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Perry McCarthy foi personagem de histórias bizarras com a não menos bizarra Andrea Moda

Inglês, que faz 60 anos de idade, embarcou na barca furada da equipe italiana e foi vítima de diversos incidentes em 1992; depois virou piloto secreto de programa de TV

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Foto: twitter.com/original_stig
Providência

F1 Memória celebra nesta quarta-feira o 60º aniversário de Perry McCarthy, ex-piloto inglês que “disputou” a temporada da Fórmula 1 em 1992. As aspas se devem ao fato de McCarthy jamais ter alinhado para uma largada nas suas dez tentativas. Ora bolas, por que então relembrar a trajetória do britânico? Porque foi uma trajetória com incidentes não menos do que bizarros.

Perry McCarthy pilota carro da Andrea Moda em Hockenheim, em 1992 — Foto: Reprodução
Perry McCarthy pilota carro da Andrea Moda em Hockenheim, em 1992 — Foto: Reprodução

Depois de um bom teste pela equipe Footwork em 1991 e de um treino pela Williams, McCarthy foi recrutado pela equipe Andrea Moda. Mas não de cara, e sim depois de uma história repleta de confusões nos bastidores como vamos ver. Digamos que o dono da equipe, Andrea Sassetti, estava chegando à Fórmula 1 com uma reputação nada abonadora e faria jus a todos os epítetos negativos que lhe seriam dados depois.

Dr. Pedro Wild

Dono de casas noturnas na Itália e de uma fabricante de calçados masculinos, Sassetti decidiu aproveitar a F1 como plataforma para suas empresas. De que forma? Comprando o que sobrou da moribunda equipe Coloni, que passara os campeonatos de 1990 e 1991 sem conseguir se classificar para nenhuma corrida.

A equipe contratou ex-funcionários da Coloni, e Sassetti levou a Kyalami, local da abertura da temporada, dois chassis antigos da equipe. Só que a Associação dos Construtores (Foca) exigia um depósito-caução de US$ 100 mil, dado que a Andrea Moda era uma nova escuderia. Sassetti não queria pagar sob a alegação de que havia comprado a Coloni e seus carros. Na marra, Alex Caffi deu algumas voltas na quinta-feira, enquanto Enrico Bertaggia nem saiu dos boxes. O time foi excluído do evento pelos comissários da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

Moreno milagrosamente classificou p carro da Andrea Moda para o GP de Mônaco de 1992 — Foto: Reprodução
Moreno milagrosamente classificou p carro da Andrea Moda para o GP de Mônaco de 1992 — Foto: Reprodução

Depois da farsa de Kyalami, Sassetti pagou a caução e anunciou que participaria do campeonato de 1992 com um chassis desenhado dois anos antes pela empresa Simtek – que teria equipe na F1 em 1994 e 1995. O problema é que o carro não ficou pronto para o GP do México, e Caffi e Bertaggia foram ao país a passeio. Os dois pularam fora da barca furada, e o bufão Sassetti bradou que tinha demitido os dois. Nesse contexto, surge o nosso herói do post de hoje.

McCarthy acabou contratado pela Andrea Moda, que também chamou Roberto Pupo Moreno para tentar ajudar com seu enorme conhecimento técnico. Só que, ao chegar ao Brasil, local da terceira etapa de 1992, o inglês não lhe teve dada a concessão da superlicença, documento exigido aos pilotos para correrem na F1. Para piorar, havia apenas um chassis pronto. Só que não…

Os parcos mecânicos enfrentavam dificuldades para montar o “novo” modelo S921. Precisou Moreno participar da operação numa oficina perto do autódromo de Interlagos para que o carro ficasse pronto. É claro que o brasileiro, apesar da sua qualidade indiscutível, não passou da pré-classificação, com um assustador tempo de 1m38s569, 22 segundos pior do que a marca da pole de Nigel Mansell (Williams). E McCarthy viu a comédia-pastelão de camarote…

Perry McCarthy empurra seu carro após parar na saída dos boxes — Foto: Reprodução
Perry McCarthy empurra seu carro após parar na saída dos boxes — Foto: Reprodução

Para a quarta etapa, em Barcelona, a Andrea Moda finalmente conseguiu aprontar os dois chassis! E McCarthy, após finalmente receber a superlicença, estreou na Fórmula 1! Mais ou menos, na verdade… Mal o inglês deixou a garagem para a pré-classificação, o carro quebrou. Perry andou risíveis 18 metros antes de parar. Moreno também ficou longe de completar a sessão, pois teve o motor quebrado devido a uma crônica deficiência de refrigeração.

