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Esporte

Conheça a Manu Trindade, a rondonense de 4 anos que conquistou um ouro na sua primeira competição de Jiut-Jitsu

Ela é faixa branca e começou a treinar com 2 anos e 9 meses

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FOTOS E VÍDEOS: Reprodução/Arquivo pessoal/Fernando Nègre/ Portal Rondon
Providência

No último dia 24 de abril, o Município de Cascavel sediou o 1º evento oficial do CIJJIP (Circuito de Jiu-Jitsu do Interior do Paraná). Dentre os mais de 250 atletas de equipes do interior do Estado, que se reuniram no Ginásio Ciro Nardi, estavam alguns rondonenses.

A equipe N1 Brasil de Marechal Cândido Rondon participou com apenas sete atletas e obteve 11 medalhas. Dentre os destaques estava a Manu Trindade, uma rondonense que exatamente naquele dia estava completando quatro anos de idade.

Charles Pinturas

Manu chamou atenção na competição, e assim que a matéria dos resultados da N1 foi divulgada pelo Portal Rondon, ela também encantou os internautas do site, agências e lojas de itens infantis que queriam presenteá-la e contratá-la para “jobs”, que é como se chamam as sessões de fotos de campanhas de roupas, calçados…

Vendo a enorme repercussão da matéria que falava da competição e dos resultados obtidos pela equipe como um todo, o Portal Rondon decidiu conhecer melhor a Manu e contar como é que ela começou a treinar Jiu-Jitsu e quais os passos para a sua primeira medalha de ouro.

Manu Trindade treina há oito meses e é faixa branca. Ela começou a ir na academia com a sua irmã de 15 anos que fazia Muay Thai. A pequena ficava no espaço brincando enquanto esperava a irmã treinar.

Os professores começaram a perceber que a Manu se interessava pelo ambiente e foram cultivando algumas ideias… Um dia, finalmente, o Victor decidiu abrir uma turma de jiu-jitsu para crianças. Primeiro, ele fez o convite para a Débora Trindade, mamãe da Manu, já que a pequena sempre estava por lá… Depois, eles convidaram o primo da Manu e a turma iniciou assim.

“Aceitei o convite e coloquei ela despretensiosamente para fazer uma atividade física”, conta a mãe. “Até peguei um kimono emprestado porque eu não sabia se ela ficaria muito tempo… Ela só tinha 2 anos e nove meses”, relembra.

BENEFÍCIOS DO JIU-JITSU PARA CRIANÇAS

O Jiu-Jitsu é uma arte marcial japonesa, e também é um esporte de combate, que utiliza técnicas de golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente. E, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, é a arte mais adequada para as crianças a partir dos 3 anos.

Hoje, a N1 tem três turmas de Jiu-Jitsu para crianças e o número de pais matriculando os filhos na academia vem crescendo justamente por perceberem que essa arte marcial colabora para o desenvolvimento da coordenação motora de lateralidade e a defesa pessoal, além de trabalhar o empoderamento, a autoestima, a confiança e diminuir os sintomas da hiperatividade, explica Victor Sabino, professor capitão da N1, que inclusive já lecionou em Boston.

Na N1, a criançada treina com o Victor e com o instrutor e coach infantil, Marcelo Machado.

“A procura do Jiu-Jitsu aumentou muito durante a pandemia”, conta Victor, “principalmente por mulheres que viram a necessidade de aprender técnicas de defesa pessoal devido às agressões e assédio. Também aumentou a procura por turmas infantis, afinal, a arte colabora com o desenvolvimento físico e intelectual das crianças, que ficou um tanto quanto defasado com a interrupção das aulas e a necessidade do isolamento social”, Victor destaca.

Para Marcelo e Victor tem sido fantástico investir nas crianças. Afinal, elas que acabam ensinando os treinadores.

Victor explica que na turma de três a cinco anos, que a Manu faz parte, são trabalhados os princípios do Jiu-Jitsu: respeito, hierarquia, disciplina e resiliência.

“Trabalhamos a defesa pessoal na N1 com técnicas de forma totalmente lúdicas. Todos os movimentos são associados com dinâmicas. Ensinamos técnicas de como cair no chão… apresentamos movimentos para situações que podem acontecer numa escola ou numa creche, como por exemplo se algum coleguinha segurar a criança pela camiseta, empurrar ou for bater com algum objeto”, explica Victor.

