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Toda mulher é incrível: conheça a Andreia Regelmeier

Andreia luta contra a depressão, as cobranças da sociedade e encarou a leucemia da filha sempre com o mesmo sorriso no rosto

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em

Velho Oeste

Andreia Regelmeier se criou no interior de Marechal Cândido Rondon, em Curvado. “Meus pais eram rígidos na educação, até porque éramos em duas meninas: minha irmã e eu. Apesar de ser tranquilo, eu sentia que aquele lugar era muito vago, eu tinha vontade de conhecer mais. Eu sentia que poderia ir além daquele sítio”.

Aos 16 anos, no Eron Domingues aconteceu uma seleção para a Caixa Econômica Federal e Andreia foi selecionada. “Fiz entrevista e uma pequena prova e passei em primeiro lugar”.

Charles Pinturas

Nessa época ela veio morar na sede do município rondonense e começou a trabalhar na Caixa. “Isso foi um salto enorme para eu me realizar como pessoa. Sempre vou agradecer muito por essa oportunidade porque tive colegas excepcionais, que me ensinaram lições para a vida inteira, não só no campo profissional, mas lições pessoais”, Andreia lembra.

Quando trabalhava lá, a rondonense morava com seu avô materno. Transferiu a escola para o turno noturno, fim de semana fazia curso de informática e ia para casa aproveitar a família.

Andreia lembra com muito carinho das lições que a transformaram na mulher que é hoje.

“Nunca vou esquecer de quando consegui comprar minha primeira calça jeans, na Farol Modas. Passei a comprar as roupas que eu gostava. Em casa, acabávamos usando roupas muito simples, muitas até usadas, que ganhávamos. E eu gosto disso até hoje. Ainda aceito roupas que não servem mais para outras pessoas, compro roupas em brechó porque precisamos reutilizar/ reciclar… Mas descobrir que eu poderia gastar o meu dinheiro como eu queria era uma sensação incrível! Aquela fase foi muito importante, eu me sentia poderosa”.

Hoje Andreia percebe como foi importante sair de casa e ter aquela visão de mundo.

“Tive que aprender um novo jeito de falar, eu precisava falar corretamente… aprendi como me posicionar, o jeito certo de sentar, de olhar para as pessoas…”

Como cada região tem seu sotaque, e em Marechal esta questão é muito forte. As pessoas mais velhas, que Andreia atendia na Caixa, pediam se poderiam falar com ela em alemão. “Eu não sabia falar, mas entendia e, para mim, atender as pessoas com tanto carinho era gratificante. E, assim, fui evoluindo e percebi que a mulher pode ir atrás dos seus sonhos”.

Chegou a época de fazer faculdade, e Andreia ainda não tinha certeza do que queria. Então, continuou trabalhando e ficou um ano sem estudar.

Nesse período, ela teve uma experiência bem diferente, trabalhou em uma escola municipal de Marechal Rondon e lembra das lições aprendidas:

“Trabalhar com as crianças é animador. Elas têm aquela inocência única. Quando te encontram, te abraçam, trazem uma florzinha, uma pedrinha e a gente sente que é de coração. Ali eu percebi a importância da educação no Brasil, o quanto podemos influenciar essas crianças e passar valores e coisas boas para uma geração. Dentro da escola, percebemos que a criança é como uma pedra preciosa que precisa ser moldada com muito carinho para que se formem ótimos cidadãos que farão da sua cidade, da sua vida e do mundo um lugar melhor”.

Em 2001, Andreia passou no vestibular de Educação Física. Fez a faculdade, trabalhou com musculação e com turma de apoio em Cascavel. Trabalhou com hidroginástica e ginástica laboral aqui em Marechal. “Com isso, percebi o quanto é importante cuidar da saúde e da mente, porque as duas estão juntas: a mente e o corpo precisam estar saudáveis”.

Apesar de gostar do curso, Andreia sentia que aquilo ainda não era bem o que queria. “Somos nós que sentimos se estamos realizadas ou não”, afirma.

Na época de faculdade, o fato de trabalhar o dia inteiro e estudar a noite, passar dias sem comer direito, voltar tarde para casa e ser cobrada de tantas maneiras, levou a jovem à depressão. “Mas não deixei que ela se empoderasse comigo. E venho lutando contra isso desde os 21 anos”.

Em 2015, já casada, Andreia optou por parar de trabalhar para engravidar. De volta a Marechal Cândido Rondon, cuidei de mim, engravidei, pesquisei muito sobre gestação. Em 2016, eu já tinha 32 anos, e a Sôfie nasceu. Ela foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Quando passamos de mulher e esposa para mãe, tudo muda”.

Como leu muito, amamentar, cuidar da casa e adaptar a rotina para cuidar da filha, foi tranquilo para Andreia.

“Decidi me dedicar ao máximo à ela. Enquanto a Sôfie estava acordada, eu conversava com ela, amamentava, brincava… e cuidava um pouquinho da casa. Se ela dormia, eu dormia junto. Quando o Eduardo chegava, ele cuidava da Sôfie e eu fazia algum serviço da casa ou vice-versa. Nossa prioridade era a nossa filha. Amamentei a Sôfie até os 2 anos e parei… Parei por mim, porque eu estava cansada e isso foi ótimo para o desenvolvimento dela: aí ela percebeu que tinha outra vida além do “peito da mamãe”, ela notou que tinha um pai e um mundo e amadureceu bastante”.

Conforme Sôfie crescia, as cobranças da sociedade chegavam com mais força à Andreia.

