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Alemanha enterra milhares de ossos humanos encontrados em campus de universidade

Um reduto de cientistas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No local estava situado o fosso contendo os restos humanos

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Foto: John Macdougall/ AFP
Velho Oeste

Um funeral sem corpo, de vítimas sem identidade: a Universidade Livre de Berlim (FU, na sigla em alemão) enterrou nesta quinta-feira (23) milhares de fragmentos de ossos descobertos no seu campus, vestígios de crimes cometidos em nome da ciência e das práticas da era nazista.

Em 2014, operários da construção civil fizeram uma descoberta macabra enquanto trabalhavam no local: ossos humanos. Cerca de 16 mil fragmentos de ossos foram desenterrados até 2016.

Dr Rodrigo Dentista

A conclusão dos especialistas após vários anos de pesquisa é que os ossos vêm de “contextos criminais”, ocorridos no período colonial, e “parte deles também pode vir de vítimas de crimes nazistas”. As descobertas são evidências das práticas e da ideologia do Instituto Kaiser Wilhelm de Antropologia, Genética Humana e Eugenia (KWIA), um reduto de cientistas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. No local estava situado o fosso contendo os restos humanos.

“Existem crimes sobre os quais nenhuma grama cresce ou deveria crescer. Precisamos nos lembrar disso”, disse o presidente da universidade, Günter Ziegler, na cerimônia de sepultamento em um cemitério no oeste da capital da Alemanha, não muito longe do campus. Os ossos, colocados em cinco caixas de madeira, foram depositados sob uma estela coberta com coroas de flores.

Segundo a perícia dos arqueólogos, os ossos pertencem a pelo menos 54 adultos e crianças, homens e mulheres. A maioria deles data de pelo menos dois séculos atrás. Havia também fragmentos de esqueletos de ratos, coelhos, porcos e ovelhas.

Decisão de não identificar os restos

Após longas consultas, a universidade decidiu não prosseguir com as investigações sobre a identidade dos mortos. O risco teria sido, explicou Ziegler à AFP, chegar em categorias “de acordo com os diferentes crimes e as diferentes partes do mundo”, lembrando as classificações racistas do passado. “Teríamos então reproduzido exatamente o que queríamos evitar”, disse o gestor.

“É claro que gostaria de saber quem eram essas pessoas, mas não seria apropriado”, afirma Susan Pollock, que liderou a pesquisa. Nenhum osso foi encontrado intacto, descreve a professora de arqueologia. “Alguns têm o tamanho de uma unha, outros têm cerca de dez centímetros.”

A decisão de não prosseguir com as tentativas de identificação foi tomada em consulta com os grupos que representam as supostas vítimas – incluindo o Conselho Central dos Judeus na Alemanha, os ciganos e a comunidade africana.

“As vítimas são vítimas. Não queremos distingui-las nem determinar a sua origem. Simplesmente aspiramos à solidariedade da nossa sociedade quando as minorias são atacadas”, sublinhou o diretor do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Daniel Botmann, durante a cerimônia desta quinta-feira. Para ele, a estela sob a qual repousam presta homenagem “às vítimas de crimes cometidos em nome da ciência”.

Colecções “etnológicas” e Josef MengeleEspecialistas especulam que muitos dos restos poderiam vir das chamadas coleções etnológicas do Instituto Kaiser Wilhelm, incluindo ossos de crimes coloniais. O primeiro diretor do KWIA, Eugen Fischer, “realizou pesquisas nas colônias alemãs da África Austral no início do século XX”, lembra Susan Pollock.

O instituto também abrigou a extensa coleção do antropólogo Felix von Luschan, “envolvido na coleta de restos humanos em todo o mundo”.

“Este instituto manipulou vidas humanas como coisas”, observa Susan Pollock. Em um prédio do campus da FU, uma discreta placa enferrujada lembra os abusos cometidos pelos pesquisadores do KWIA durante a era nazista.

Josef Mengele, conhecido por seus experimentos com deportados do campo de Auschwitz, era membro desse instituto, criado em 1927. De Auschwitz, Mengele enviou “olhos de cadáveres aos responsáveis ​​pelo instituto”, mas também outros órgãos, diz Pollock. Ao final da guerra, Mengele – apelidado de “anjo da morte”, fugiu para o Brasil e jamais foi punido pelos crimes.

A Alemanha já realizou diversos estudos, embora tardios, sobre a identificação de milhares de pessoas exterminadas sob o Terceiro Reich, no âmbito dos “programas de eutanásia” do regime nazista, para os quais colaboraram médicos e cientistas.

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