Durante os treinamentos, Marcelo conta histórias e utiliza as técnicas do coach fazendo com que tudo faça parte de uma grande brincadeira.

“Eu entro no mundo deles. Sentamos no tatame e eu conto histórias, fazemos imitações, meditação… E tem horas que não sei se tenho 44 ou 10 anos de idade”, Marcelo conta à redação.

Ao final das aulas, o coach enfatiza as lições através de perguntas às crianças porque ele sabe que o que elas aprendem no tatame, levam para a vida.

Segundo a Débora, mãe da Manu, todas as dinâmicas aplicadas nos treinamentos ajudam muito na evolução da filha e a defesa dela é um dos pontos que mais melhoraram depois que ela começou no Jiu-Jitsu. “Quando alguém brigava e empurrava a Manu, ela chorava e não se defendia”, a mãe contou durante a entrevista. “Agora, a reação dela é totalmente diferente”.

“Não que a Manu tenha aprendido a revidar, porque o jiu-jitsu não ensina a bater, ensina a se defender. Agora, dependendo da situação, ao invés de fugir e chorar, ela diz: ‘você não pode me bater, você é meu amigo'”, Débora conta animada.

A meditação, que também está inclusa nos treinos de jiu-jitsu, busca fazer com que as crianças aprendam que a força vital do ser humano está na forma com que respiramos. As crianças têm um minuto para cruzar as pernas, colocar as mãos no joelho, fechar os olhos e se concentrar apenas na respiração. Meditar requer foco e é um processo que precisa ser trabalhado devagar. Hoje, a Manu já consegue ficar um minuto com o olho fechado sem segurar eles com as mãos, segundo a mãe.

“No começo ela ficava na posição de meditação, segurando os olhos com as mãos e ainda ficava dançando… Hoje, ela já consegue se concentrar, fechar os olhos sem as mãos, consegue ficar quietinha e prestar atenção na respiração”, Débora diz.

Manu foi frequentando as aulas de jiu-jitsu na N1 e foi gostando… Agora, nas segundas e quartas, a pequena veste o quimono, pede para a mãe colocar um laço na sua cabeça, que é a marca registrada da Manu, e lá vai ela treinar sua evolução pessoal, mesmo que ainda não entenda que é exatamente isso que está fazendo.

“Hoje, a Manu já sabe o compromisso dela. Chega o dia de ir para a academia, ela fica empolgada. Minha filha mais velha desistiu do Muay Thai e a Manu continua no Jiu-Jitsu. E ela sempre vai de laço porque ela é uma princesa que luta”, a mãe fala orgulhosa.

Os benefícios do Jiu-Jitsu na vida da Manu são inúmeros e notórios para a família, para o professor e o treinador e até para a pediatra. “Ela estava com excesso de peso quando começou a ir para a academia e, de setembro até agora, a pediatra já notou o quanto os treinos foram importantes para a saúde dela, pois ela só cresceu e o peso não aumentou”, continua a mãe.

O DIA DA LUTA

A Manu, que além do jiu-jitsu adora tocar pandeiro quando o pai toca cavaquinho, ganhou uma medalha de ouro na sua primeira competição oficial. Isso foi sensacional para ela e mais ainda para a família e os treinadores.

Quando Victor e Marcelo falaram para a mãe sobre a competição em Cascavel, Débora logo topou. E logo enviou mensagem ao marido, Fernando, que trabalha viajando… mas eles nem imaginavam como seria. Empolgada, a mãe começou a divulgar a notícia nos grupos de família no WhatsApp.

Débora, que jogava vôlei, sabe bem da adrenalina de disputar um esporte, mas isso parece se multiplicar quando acompanha a filha… e no dia da luta, o coração dela ficou a mil.

“Na minha cabeça passou um monte de coisas ‘Ok… Ela vai lutar. Mas, e se ela apanhar?’ foi uma delas”.