“Você não vai voltar a trabalhar? Vai ficar só em casa? Você não vai deixar a Sôfie na creche ou com a sua mãe? Mas, naquele momento eu via que precisava me dedicar ela. E qual é o problema nisso? O fato das mães ficarem em casa é muito criticado hoje, é como se fosse feio… Como se fosse obrigação da mulher trabalhar fora. E vendo como está o mundo hoje, dá para perceber a falta da mãe, a falta de atenção, do carinho, da educação, do companheirismo. As mulheres estão distantes dos seus filhos e todo o acalento é muito importante. O mundo precisa de amor, da palavra de Deus, de entender que temos alguém que nos ancora, não só nas tristezas, mas na alegria também. Alguém tem que fazer esse papel”.

Andreia optou por cuidar da Sôfie até os 3 anos. Quando poderia voltar a trabalhar, em 2018, a pequena foi diagnosticada com leucemia. “Minha vida virou do avesso, mas Deus me deu muita força e eu enfrentava todos os dias de tratamento com um sorriso no rosto, explicando a Sôfie o que estava acontecendo e pensando: Estou conseguindo passar por isso tão bem! Será que um dia vou desabar?‘. Passamos por tudo muito maduras”.

A Sôfie já está melhor, contudo, ainda faz quimioterapia com determinada frequência. E as pessoas continuam cobrando Andreia por estar em casa.

“Cuidar do meu lar também é um trabalho. Me dedico para que quando o meu marido chegue possamos ter um momento gostoso… Não há problema nenhum nisso, mas muitas pessoas não entendem. Não podemos nos obrigar a fazer coisas só porque a sociedade impõe ou só porque os outros estão fazendo. Em casa acabamos nos transformando, avaliando o que é mais importante”.

Ela não descarta a possibilidade de um dia voltar a dar aula, mas descobriu, no dia a dia, que gosta de outras coisas, e que ficaria bem mais feliz se puder colocar em prática o que faz bem ao seu coração e a sua alma.

“Hoje, ainda tomo um remédio para depressão, mas busco ajuda em outras fontes para me curar um pouco mais a cada dia. Sempre gostei de espiritualidade, do autoconhecimento, de observarmos o fora, o ao redor e não só o ego. Nunca deixei de ler um livro de auto ajuda, de assistir documentários e filmes que falam sobre isso, sobre a fé, sobre a importância de correr atrás do que queremos, de acreditar no que queremos. Tudo no mundo está mudando o tempo inteiro, nos obrigamos a mudar, a melhorar”.

A maternidade amadurece a mulher. Para Andreia, isso é nítido. “Começamos a ver a nossa mãe de uma forma diferente e a sentir um carinho especial por ela porque sentimos na pele como é realizar esse papel. A maternidade nos cobra mais amadurecimento, mais amor. Parece que precisamos ser perfeitas, e em alguns momentos, até esquecemos que a perfeição não existe. Se a criança cai, nos sentimos culpadas… se ela não come, achamos que a comida ficou ruim. Percebemos que precisamos nos cuidar e, muitas vezes, não conseguimos”.

Ela conta que se espelha em mulheres comuns, na sua mãe por exemplo, que é sinônimo de força. Sempre há uma mulher comum perto de nós, seja uma vizinha, uma amiga ou alguém da família, que mostra o quanto é forte, feliz e como é ter propósito.

“Nesta data, aproveito para lembrar a todas nós, para que cuidemos de nós mesmas, que também possamos tirar um tempo de tomar um banho mais demorado, passar um creme no rosto, nos arrumar do jeito que gostamos.

Somos cobradas como filha, mulher, mãe e profissional. Nós mesmas nos cobramos. Paremos de aceitar tantas cobranças. A perfeição não vai chegar, temos limites. Se não cuidarmos do eu, ele adoece.

Temos, sim, que ser fortes, pensar que conseguimos, correr atrás do que queremos, porém, sempre lembrando que tudo tem um limite.

Devemos ter o nosso próprio padrão, não seguir tudo o que os outros seguem, nem fazer tudo que fazem, muito menos deixar do que gostamos por causa dos outros.

Somos únicas e precisamos lembrar disso todos os dias.

Eu, por exemplo, tenho o meu estilo desde criança e isso é legal! Devemos nos conhecer e entender o que gostamos e queremos. Influenciadores podem nos ajudar a encontrar o nosso estilo, mas precisamos ter o nosso próprio jeito de ser.

Há muita competitividade no mundo, tanto boa quanto ruim: uma pessoa quer ser mais bonita que a outra, mais inteligente, postar fotos mais bonitas, ler mais, dizer que sofreu mais… isso acaba causando problemas, cansando as pessoas e criando conflitos. Entretanto, não precisamos comprar tudo, estudar tudo, entender tudo ou chegar em primeiro para sermos melhores, só precisamos olhar o lado bom, mostrar do que somos capazes.

Já alcançamos muitos objetivos: o trabalho fora, mostramos o quanto podemos em qualquer profissão, que podemos optar por ser ou não ser mãe, e isso deve ser respeitado. Porém, enxergar a mulher como um ser que, apesar de correr atrás das coisas e mostrar força, também é a uma mulher sensível, que precisa de carinho, que tem sensibilidade, precisa de uma atenção diferenciada, são coisas que não podem ser perdidas. Por trás da mulher que batalha, que fala alto, que se expressa bem e parece durona, também está alguém que precisa do outro”.

Seja simplesmente você! É isso que eu penso. Mostre quem você é. Não se esconda atrás de algo ou de alguém. Já conquistamos muito no mundo e o melhor é ser quem somos, mostrar o quanto somos importantes. Não tenha vergonha do que é.

Sinta-se realizada em ser quem é, com seu amadurecimento. Você pode trabalhar em casa ou fora, mas encontre uma maneira de se transformar e se reinventar. Não cabe a ninguém julgar o que queremos, cabe a todos respeitar uns aos outros.

Seja você, do jeito que gosta e do jeito que te faz feliz”.

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