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Vítima de tráfico de pessoas, paranaense conta o que viveu para ajudar outras mulheres a reconhecer o crime

Cristiane Mersch sonhava em ser modelo e foi enganada por um suposto agenciador: ‘Era uma armadilha para eu virar uma presa deles, para me explorarem sexualmente’

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em

|Foto: RPC/Reprodução|
Rui Barbosa

Cristiane Mersch sonhava em ser modelo, por isso, participava de concursos de beleza, fazia trabalhos em agências e em eventos desde a adolescência, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Até que surgiu o contato de um suposto agenciador. Ele prometeu leva-lá para o Rio de Janeiro para trabalhar como modelo, mas isso não se concretizou.

“Era uma proposta muito interessante, esse contato era diretor de escola de samba no rio, ele tinha marca de roupa, ia ser um grande desfile. Ali eu vi a chance da minha vida. Eu caí, fui vítima de tráfico de exploração de mulheres, eles queriam me traficar para alguns prostíbulos de festas luxuosas no Rio de Janeiro. Eu estava encurralada naquela situação. Eu fui achando que era uma seleção e na verdade era uma armadilha para eu virar uma presa deles, para eles me explorarem sexualmente”, relembrou.

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De acordo com a vítima, ela ficou uma semana nas mãos dos traficantes, no ano de 2010. Na época, ela tinha 23 anos.

“Eu tive sorte que foi uma semana apenas e consegui fugir, mas muitas meninas morrem nisso, muitos meninas tem sonho como eu e não são transportadas apenas de um estado para o outro, como eu fui para o Rio de Janeiro, muitas são transportadas para Espanha.”

Atualmente, Cristiane mora dos Estados Unidos, é casada e tem três filhas. Há 5 anos ela resolveu contar o que passou para alertar outras mulheres.

“Eu vi que aqui tem muito ainda tráfico humano, essas casas de luxo de prostíbulos, muitas meninas vem para cá achando que vão ser modelos, ser só dançarinas e caem nas mãos desses traficantes e são exploradas sexualmente. Hoje eu uso minha voz para conscientizar sobre esse problema, porque eu poderia estar morta ou presa com esses traficantes”, disse.

Para combater o crime, Cristiane visita prostíbulos, entidades e escolas para falar da experiência dela para tentar prevenir do tráfico de pessoas.

“Eu faço o que eu puder, porque não quero que meninas passem por isso. O tráfico humano é real, não é lenda, não é filme, acontece todo dia. E por que estou aqui hoje? Porque principalmente na fronteira, Foz do Iguaçu e Paraguai, é uma rota de tráfico por causa da vulnerabilidade das fronteiras.”

Tráfico de pessoas

Dados são do período entre 2017 e 2020, de casos de pessoas atendidas nos núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas e postos do Ministério da Saúde — Foto: RPC/Reprodução

De acordo com a Polícia Federal (PF), o tráfico de pessoas pode acontecer para diversas finalidades, como exploração sexual, trabalho forçado, adoção ilegal e até mesmo casamentos arranjados.

Segundo o delegado da PF Fábio Rodrigues, no caso de tráfico internacional de pessoas, muitas vítimas entram legalmente no outro país e só percebem que caíram em uma armadilha quando estão lá.

“Quando a gente fala em tráfico de pessoas, a gente tem que ter essa percepção de que a vítima, muitas vezes, se coloca nessa condição em busca de melhores condições de vida para si e a sua família. Levando com que, muitas vezes, não se torne público. A polícia não tem conhecimento dessa condição, dificultando o trabalho da polícia. A gente trabalha com inteligência no nosso setor de controle, acaba desvendando quadrilhas voltadas para essa exploração e levando os criminosos à condenação.”

Em abril de 2021 um homem foi preso, em Foz do Iguaçu, suspeito de ter contratado programas com garotas menores de idade por meio de criminosos, que aliciam mulheres para fim de exploração sexual.

A prisão ocorreu durante a Operação Harem, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular um grupo voltado ao tráfico de pessoas.

Segundo estimativas das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, a exploração sexual é a forma de tráfico de pessoas mais frequente, representando 79% dos casos, seguida do trabalho forçado com 18%.

Esses tipos de crimes atingem, principalmente, crianças, adolescente e mulheres. A faixa etária mais vulnerável é de jovens entre 15 e 17 anos.

“Muitas mulheres mais novas acabam aceitando, inicialmente são aliciadas para uma determinada atividade e chegando no local se deparam com uma outra realidade, aí entra a exploração sexual. Mas também existem outros casos de pessoas que são aliciadas para trabalharem ou ingressarem no país de forma ilegal, buscando melhor condição de vida. Mas chegando no país se deparam com o abandono, com a própria sujeição, a outras atividades mais degradantes, desumanos, caracterizando aí o contrabando de imigrantes”, disse o delegado.

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