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Mortes e internações de mulheres por uso de álcool aumentam no Brasil

Alta do consumo de bebidas pela ala feminina tem despertado a atenção de profissionais de saúde mundialmente

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FOTO: (pvproductions/Freepik/Divulgação)
Gramado Presentes

As taxas de mortes e de internações atribuíveis ao consumo de álcool caíram no Brasil entre 2010 e 2021. No entanto, houve um aumento tanto de óbitos quanto de hospitalizações entre as mulheres.

Os dados são de um levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), divulgado nesta quarta-feira, 26.

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O relatório aponta para uma queda de 4,8% nos mortes e de 8,8% nas internações na população geral no período avaliado. Entre os homens, a redução foi ainda maior, de 8% e de 13% respectivamente. Considerando somente as mulheres, as altas foram de 7,5% e de 5%.

Os homens compõem a maioria das estatísticas relacionadas ao excesso nos drinques. “É significativo que os indicadores estejam diminuindo nesta parcela da população, e é justamente esta redução que leva à queda dos dados gerais”, destaca Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Cisa.

Pico na pandemia e mudança de paradigma

Em 2020, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, foi registrado o pico de mortes relacionadas ao álcool em uma década. No ano seguinte, houve uma queda discreta, de 1,3%. No total, o álcool esteve associado a 69.054 mortes em 2021 (76,4% homens e 23,6% mulheres).

Já as internações aumentaram 2,5% entre 2020 e 2021, fechando o ano com o total de 336.407 hospitalizações (71% homens e 29% mulheres).

“Acredito que todo o avanço das discussões sobre masculinidade tóxica tem ajudado significativamente os homens a desvincular o uso da droga à necessidade de aprovação entre outros homens e à ideia de ‘provar’ a própria masculinidade e a virilidade bebendo”, diz o psicólogo Ronaldo Coelho, mestre pela Universidade de São Paulo (USP).

O que explica o fenômeno

O aumento do uso perigoso do álcool entre as mulheres é alvo de estudos por especialistas de diversas áreas.

A socióloga e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, afirma ser necessário aprofundar questões essenciais e encontrar espaços de diálogo sobre o problema. “Para avançarmos em políticas públicas, precisamos entender por quais razões as mulheres estão bebendo de forma mais prejudicial e sensibilizá-las para esta conversa”, pontua.

Um dos componentes que pode explicar este aumento é a sobrecarga que afeta o público feminino. “O vínculo empregatício soma-se ao trabalho doméstico, que, na maioria das vezes, recai exclusivamente sobre elas. Muitas são mães solteiras, ou mulheres que precisam superar mais obstáculos para conseguir avanços na carreira”, afirma Guerra.

O psicólogo Maycon Rodrigo Torres, membro do Laboratório de Psicanálise e Laço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor de psicologia na Faculdade Maria Thereza (Famath), destaca que a sobrecarga aumenta o estresse e impacta negativamente a saúde mental, sendo uma forma de gatilho para a ingestão alcoólica em excesso.

“Essa pressão social também aumenta a experiência de emoções negativas e sintomas de ansiedades e depressão, por exemplo. Aí, o álcool pode ser visto como uma forma de automedicação ou de amortecimento desse sofrimento”, afirma Torres.

Impactos negativos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não existe quantidade de álcool considerada segura para o consumo. No entanto, para elas, há um risco maior de problemas ao organismo.

Entre os perigos, o desenvolvimento de alcoolismo, danos ao fígado e ao cérebro, doença cardíaca e câncer de mama.

“É bem documentado na literatura científica que o organismo feminino tem menor concentração de água e menos enzimas que metabolizam o álcool. Isso significa que ele fica mais concentrado e seu processo de eliminação é mais demorado”, afirma Guerra.

Nesse contexto, elas são mais propensas do que os homens a vivenciar eventos negativos, como ressacas e desmaios, mesmo ingerindo doses semelhantes de bebida.

Para os especialistas, os dados do Cisa parecem indicar uma tendência de nivelamento do uso nocivo do álcool, visto que se observa uma redução deste impacto nos homens e um aumento nas mulheres.

Se essa tendência se consolidar por mais anos, é possível que homens e mulheres sejam igualmente impactados, ou mesmo que elas sofram os efeitos do uso nocivo mais do que eles.

O assunto tem despertado a atenção de profissionais de saúde mundialmente. “Embora homens continuem sendo as maiores vítimas, é urgente a elaboração de medidas voltadas para a prevenção do uso nocivo de álcool pelas brasileiras”, diz Guerra.

“Apenas o monitoramento constante dos dados de consumo irá permitir a compreensão deste fenômeno e a tomada de medidas de saúde pública que previnam maiores danos”, completa o psiquiatra.

Cuidados

Os riscos relacionados ao álcool podem ser minimizados, embora não eliminados. A principal recomendação é o consumo moderado.

“Além disso, recomenda-se que o indivíduo beba com o estômago cheio, para que o álcool seja mais lentamente conduzido à corrente sanguínea e sobrecarregue menos o fígado. O consumo de água também é fundamental para manter a hidratação”, diz Guerra.

Para algumas pessoas, o consumo de álcool deve ser completamente evitado.

“Alguns exemplos destas situações ‘álcool zero’ são: aquelas em que se vai dirigir, quando a mulher estiver grávida, se estiver tomando algum remédio que interaja com o álcool, e se o indivíduo for menor de idade”, orienta o psiquiatra.

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