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Saúde

Entenda como funciona o implante para tratamento da depressão grave

Tratamento é indicado a pessoas com quadro resistente, que não respondem às medicações convencionais

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(Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Cerca de 30% das pessoas com depressão não respondem aos tratamentos já disponíveis contra a doença. É o que se chama de depressão resistente ou refratária. Para elas, uma nova técnica, feita com estimulação cerebral, começa a chegar ao Brasil.

Trata-se da terapia de estimulação do nervo vago (VNS therapy, em inglês). Em linhas gerais, é uma espécie de marca-passo, que envia pulsos elétricos para o nervo vago, considerado um relevante meio de comunicação entre o cérebro e o restante do corpo.

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O nervo vago vai da cabeça aos órgãos na região do tórax, como coração e pulmão, e chega até o estômago. Entre as suas várias conexões, estão áreas do cérebro associadas ao controle do humor.

Tal estimulação já é utilizada de modo eficaz para o tratamento da epilepsia, doença neurológica associada a convulsões. De acordo com a fabricante da tecnologia, a empresa LivaNova, a terapia já foi utilizada em mais de 125 mil pessoas no mundo com este agravo.

Agora, ela começa a mostrar efeitos nos quadros mais complicados de transtornos depressivos. Em testes clínicos conduzidos nos Estados Unidos com a participação de 795 portadores de depressão resistente, 70% apresentaram melhora dos sintomas.

Estes resultados levaram à autorização do dispositivo nos Estados Unidos e na Inglaterra. No Brasil, ele era aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2019, mas só agora começa a ser disponibilizado na rede particular, com valor médio de R$100 a 200 mil.

O equipamento, chamado Symmetry, tem, segundo a entidade, indicação de uso “para o tratamento da depressão crônica ou recorrente de pacientes que estejam em um importante episódio depressivo resistente ou intolerante ao tratamento”.

A tecnologia já foi utilizada no país em dois pacientes com depressão grave avaliados pelo psiquiatra Matheus Souza Seglich, chefe do ambulatório de Transtorno Depressivo Resistente do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina.

Os procedimentos foram realizados pelo neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, no Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis (SC).

Como funciona o novo tratamento

Tudo começa com a implantação, a partir de um procedimento cirúrgico ambulatorial, de um pequeno dispositivo sob a pele, que vai estimular o nervo vago. Os pacientes permanecem sedados, com anestesia geral durante o processo.

Através de um pequeno, que os médicos chamam de incisão, um gerador de pulso é implantado sob a pele abaixo da clavícula esquerda ou próximo da axila esquerda. Um segundo corte é feito na lateral do pescoço para fixar três pequenos eletrodos ao nervo vago esquerdo.

“Colocamos o implante dos eletrodos, que têm a forma de uma espiral, ao redor do nervo vago. Um fio vai ser conectado a uma pequena bateria, um gerador de impulsos, que fica no lado superior do tórax, em uma localização onde se coloca o marca-passo”, detalha Campos.

No tratamento, impulsos elétricos são transmitidos pelo gerador e se propagam para o cérebro, onde são dispersos em diferentes áreas e auxiliam no melhor funcionamento de algumas células nervosas.

“A estimulação vai modular a liberação de alguns neurotransmissores, como serotonina e noradrenalina, inibitórios ou aqueles envolvidos em parte na origem de alguns quadros depressivos”, afirma o psiquiatra Jose Gallucci Neto, diretor do Serviço de Eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Campos, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), explica que a cirurgia é simples e que os pacientes podem ter alta no mesmo dia ou em 24 horas.

Após a implementação, os pacientes retornam ao consultório em torno de 15 dias para ativar o gerador de impulsos que, a partir de então, passam a ser enviados sem interrupção ao cérebro.

A terapia de estimulação do nervo vago é considerada um adjuvante, ou seja, uma estratégia complementar que não substitui as demais intervenções. Por isso, é recomendado iniciar ou dar continuidade a outros tratamentos, como a medicação e o acompanhamento psicológico.

Da epilepsia para a depressão

A adaptação do uso da ferramenta contra a epilepsia para o manejo da depressão surgiu a partir da observação e de estudos que revelaram a melhora da saúde mental de pacientes tratados que apresentavam as duas condições ao mesmo tempo.

“Os impulsos gerados pelo equipamento chegam em núcleos específicos do nervo vago e acabam se disseminando por outras áreas, indo para a parte do sistema límbico e outras regiões do cérebro relacionadas com o humor, incluindo ansiedade e depressão, por exemplo”, afirma Campos.

O sistema permite ao médico ajustar o funcionamento às necessidades e respostas de cada paciente, como explica o pesquisador e psiquiatra João Quevedo, professor da Universidade UTHealth Houston e diretor do Programa de Depressão Resistente ao Tratamento.

“O psiquiatra ajusta os parâmetros do equipamento até alcançar os níveis ideais, que podem ser diferentes entre as pessoas. Depois, checa o aparelho a cada três ou seis meses para ver quão bem o paciente está”, afirma Quevedo.

Os resultados da estimulação sobre os sintomas da depressão começam a ser observados entre 3 e 6 meses. No estudo já publicado sobre o uso neste contexto, os pacientes foram acompanhados por um tempo médio de 5 anos, ainda obtendo benefícios no período.

Depressão resistente

depressão é um dos problemas de saúde mental mais frequentes no mundo, afetando cerca de 300 milhões de pessoas. O tratamento pode ser realizado a partir da combinação de acompanhamento psicológico e uso de medicamentos.

No entanto, alguns indivíduos apresentam resistência à medicação, um quadro chamado de depressão profunda ou refratária, cujas causas não são amplamente conhecidas.

Em geral, o desenvolvimento da condição é associado a causas multifatoriais, com influências genéticas, sociais e do contexto de cada indivíduo. Os dados sobre a forma resistente são escassos, mas estima-se que ela afete entre 10 e 30% das pessoas que vivem com o transtorno.

O diagnóstico acontece quando o indivíduo não responde a pelo menos duas classes de medicamentos antidepressivos.

O psiquiatra Matheus Souza Seglich afirma que ainda existem lacunas no entendimento sobre o modo como a doença se desenvolve no cérebro.

“As medicações aprovadas foram criadas com base em um modelo bastante difundido nas décadas de 80 e 90, que chamamos de teoria monoaminérgica, que seria atuar basicamente sobre disfunções de substâncias no cérebro, como a serotonina, noradrenalina e dopamina”, afirma.

“Os antidepressivos tentam corrigir essas alterações, mas a doença é mais ampla que uma disfunção de neurotransmissores”, completa.

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