A mãe conhecia o mundo “academia”, mas uma competição era algo bem diferente. Reuniram-se pessoas de todas as partes do interior do Paraná “e foi muito gostoso ver todas as crianças treinando antes da competição, se aquecendo e a Manu no meio, tranquila”.

Estava tudo certo para a luta, família empolgada, torcida pronta e a Manu começou a ficar apreensiva porque, ao tirar o brinco, acabou machucando a orelha. O Victor lembra que ficou ainda mais apreensivo que ela…

Várias táticas foram usadas pelo professor e pela mãe para a pequena entrar no tatame. A mãe prometeu um passeio ao shopping e uma boneca de presente de aniversário, já que ela estava comemorando quatro anos bem naquele dia, e no fim o que convenceu mesmo foi que a Manu entraria no tatame para brincar.

“Eu disse ‘vamos brincar de pega-pega, Manu?'”, Victor lembra. “Aí ela topou e eu falei ‘vai ser assim: você não pode sair da área azul. Você vai começar pegando, então, cumprimenta ele [o adversário] e sai. Você tem que pegar ele, e ele não vai deixar, mas você faz o movimento e derruba ele’. Aí ela foi”, Victor conta empolgado lembrando da cena.

E os comandos “da brincadeira” fizeram a Manu trazer uma medalha de ouro para Marechal Cândido Rondon. Ela brincava, o treinador orientava e a família e o restante do grupo da academia gritando o nome dela e torcendo do lado de fora do tatame.

Para Victor o fato da Manu ter entrado no tatame com a intenção de brincar foi legal para a família entender a importância da ludicidade durante os treinos. “Muitas vezes os pais acompanham algumas dinâmicas e não entendem como elas podem fazer parte de uma luta, não entendem exatamente o quanto a criança está aprendendo com o jogo”, explica ele. As crianças levam os aprendizados a sério mesmo com toda ludicidade.

“É muito gratificante ver a evolução delas. Sempre mostramos que eles são os únicos responsáveis pelos resultados deles em tudo na vida. O que eles são dentro do tatame, eles são fora e nós recebemos o retorno disso diariamente com mensagens dos pais”, Marcelo acrescenta.

Manu Trindade com os pais, Débora e Fernando, em Cascavel

Brincar, correr e se movimentar é essencial para o desenvolvimento da criança, suas habilidades e personalidade. As artes marciais, como o Jiu-Jitsu, são uma opção que colaboram com esse desenvolvimento. É importante que os pais insiram a criança neste meio e acompanhem sua evolução, mas isso nunca pode ser uma obrigação, a criança precisa se sentir à vontade e gostar de ir treinar, assim como é com a Manu.

“Treinar permite que a criança seja elogiada, que ela sinta a sensação de ganhar. Por mais que ela não queira ser uma competidora de algum esporte é importante que ela tenha nela esse espírito de vencer. Sempre digo que toda criança deveria fazer um esporte, uma arte marcial e música, isso ajuda a formar a personalidade delas. E no esporte, as crianças sempre têm uma recompensa para perceberem que o esforço nunca é em vão. Mostramos que vale a pena ser educado, que vale a pena se esforçar, que vale a pena estudar…”, Victor conclui.

Manu estava retraída durante o bate-papo do Portal Rondon com os treinadores e a mãe, mas assim que coloca o kimono, ela mostra que realmente ama o mundo do jiu-jitsu e com ela não tem tempo ruim. Se é pra fazer polichinelo ela vai, salta, faz flexão… Os treinos não podem parar porque ainda tem muita medalha para ela conquistar.

Neste final de semana, a Manu participará de sua segunda competição, será a 15ª Copa Paraná, em Toledo.

OUTRAS TURMAS DE JIU-JITSU PARA CRIANÇAS NA N1

As outras turmas de crianças da N1 são para a fase de seis a nove anos, quando a criança começa a desenvolver a absorção do impacto e da força. É nessa faixa etária que se começa a trabalhar posições mais elaboradas, o combate e a luta, afinal a metodologia do Jiu-Jitsu é a defesa pessoal.

Já na turma dos 10 aos 13 anos, os treinadores cobram mais disciplina, movimentos mais complexos, transições de posições, variações nos movimentos. As crianças e adolescentes desta faixa etária já têm mentalidade mais tática e técnica para a luta.

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