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‘Fui para o porão e pensei: isso está acontecendo aqui?’, diz brasileiro que estava em bar gay atacado por atirador em Oslo

Em entrevista ao g1, Rodrigo Blum-Jansen, de 37 anos, contou os momentos de terror que viveu em ataque armado que deixou deixou 2 mortos e mais de 20 feridos

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|Foto: Reuters|
Rui Barbosa

Na véspera da Parada LGTBQIA+ deste ano de Oslo, uma das mais tradicionais da Europa, que aconteceria no sábado (25), um homem parou em frente ao London Pub, o bar gay mais antigo da capital norueguesa. Tirou duas armas da mochila e disparou contra os frequentadores do local, matando dois e ferindo outros 21. A maioria deles segue internada.

O brasileiro Rodrigo Blum-Jansen, de 37 anos , gerente de um escritório de arquitetura da cidade, estava entre os frequentadores do bar, que, após os tiros, se refugiaram em um porão do local. Ao g1, ele relatou o que viveu nos 30 minutos em que passou escondido no subsolo, ao lado dos feridos. E contou como a cidade, pouco acostumada a casos de violência – nem os policiais andam armados -, vive agora um sentimento de revolta.

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“Estou com mais raiva do que tristeza. Para mim, o bar gay é muito mais do que um lugar de diversão. É o único lugar que eu posso ir e me sentir 100% eu mesmo, e isso para mim é um ato político. É como se estivesse em uma festa em casa, e alguém que não gosta desta festa veio e apagou as luzes”, disse.

Segundo Rodrigo, o atirador, um norueguês de origem iraniana que foi preso na hora, disparou da rua contra clientes do bar que estavam na varanda do local. Naquela noite, o movimento na cidade era intenso por conta das celebrações do Orgulho LGBTQIA+.

“Ouvi o barulho dos tiros mas achei que eram copos de vidro caindo no chão, então nem dei muita atenção. A cidade é tão tranquila que jamais pensaria que seriam tiros”, relatou o brasileiro. “De repente, veio uma onda de pessoas na nossa direção, empurrando e gritando que estavam atirando. Esta é uma frase que jamais ouvimos aqui”.

O grupo então quebrou uma porta que dá para um porão. Enquanto descia os degraus apertados, Rodrigo percebeu que um homem em sua frente estava ferido: “Ele caiu de barriga para o chão, e eu vi que ele tinha um buraco na nuca, mas conseguiu se levantar e andar devagar”.

Ao chegar no subsolo, o brasileiro percebeu que se tratava de um beco sem saída. “Não tinha janela, não tinha nada. Eu logo pensei na boate Kiss, e depois em Utoya (ilha ao lado de Oslo onde, em 2011, um atirador invadiu um encontro de jovens e matou 69 deles). Olhei para um amigo e disse: é isso, acabou”.

Depois de cerca de 15 minutos de silêncio total e angústia entre os que se escondiam no porão, sem saber o que acontecia lá fora e se o atirador seguia no bar, a polícia chegou ao subsolo.

“Eles já entraram perguntando se havia alguém machucado. Tinha muita gente com sangue no corpo, mas em pé. Os bombeiros foram tirando os machucados e, 15 minutos depois, nós saímos por uma outra porta, que dava acesso ao bar ao lado”.

Quando saíram, o cenário, segundo Rodrigo, já não tinha nada a ver com a Oslo que conhece desde 2009, quando foi morar na cidade: a área estava toda isolada, com muitas coisas jogadas no chão, e helicópteros sobrevoavam o local. Segundo ele, a bolsa de onde o assassino tirou as armas continuava na frente do bar.

Liberado pela polícia, o brasileiro foi para casa ainda em choque. “Só quando cheguei em casa percebi que passei esse tempo inteiro com um copo de cerveja na mão, que eu bebia quando houve os tiros. Ninguém acreditava. No porão, nos perguntávamos: isso está mesmo acontecendo aqui?”, relata.

O atirador, que segue detido, já tinha registro na polícia norueguesa por ter se integrado a um movimento radical islâmico e sofrer de distúrbios mentais. Segundo a polícia, ele se nega a prestar depoimento, e diz que só falará se for em uma transmissão ao vivo.

Após o episódio, todas as celebrações do Orgulho LGBTQIA+ que aconteceriam no fim de semana na cidade, inclusive o desfile de sábado, foram canceladas por recomendação da polícia. No entanto, na segunda-feira (27), moradores de Oslo, inclusive o brasileiro Rodrigo Blum-Jansen, realizaram a Parada LGBTQIA+, mesmo proibida.

“Quisemos mostrar que não estamos com medo, que não vamos recuar. Quando vem um cara desses e consegue interromper a Parada, isso é muito perigoso para o movimento”, afirma.

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