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Donas de Fuscas criam clube em Foz do Iguaçu: ‘O amor pelos carros antigos também é nosso, não só dos homens’
Criado há quase dois anos, grupo com 52 mulheres promove empoderamento feminino com aulas de mecânica e discussão sobre temas como violência doméstica. ‘Fuscas modelos’ ainda divulgam a cidade em atrativos turísticos.
Eles são antigos e têm o próprio charme. Não à toa, conquistaram o coração de várias mulheres de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, que decidiram comprar um Fusca para chamar de seu. Assim surgiu o clube Darling Beetle Foz, com mais de 50 proprietárias do carro tão queridinho, que chegou ao Brasil em 1959.
A ideia partiu da Natali Cujari, que chama de Alice um Fusca de 1969. O desejo pela compra do modelo apareceu depois de ver o Fusca Herbie, do clássico filme “The Love Bug” ou “Se meu Fusca falasse”. Em 2019, a aquisição aconteceu e o clube nasceu.
“A gente reforça que a mulher pode e deve fazer o que tem vontade. Enfrentamos preconceito o tempo todo, mas precisamos mostrar que o amor pelos carros antigos também é nosso, não só dos homens. É um amor difícil de explicar, se me oferecer qualquer outro carro não quero, é uma coisa única.”
Segundo a fundadora do clube, a iniciativa foi criada com o objetivo de empoderar e aproximar essas mulheres.
Durante a pandemia da Covid-19, as atividades têm sido adaptadas para não gerar aglomeração. Mas antes disso, o grupo promovia cursos de mecânica e encontros.
As meninas continuam mantendo contato de forma remota, com videochamadas, e promovendo lives para a discussão de temas como violência doméstica.
Natali contou que o grupo também busca divulgar a cidade, com fotos dos Fuscas nos atrativos turísticos de Foz do Iguaçu.
Algumas das imagens foram feitas na Itaipu Binacional, no Marco das Três Fronteiras, na Ponte da Integração entre Brasil e Paraguai, e na Catedral Nossa Senhora de Guadalupe.
Um Fusca e muitas histórias
Foi por viver histórias incríveis com a amiga em um carro, é que Lola Aleixo, de 24 anos, quis ter um Fusca. Chamado de Astro, o Fusca de 1978 foi escolhido pelo destino antes mesmo dela saber disso.
Lola contou que ia comprar uma rifa para o sorteio de um Fusca, mas a amiga acabou vendendo o número dela do sorteio para outra mulher. Por azar ou não, o número que seria de Lola foi sorteado.
Ao conhecer a mulher que ganhou o carro, Lola tentou comprá-lo. Após algumas negociações, finalmente, o Astro passou a ser dela.
“Eu sabia que ele ia gerar várias histórias, mas não imaginava que seriam tantas. Não pretendo comprar outro, não pretendo trocar, porque tive tantos momento bons com ele, gerou um valor sentimental. Eu me apaixonei por ele desde que o vi. Era para ser meu”, contou.
Entre várias lembranças com um Fusca, a jovem contou que teve grandes momentos com uma amiga que faleceu recentemente por causa do câncer. Motivo pelo qual o carro se tornou ainda mais especial.
As risadas foram inevitáveis quando ela se recordou de algumas histórias, como quando Natali buscou o Astro com um gancho de varal para levar o carro até uma mecânica, ou quando vários carros modernos atolaram a caminho de uma chácara, menos o fusquinha dela.
Laço feminino
De acordo com Lola, que é integrante e uma das organizadoras do clube, o grupo se tornou uma família.
“Acredito que falta união entre as mulheres em alguns meios. Muitas vezes, as mulheres tentam competir entre si, na beleza, no profissional. Mas no nosso grupo tem advogadas, policiais, mulheres com cargos altos, e tem meninas que ainda estão conquistando a autoestima, e no clube uma dá força para outra. Então temos no grupo o que acho que ainda falta no meio feminino. Ainda estamos conquistando esse espaço, mostrando que juntas conseguimos tudo de forma mais fácil do que sozinhas”, contou.
As integrantes relatam que fizeram grandes amizades e não imaginavam que os carros seriam o elo para aproximar tantas mulheres.
Como os veículos são antigos, é normal que os Fuscas as deixem na mão algumas vezes. Mesmo assim, isso não é problema, pois as meninas sempre se ajudam.
De acordo com Natali, o clube ainda sofre preconceito por ser formado por mulheres. Entretanto, elas afirmam que sabem da importância dele para lutarem pelo próprio espaço.
“Aprendi várias coisas no meu fusca, coisas que diziam que era apenas para homem, como a mecânica, mas fui mexendo, vasculhando e consegui resolver o problema. O fusca e o clube têm trazido experiência para mim, aprendizados. Se era algo mais do meio masculino, agora estamos aí”, complementou Lola.
Com informações/G1Paraná