Antes do GP de San Marino, Bertaggia tentou recuperar sua vaga na equipe com a promessa de um patrocinador de US$ 1 milhão, algo bem significativo para a época e que melhoraria muito as condições do time. Mas a FIA, numa clara retaliação aos incidentes de Kyalami, impediu a Andrea Moda de trocar McCarthy por Bertaggia. Enfurecido, Andrea Sassetti passou a escantear o inglês numa clara tentativa de fritá-lo e forçá-lo a se demitir.

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Foto: twitter.com/original_stig

Em Monte Carlo, de uma forma surreal e inacreditável, Moreno conseguiu a façanha histórica de não só passar pela pré-classificação como de colocar a Andrea Moda no grid. Mesmo numa pista de baixa velocidade que nivelava um pouco os carros, classificar aquela trapizonga para o GP de Mônaco mereceu aplausos entusiasmados de todo o paddock. Como McCarthy não era Moreno, nem furou a pré-classificação. Já o brasileiro, claro, abandonou a prova com o motor estourado.

Alguns patrocinadores pontuais surgiram, mas aquele espasmo de “competitividade” jamais se repetiria, e Sassetti continuaria mostrando suas “credenciais”. Após dar calote na Judd para o fornecimento dos motores V10, a equipe ficou sem propulsores para o GP do Canadá. O time ainda arranjou uma unidade emprestada com a Brabham, e apenas Moreno pôde entrar na pista na pré-classificação. Ficou em último, enquanto McCarthy voltou a ficar a ver navios.

Para piorar, a Andrea Moda sequer entrou na pista na França: uma greve de caminhoneiros atravancou o trânsito na rota de Magny-Cours e, enquanto as demais equipes conseguiram escapar do congestionamento e chegaram a tempo dos treinos, o caminhão da Andrea Moda ficou preso. Moreno e McCarthy ficaram literalmente a pé.

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Foto: twitter.com/original_stig

Todos os patrocinadores deixaram a Andrea Moda, e o próprio Sassetti pagou a ida da equipe à Inglaterra. Lá, de forma inacreditável, o cada vez mais escanteado McCarthy foi mandado à pista com pneus de chuva no asfalto seco! Já na Alemanha, Perry estava distraído jogando video-game nos boxes e perdeu uma pesagem! Foi desclassificado antes mesmo de entrar na pista… Na Hungria, Perry só foi mandado à pista a 45 segundos do fim da pré-classificação, sem tempo de abrir volta lançada.

A FIA, já incomodada com a péssima imagem que a Andrea Moda dava ao esporte, ameaçou a equipe de exclusão do campeonato caso não fossem dadas as mínimas condições de trabalho a McCarthy. Com a ausência da Brabham, a Andrea Moda estaria livre da pré-classificação e disputaria diretamente a vaga nos grids dali em diante. Mas em Spa-Francorchamps Sassetti foi preso no paddock por supostamente falsificar notas fiscais de peças de automóveis. Imediatamente, a Andrea Moda foi expulsa da F1.

Antes disso, o ato final de Perry McCarthy foi tétrico. Disposto a arriscar tudo na sua volta lançada, o inglês bateu com violência na famosa e perigosa curva Eau Rouge. Perry não se machucou, mas depois se soube o motivo da escapada… McCarthy foi mandado à pista com uma parte da direção quebrada, extraída do carro de Moreno. Bizarro, para não dizer criminoso.

– Em Spa, eu saí e disse ‘”ste carro não vai durar muito, então vou colocar uma volta banzai” porque eu conhecia Spa e tinha tido sucesso lá. Então eu pensei que íamos dar uma volta e ir totalmente para fora imediatamente. Entrei na Eau Rouge, e a direção travou. Eles sabiam que a direção estava flexionando – disse McCarthy ao site Race Fans.

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Perry McCarthy, Alex Zanardi e David Coulthard testaram o Benetton em 1992. Foto: twitter.com/original_stig

Perry chegou a testar por Williams e Benetton, mas jamais teve uma chance de correr. Fora da Fórmula 1, McCarthy passou a competir em provas de turismo e até disputou as 24 Horas de Le Mans. Mais tarde, virou comentarista e ainda foi o personagem Stig no programa Top Gear da BBC – o piloto secreto sempre marcava tempos que fossem referências aos testes em carros no show. Perry ficou no programa por duas temporadas, em 2002 e 2003, e manteve o segredo por muitos anos.

Fonte: Ge

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