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Xamã chega ao Rock in Rio com rappers indígenas e a moral de ter um dos hits do ano, ‘Malvadão 3’

Rapper que estará no Palco Sunset explicou sua trajetória e seus versos espontâneos com cenas do ‘cotidiano brasileiro’, de ‘bunda com fermento’ e ‘preço da passagem’.

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|Foto: do artista|
Velho Oeste

Xamã começou 2022 fazendo seu rap com versos livres furar a bolha do estilo nas paradas, e chega ao fim do ano com a mesma missão no palco do Rock in Rio. Ele canta no Palco Sunset neste sábado (3) com os rappers indíginas Brô MC’s de convidados.

“Malvadão 3” chegou ao número 1 com citações brasileiríssimas a “bumbum com fermento”, “bigodin finin” e “preço da passagem”. O rapper contou ao podcast g1 ouviu sua trajetória desde a época em que vendia amendoim até o sucesso recente. Ouça abaixo e leia mais a seguir:

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Como Xamã cria seus versos?

“Todas as músicas que eu construo são como uma história em quadrinhos. Está acontecendo um monte de coisas, parece que aquelas imagens estão em movimento.

Eu crio a melodia e tento colocar palavras do cotidiano do brasileiro, que ele usa diariamente. Você encanta a pessoa com uma melodia bacana e coloca um texto, um mini-roteiro de dois minutos, e as pessoas se identificam.

Eu crio de duas maneiras. O beat é feito pelo NeoBeats, o DJ Gustah, a galera que produz para mim. Eles criam a melodia e eu escrevo a letra em cima. Mas muitas das vezes eu lapido com o tempo.

Eu escrevo muito no ‘freestyle’: a primeira coisa que vem na mente, a coisa mais espontânea possível. Aí com o tempo você vai dando uma bordadinha ali. E o processo de criação são vários. Às vezes estou no carro olhando na janela e vem uma coisa na minha mente. Não tem um método comum. “

Como nasceu ‘Malvadão 3’?

Essa eu escrevi num estúdio aqui no Rio com uns amigos. A gente sempre coloca um drink, escuta umas batidas e fica curtindo no estúdio, inventando melodias, fazendo freestyle.

E surgiu assim de uma forma muito espontânea com os amigos, bebendo, cantando. A maioria das músicas legais, que eu gosto, foram criadas assim, de uma forma bem irresponsável mesmo.

Nada de ‘vou fazer uma música’, e ficar ali sentado esperando para fazer. Assim comigo não rola. Tem que ser uma coisa muito espontânea com os amigos bebendo, cantando, rindo. Essa música acho que tem esse espírito alegre. Ela foi feita com essa energia.”

“Eu gosto muito, muito do Black Alien. Foi a pessoa que mais me inspirou, com certeza. E rock internacional, por causa das melodias das guitarras, pego muita referência.

E música brasileira. Aquilo que você já ouviu na sua rua, numa mercearia ou num programa de domingo. Aquela que toca na rua, quando você pega um ônibus, no carro. Que fala de amor, da vida que nem sempre é incrível, mas é divertida, de conquistas difíceis. Desde bossa nova a pagode. Mistura tudo na panela de um brasileiro comum.”

Por que canta tanto sobre preço das passagens?

“Eu morava em Sepetiba, Zona Oeste do Rio, depois da última estação de trem, que é Santa Cruz. Quando eu conseguia a condução para chegar no lugar, todo o resto das coisas era mais tranquilo.

Desde quando eu trabalhava em loja até depois, quando eu trabalhei com música, sempre foi uma coisa muito difícil para mim a passagem. Porque ela comia toda a grana que eu conseguia fazer. Era o dinheiro de comer, o de viver, e o da passagem, que era 50% disso.”

“Eu falei disso no Poesia Acústica 6. Aí virou meio que um bordão, e eu fiz da mesma forma no Poesia Acústica Paris, em que a gente já tava em outro momento da carreira.

Como eu trabalhava sempre precisando muito de conduções públicas, eu acho justo continuar falando disso, faz parte da minha história. Quantos outros brasileiros devem viver isso?”

Como foi o início da trajetória?

“Comecei a trabalhar numa loja de roupas e rolava rap o dia inteiro. Descobri que tinha aptidão para fazer rimas e vender as coisas. Sempre tive problema de abordar a pessoa. ‘Compra isso aqui’, e a pessoa tomava um susto. Mas quando chegava rimando a pessoa achava incrível e até comprava.

Depois comecei fazer as batalhas de rap. E falei: vou ser um músico. Larguei a loja e comecei a trabalhar nos trens e nos ônibus do Rio, fazer uma renda para continuar acreditando no sonho.

E ao invés de oferecer o bagulho, ‘compra o amendoim, o drop, o Halls’, eu fazia o rap do flow do vendedor de amendoim. Era muito mais fácil chegar rimando, a pessoa já abre o coração. Aí comecei a usar isso como slogan nas batalhas de rap.

Foi um recurso que conseguia para vender o que precisava. Aí quando eu comecei a fazer minhas músicas eu vendia as minhas ideias. Eu uso essa mesma forma de abordagem para poder chegar nas pessoas. Quando você rima, canta, deixa tudo mais colorido.

O Estudante (primeiro parceiro de dupla) já era mais conhecidão, aí a gente começou a fazer uns trampos. Ele conhecia a galera do Cone Crew, e a gente gravou no estúdio do Maomé a ‘Deus abençoe o rolê’, acho que o nosso primeiro som. A gente tinha dificuldade porque, primeiro, não sabia o que estava fazendo. [risos]

Não tinha a mínima noção, era mais paixão. E morava na Zona Oeste, que era longe pra caramba. Sempre tinha o problema das passagens e horários, a batalha do trem que demorava quatro horas para chegar.”

“A gente cantou em muitos microfones ruins no Rio. Fizemos shows sem microfone, shows que foram três pagantes. Foi uma coisa muito de início, para saber se ia fazer isso mesmo ou não. Foram dois anos intensos.”

Quer levar o rap para o mainstream?

“Com certeza. Acho que a gente já está fazendo isso, voando como besouros, batendo aqui e ali, mas conseguindo, voando. É uma tendência mundial. Eu acho que o rap vai ganhar corpo, não só por mim, mas com outros gigantes chegando junto comigo, gente que tem mais tempo e outros mais novos.”

Sicredi
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