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Para sobreviver, casal desempregado passa a morar na rua vendendo balas em semáforos: ‘Nunca tinha vivido na rua. É a primeira e última vez’
Moradores de Londrina, no norte do Paraná, não são os únicos que precisaram ir às ruas para conseguir um sustento durante a pandemia. Enquanto no início de 2020 o município distribuía 200 cestas básicas, no fim do mesmo ano foram doadas 22.600 cestas para famílias carentes.
Viver na rua foi a única saída para muitas pessoas que perderam empregos nos últimos meses. Isso aconteceu com o casal Fabiane de Jesus e Fernando Frade.
“Nunca tinha vivido na rua. É a primeira e última vez. Pra viver dessa forma tem que brigar por uma coberta, brigar por um banho, tem que brigar por tudo”, disse a desempregada.
Ela e o marido estão há seis meses tentando sobreviver. Fabiane tem 42 anos e estudou até o quinto ano do ensino Fundamental. Trabalhou com carteira assinada em lavanderia e restaurante.
“Trabalhei em buffet que eu nunca imaginava na vida, passava na frente e falava ‘um dia eu vou trabalhar aqui’ e trabalhei”, contou.
O marido, Fernando, foi motorista, servente de pedreiro, lavador de carro e perdeu o emprego pouco antes da decretação da pandemia. Com a chegada do novo vírus, a dificuldade de conseguir um emprego aumentou.
“Você vai procurar serviço e a pessoa fala: ‘a agora não tô precisando, não tô contratando por causa da pandemia’. Então fica bem mais difícil”, afirmou Ariane.
Sem emprego ou renda, o casal não conseguiu pagar as contas mensais, entre elas o aluguel. Despejados, os dois passaram a morar na rua e trabalham no semáforo vendendo balas das sete da manhã às 18h.
Segundo eles, o dinheiro recebido com a venda só dá para comer e comprar mais balas para vender.
“Domingo passado falei para ela, ‘eu estou com uma saudade tão grande de estar dentro da minha casa, deitado e assistindo uma televisão’, isso é sofrido”, se emociona Fernando Frade.
Mais de 14 milhões de desempregados
A história de Fabiane e Fernando pode ser parecida com as de 14 milhões e 800 mil pessoas que estão desempregadas no Brasil e não conseguem uma nova oportunidade.
Antes da pandemia, o índice de desemprego no país estava em 7,9% e em fevereiro de 2020 chegou a 11%. Com a interrupção de setores para evitar o contágio, o índice passou para 14%.
No primeiro trimestre deste ano, a pesquisa apontou a taxa de desemprego de 14,7%, a mais alta da série histórica do levantamento realizado pelo IBGE, que começou em 2012.
No segundo trimestre de 2021, houve uma diminuição quase insignificante, o índice ficou em 14,6%.
Esse foi o caso do Gabriel que até o fim de 2020 tinha um serviço e a expectativa de ser efetivado.
“Era menor aprendiz, estava na esperança de ser promovido. Só que por causa da pandemia eles tiveram que demitir um monte de gente”, detalhou
Sem renda, o jovem de 18 anos, que aluga um cômodo na zona norte de Londrina e paga todas as contas sozinho, passou a vender paçoquinha a R$ 1 no sinaleiro para sobreviver.
O vendedor de balas Eden Martins Navarro sustenta a mulher e uma filha pequena com o dinheiro que recebe no semáforo. Ele faz isso há um ano e meio.
“Se antes era difícil, agora está mais complicado. Com o dinheiro que recebo compro fralda, alimento e brinquedo para a minha filha”, contou o desempregado.
“Vergonha é você pegar uma arma colocar na cintura ir no comércio assaltar, roubar alguém, matar uma pessoa, isso sim é vergonhoso”, pontuou.
Assistência Social
O número de pessoas que passaram a pedir ajuda e receber benefícios concedidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social aumentou com a pandemia e o valor de recursos disponíveis para a pasta com suplementação de R$ 10 milhões.
Segundo a secretaria, enquanto em fevereiro de 2020 o número de doações de cestas básicas era de 200, com a piora da pandemia o município passou a conceder 22.600 cestas.
Com o agravamento da crise assistencial, o valor de auxilio emergencial municipal e a quantidade de beneficiários também aumentou com o passar dos meses. Se no início 2.000 pessoas recebiam R$ 91, no fim de 2020 eram mais de 9.000 moradores recebendo benefício de R$ 182.
“A pandemia acentuou a crise econômica. Não é só a assistência social que vai aquecer a economia e que as famílias saiam dessa condição. É necessário um planejamento de retomada de maneira nacional, Londrina não vai escapar daquilo que o Brasil todo está vivendo”, afirmou a secretária de Assistência Social de Londrina, Jaqueline Micali.