenção de incêndio
  • Jéssica: ‘vi quando pegou a faísca’, conta sobrevivente que perdeu irmão
  • Lucas: ‘eu desmaiei, fui muito pisoteado’, diz DJ da boate
  • Érico: ‘ajudei até o final’, conta barman que ajudou no socorro às vítimas
  • Maike: ‘parecia que estava respirando fogo’
  • Cristiane: ‘aquilo era um filme de terror’
  • Delvani: ‘fui caindo e me despedindo da minha família’
  • Doralina: ‘lembro de muito grito, muita confusão’, diz ex-segurança
  • Willian Renato: ‘Ele queria voltar’, diz sobrinho sobre Kiko Spohr
  • Nathália: ‘fiquei preocupada com a gravidez’, relata esposa de Kiko sobre incêndio

O que disseram as testemunhas

  • Engenheiro diz que sugestão de sócio para instalar espuma acústica era ‘leiga e ignorante’
  • ‘Artefatos não podem ser usados em ambiente fechado’, diz gerente de loja
  • Juiz transforma testemunha em informante após filha postar ‘apodreçam na cadeia’
  • ‘Ele sofre por isso’, diz ex-patrão de vocalista da banda ouvido em audiência
  • ‘Não era de costume informar as casas’, diz testemunha de defesa sobre o uso de fogos nos shows
  • Testemunha é convertida em informante por responder a processo por falsidade ideológica ligado à boate
  • Promotor de eventos: ‘Alguma coisa me tirou de lá’
  • Irmão do vocalista da banda: ‘nós não quisemos matar ninguém’

Quem são os réus?

  • Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
  • Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
  • Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
  • Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda

Entenda o caso

Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.

Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate”.

Já Marcelo e Luciano foram apontados como responsáveis porque “adquiriram e acionaram fogos de artifício (…), que sabiam se destinar a uso em ambientes externos, e direcionaram este último, aceso, para o teto da boate, que distava poucos centímetros do artefato, dando início à queima do revestimento inflamável e saindo do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, já que tinham acesso fácil ao sistema de som da boate”.

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