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Rombo de R$ 20 bilhões na Americanas faz novo CEO renunciar ao cargo

Foi descoberta uma “inconsistência” contábil no balanço da companhia

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(Crédito: Pixabay)
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Há apenas 11 dias no cargo, o CEO da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil, renunciou ao cargo na quarta-feira (11), à noite, depois de ter sido descoberta uma “inconsistência” contábil no balanço da companhia da ordem de R$ 20 bilhões.

Mas o que aconteceu com esses R$ 20 bilhões? Qual é essa “inconsistência”? Como isso ocorreu numa empresa que tem como acionistas de referência a 3G Capital, do badalado trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles?

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Afinal, a cifra é gigantesca. Para se ter ideia, no último balanço financeiro da Americanas, de setembro, a empresa informou ter R$ 47 bilhões em ativos e patrimônio líquido de R$ 14 bilhões.

O comunicado enviado pela empresa ao mercado não deixa claro o que aconteceu. Mas fontes ouvidas pela agência de notícias Bloomberg afirmam que muito provavelmente os R$ 20 bilhões são originários de uma operação conhecida no jargão financeiro como forfait, muito comum em empresas de varejo, e que deveria ter sido registrada como dívida no balanço contábil.

forfait – também conhecido como “risco sacado” – funciona da seguinte maneira: a companhia tem uma dívida a pagar, por exemplo, com a compra de mercadorias. E faz um acordo com o banco que a financiou para que este libere o dinheiro primeiro para o fornecedor. Então, na sequência, a varejista quita a dívida com o banco pagando juros pelo prazo do empréstimo.

É uma maneira de o banco financiar a cadeia de suprimentos da empresa, com a varejista na prática injetando recursos em dinheiro no caixa de seus fornecedores.

– O problema é que tudo indica que essa quantia (em forfait) foi subestimada por anos, ou não foi lançada de maneira correta no balanço contábil. E ainda há dúvidas sobre o tamanho real desse problema – diz um gestor que preferiu não se identificar.

Ter lançado os R$ 20 bilhões de maneira indevida no balanço financeiro pode não representar um impacto direto na reserva de caixa da empresa – o valor da dívida apenas “migraria” de uma linha contábil para outra.

Mas há possíveis efeitos em cascata. Deixar claro o valor em forfait pode mudar os parâmetros de endividamento da empresa e, consequentemente, as informações que a varejista apresentou ao obter crédito no mercado, as chamadas covenants, ou garantias. Isso pode ser o gatilho para que credores demandem uma antecipação no pagamento de dívidas.

– O texto do comunicado (divulgado pela empresa ao mercado) não está totalmente claro, mas indica que esse montante (os R$ 20 bilhões) foi classificado como dívida junto a fornecedores e não como dívida sujeita a pagamento de juros – afirma um ex-diretor financeiro de uma varejista.

Houve fraude?

Outro gestor que acompanha de perto o setor acrescentou que há outras “opções contábeis” no balanço de varejistas, o que justificaria as inconsistências sem necessariamente ter havido uma fraude.

Mas ele ressalta que o tamanho dessa “inconsistência” (R$ 20 bilhões) pode explicar o temor da nova administração “que claramente não quer levar a responsabilidade estatutária pelo que vem a seguir”, o que deixa e empresa sob enorme pressão.

No último dia 3 de janeiro, logo após assumir o cargo, Rial fez uma live com 40 mil empregados da empresa e reforçou seu ânimo com o novo emprego e suas expectativas positivas para a companhia:

– Claramente ele não tinha ideia deste terremoto – disse uma fonte familiarizada com o tema. – O problema veio à tona a partir de uma queixa do comitê de auditoria – informa a fonte.

Para além dos R$ 20 bilhões a esclarecer, a saída de Rial e do diretor-financeiro da empresa, André Covre, que chegou ao cargo também este ano, será um duro golpe para a Americanas. Só este ano, as ações da companhia haviam subido 24,35% até quarta-feira, na expectativa de que nova gestão daria uma guinada na empresa. Investidores de peso, como Blackrock, compraram ações da Americanas nessa onda de otimismo.

Possível aporte na empresa

Por isso, a renúncia de Rial e o problema de R$ 20 bilhões que veio à tona agora devem cair como uma bomba no mercado. Para tentar aplacar os temores dos investidores, a 3G Capital – fundo de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles que controlou a empresa por quatro décadas e hoje é acionista de referência da companhia – informou ao mercado que pretende “continuar suportando a companhia”.

Em português claro, para gestores que acompanham a crise, isso significa que Lemann, Sicupira e Telles muito provavelmente terão que por a mão no bolso e injetar dinheiro na companhia para estancar a crise.

Analistas estarão atentos também se a empresa vai conseguir novas linhas de crédito no mercado. E dão como certo de que a auditoria externa que revisou os últimos balanços da empresa – no caso, a PwC – será alvo de questionamentos, assim como os responsáveis, dentro da Americanas, por chancelar os seus números.

– Nos Estados Unidos, este seria um caso para class action (ação apresentada por investidores à Justiça para pedir reparação por danos financeiros). No Brasil, o escrutínio ficará a cargo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – explica um gestor.

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