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Usina paranaense aposta na produção do etanol a partir do milho: ‘Uma realidade muito breve’

Estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento indica que a produção de etanol no Brasil na safra 2021/2022 chegue a 29,2 bilhões de litros

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Usina em Jandaia do Sul aposta na produção do etanol a partir do milho. — Foto: Reprodução/RPC
Rui Barbosa

Com a estiagem severa na última safra de cana, uma usina em Jandaia do Sul, no norte do Paraná, se adaptou e passou a produzir etanol a partir do milho.

Das dezenove usinas paranaenses, esta é a única que continua a produzir o combustível, mesmo no período de entressafra da cana. Nas outras dezoito os maquinários estão parados e o momento é de manutenção dos equipamentos.

Ótica da Visão

O presidente da usina, Fernando Fernandes Nardini, explica que a possibilidade de continuar produzindo é por conta de uma estrutura montada em 2018.

“Nós aproveitamos grande parte dos equipamentos que já tínhamos para processar o etanol de cana, para agora processar o etanol de milho. Então, é uma planta totalmente diferenciada, mas nem por isso ela é menos eficiente. Nós temos uma eficiência tão boa quanto nas unidades que são puras de milho e a gente consegue fazer os dois produtos, o álcool de cana e o álcool de milho”, conta Nardini.

Localizada numa região cercada de lavouras, a usina compra a matéria-prima de cooperados ou de produtores independentes. São grandes quantidades de milho recebidas todos os dias, num período em que não há cana de açúcar para ser moída.

“Este ano a safra de cana foi muito curta, porque nós tivemos uma seca muito grande em 2020 e uma geada forte, o que fez com que muitos canaviais diminuíssem. Então, têm unidades que já estão paradas desde setembro. E nós, com a nossa unidade de milho, embora a margem esteja sendo menor, estamos conseguindo operar pelo menos por mais quatro meses”, explica Fernando.

Processo e produção

Dos silos, os grãos são levados para a usina. Então são moídos, recebem tratamento químico, passam por fermentação e destilação antes de virar etanol.

A capacidade da usina permite moer até seiscentas toneladas de milho por dia e com cada tonelada do cereal é possível produzir mais de quatrocentos mil litros de etanol. Já com a cana de açúcar, a produção fica em torno dos oitenta mil litros.

Na produção com milho a necessidade de mão de obra é menor. Na moagem da cana, são necessários trezentos funcionários e na do milho são cerca de cem trabalhadores.

Mesmo assim, a margem de lucro do etanol de milho é menor: no cereal, fica em torno de 7%, enquanto na cana é de 40%. Grande parte disso se dá por conta da alta no preço da saca de milho.

‘Realidade muito breve’

A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento é que a produção de etanol no Brasil na safra 2021/2022 chegue a 29,2 bilhões de litros. Desse total, mais de três bilhões e trezentos milhões de litros serão derivados do milho. Um aumento de 29,7% em relação ao período anterior, o que demonstra o interesse de outras usinas em utilizar o cereal para produzir combustível.

De acordo com o Presidente da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná, Miguel Tranim, essa produção deve crescer também no estado.

“Eu já sei de pelos menos mais duas unidades industriais que estão com processo para produzir a partir do milho, com projeto em andamento pra instalação futura. Assim como no Brasil, deve ser uma realidade muito breve. Se a gente pensar comparativamente, os Estados Unidos produzem muito mais etanol do que o Brasil e é todo de milho”, diz Tranim.

Na última safra de cana, as usinas paranaenses reduziram o percentual de produção de açúcar de 60% para 56%, e aumentaram o de etanol de 40% para 44%.

Mesmo com a maior parte do açúcar sendo vendida para o exterior, a alta no preço do etanol no mercado interno foi fundamental para este efeito, já que as exportações do combustível foram 58% menores.

O presidente da ALCOPAR afirma que usinas têm atravessado uma crise nos últimos anos, agravada pela seca. Segundo ele, a produção de etanol de milho pode contribuir para a recuperação do setor.

“Nós estamos olhando agora um cenário dos próximos três anos de bons preços e uma recuperação. E aí sim eu acho que é o momento de investir, junto com isso no processamento do milho na entressafra ou algumas opções até para fazer durante o ano”, comenta.

Sustentabilidade

Durante o processo de fabricação do etanol, tanto de milho, quanto de cana-de-açúcar, é preciso muito calor, que é conseguido com a queima de biomassa. Em uma indústria híbrida como essa de Jandaia do Sul, isso não chega a ser problema: a montanha de bagaço de cana se transforma em combustível para a caldeira.

“Com o bagaço da cana eu gero energia para fazer o processo de destilação do etanol de milho. Se nós não tivéssemos o bagaço da cana, eu teria que comprar biomassa. Com esse bagaço, se a gente conseguir otimizar bem o nosso consumo energético, nós teremos bagaço para operar mais uns quatro ou cinco meses sem precisar de biomassa externa”, diz Fernando Nardini.

Já o que sobra do processamento do milho se torna WDG, uma espécie de farelo úmido, com alto teor de proteína, muito usado para a nutrição animal. Até o gás carbônico resultante do processo é reaproveitado, envasado e vendido para indústrias de refrigerante.

O produtor rural Domingos Dias Perpétuo é um dos cooperados da usina de Jandaia do Sul. Desde a década de 1960 ele fornece cana de açúcar para a indústria de etanol, mas agora fornece também o milho.

“É mais uma opção, não tenha dúvida. Porque hoje a gente acompanha esses combustíveis fósseis e a tendência é acabar. Então, o Brasil tem que se preocupar realmente em produzir energia limpa. E o etanol de milho e cana de açúcar é o caminho”, comenta o produtor.

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