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Assim como pessoas com Alzheimer, cães idosos com demência têm menos sono profundo, diz estudo

Cientistas apontam que a mesma redução no tempo de sono e em ondas cerebrais lentas ocorre em animais com o equivalente canino da demência, a chamada síndrome da disfunção cognitiva canina

Publicado

em

Rebecca Nelson/Getty Images
Gramado Presentes

Alterações no sono podem ser um dos primeiros sinais sentidos por pessoas com Alzheimer. A interrupção no ritmo de sono está associada a sonolência diurna, agitação ou confusão ao anoitecer, além de dificuldade para voltar a dormir à noite. Os distúrbios podem estar associados aos danos causados pela doença neurodegenerativa em áreas responsáveis pelo sono no cérebro.

O sono humano pode ser dividido em duas grandes fases, o chamado sono não REM e o sono REM. A denominação tem origem na língua inglesa, sendo definida pela presença ou ausência de movimentos rápidos dos olhos durante o sono.

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Pacientes com Alzheimer tendem a permanecer menos tempo tanto no sono REM, no qual ocorre a maioria dos sonhos, quanto no sono não REM. No entanto, há uma maior redução no chamado sono de ondas lentas – um estágio de sono profundo sem sonhos, caracterizado por ondas cerebrais “delta” lentas (0,1 a 3,5 Hz) – quando as memórias diurnas são consolidadas.

Em um novo estudo, os cientistas apontam que a mesma redução no tempo de sono e nas ondas cerebrais delta ocorre em cachorros com o equivalente canino da demência, a chamada síndrome da disfunção cognitiva canina. Esses cães, portanto, experimentam cada vez menos os estágios mais profundos do sono. Os resultados  da pesquisa foram publicados no periódico científico Frontiers in Veterinary Science.

“Nosso estudo é o primeiro a avaliar a associação entre comprometimento cognitivo e sono usando polissonografia – a mesma técnica usada em estudos de sono em pessoas – em cães idosos”, disse a autora sênior Natasha Olby, professora de neurologia veterinária e neurocirurgia na Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em comunicado.

Destaques da análise

Os especialistas avaliaram 28 cães idosos, entre fêmeas e machos, com idades entre os 10,4 e os 16,2 anos, o que corresponde entre 81% e 106% da sua longevidade média, dependendo do tamanho. Os tutores preencheram um questionário sobre os pequenos, para avaliar a gravidade dos sintomas de demência, como desorientação, dificuldade de interação social e sujeira na casa.

Os pesquisadores também examinaram os cães em busca de possíveis comorbidades ortopédicas, neurológicas, bioquímicas e fisiológicas.

Com base nos resultados, oito cães (28,5%) foram classificados como normais, enquanto outros oito (28,5%), quatro (14,3%) e oito (28,5%) apresentaram demência leve, moderada ou grave, respectivamente.

Os pesquisadores então realizaram uma série de testes cognitivos nos cães, para medir sua atenção, memória de trabalho e controle executivo. Por exemplo, na ‘tarefa de desvio’, um cão teve que recuperar uma guloseima de um cilindro horizontal transparente acessando-o por qualquer uma das extremidades – essa tarefa é dificultada pelo bloqueio do lado preferido deles, para que eles tenham que mostrar habilidades cognitivas ou flexibilidade para desviar para a outra extremidade do cilindro.

Clínica do sono canina

Os cientistas realizaram nos cães estudos de polissonografia, exame tradicionalmente aplicado em humanos para avaliação de problemas de sono. Em uma sala silenciosa com luz fraca e ruído branco, os cães puderam tirar uma soneca espontânea à tarde, enquanto eletrodos mediam suas ondas cerebrais, a atividade elétrica dos músculos e do coração e os movimentos dos olhos.

As medições duraram até duas horas, mas foram interrompidas se os cães ficassem ansiosos, tentassem sair da sala ou removessem os eletrodos. Os dados revelam que 26 (93%) cães entraram em sonolência, 24 (86%) entraram em sono não REM, enquanto 15 (54%) entraram em sono REM.

Os resultados mostraram que os cães com pontuações mais altas de demência e os cães que se saíram pior na tarefa de desvio levaram mais tempo para adormecer e passaram menos tempo dormindo. Os dados foram semelhantes tanto para o sono não REM quanto para o sono REM.

Cães com pontuações de memória menores mostraram mudanças, como menos oscilações lentas em seus eletroencefalogramas, durante o sono REM, indicando que eles dormiram menos profundamente durante esta fase.

“Nas pessoas, as oscilações cerebrais lentas são características do SWS [sono de ondas lentas] e estão ligadas à atividade do chamado ‘sistema glinfático’, um sistema de transporte que remove resíduos de proteínas do líquido cefalorraquidiano”, disse Natasha.

“A redução nas oscilações lentas em pessoas com Alzheimer, e a remoção reduzida associada dessas toxinas, tem sido implicada em sua pior consolidação de memória durante o sono profundo”, explica a pesquisadora.

Por outro lado, cães com memória mais fraca apresentaram ondas beta rápidas mais pronunciadas, entre 15,75 e 19 Hz. Ondas beta fortes são típicas da vigília em pessoas e cães saudáveis, portanto, não são um fenômeno normal durante o sono – novamente indicando que os cães com demência dormem menos profundamente.

Os autores concluíram que os cães com demência apresentaram alterações no ciclo sono-vigília durante os experimentos que se assemelham aos encontrados em pessoas com Alzheimer. No entanto, eles alertam que ainda não se sabe se essas mudanças também ocorrem quando os cães dormem à noite, e não apenas à tarde.

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