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Mulheres relatam ter sido dopadas por motoristas de app; toxicologista diz que produtos químicos jogados no ar podem levar à perda de sentidos

Passageira de transporte por aplicativo disse ter sido dopada por motorista em São Paulo durante corrida. Casos semelhantes também foram relatados por mulheres de outros estados. A inalação de solventes como éter, clorofórmio ou metanol poderia provocar entorpecimento e desmaio em poucos segundos.

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Imagem ilustrativa de spray com produto líquido. — Foto: Gustavo Fring/Pexels
Velho Oeste

Produtos químicos borrifados no ar podem provocar tontura, visão embaçada e até desmaios com perda dos sentidos. Segundo especialista, solventes como éter e clorofórmio podem ter efeito imediato semelhante ao do “boa noite, Cinderela”, droga utilizada por criminosos para dopar vítimas.

Nesta quarta-feira (11), uma passageira de transporte por aplicativo afirmou ter sido dopada por um motorista durante uma corrida em São Paulo. Ela contou ao g1 que sentiu um forte cheiro de produto químico no carro, e logo em seguida começou a sentir zonza e com a visão embaçada (leia mais abaixo). Nos últimos meses, outras mulheres usaram as redes sociais para fazer relatos semelhantes, e casos parecidos estão em investigação no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.

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De acordo com a farmacêutica toxicologista Paula Carpes, as vias respiratórias transportam substâncias químicas de maneira muito rápida para a corrente sanguínea. A inalação de solventes como éter, clorofórmio ou metanol poderia provocar entorpecimento e desmaio em poucos segundos, dependendo da concentração do produto.

“O solvente se espalha muito rápido, ainda mais em ambiente pequeno como o carro. Borrifar direto na vítima, como se fosse um aromatizador, ou mesmo no sistema de ar condicionado, poderia ter esse efeito. Éter e clorofórmio são muito potentes, são depressores do sistema nervoso central. [A pessoa] vai ficar lenta, com a visão turva e pode gerar o desmaio”, afirma.

A toxicologista aponta ainda que, antes do advento da anestesia, o clorofórmio era utilizado na medicina para entorpecer pacientes durante cirurgias e até mesmo amputações. “Esses produtos são de uso controlado em laboratório, mas também são vendidos clandestinamente na internet. Isso facilitou muito todo tipo de crime.”

“Até então, o clássico golpe desse tipo de deixar a vítima entorpecida era o ‘boa noite, Cinderela’, que era colocado dissolvido em bebida. Essa droga também pode fazer o efeito se for borrifada, mas não tem a característica do cheiro forte como os solventes”, diz.

Máscara barra o efeito

Ainda segundo a especialista, uma máscara do tipo PFF2 ou N95 bem ajustada ao rosto seria capaz de proteger da exposição aos solventes.

Esses equipamentos de proteção individual já eram utilizados por trabalhadores que lidam substâncias químicas voláteis, mas o uso foi popularizado com a pandemia de Covid-19 porque também protegem da contaminação pelo coronavírus.

“Estando sem máscara, dificilmente o motorista também não sofreria o efeito de entorpecimento em ambiente fechado. Mas, estando principalmente com uma n95 ou PFF2, já seria suficiente. Elas são usadas na indústria para trabalhadores com solvente”, afirma.

Relato de passageira

Passageira relata ter sido dopada por motorista de aplicativo em São Paulo. — Foto: Reprodução/Instagram

A fotógrafa Bruna Custódio, de 32 anos, relatou nas redes sociais nesta quarta-feira (11) que foi dopada por um motorista de transporte por aplicativo com um produto químico lançado no ar dentro do carro, durante corrida na noite desta terça-feira (10). Em nota, a 99 afirmou que bloqueou o motorista e mobilizou uma equipe para dar suporte à passageira.

Ao g1, Bruna afirmouque saía do trabalho por volta das 20h30 na Vila Mariana, na Zona Sul, quando pediu o carro da 99 para encontrar amigas em Pinheiros, na Zona Oeste.

“Ele andou mais ou menos 2 km, quando chegou perto da Rua Domingo de Morais. Quando parou no farol, ele olhou para trás e fechou o vidro dele. Eu comecei a sentir o cheiro forte, cada vez mais forte. Mas tudo aconteceu muito rápido. Aí eu comecei a ficar tonta”, diz Bruna.

Segundo a fotógrafa, o motorista não fechou o vidro dela. Ela chegou a colocar a cabeça para fora da janela, mas foi ficando cada vez mais zonza.

“Coloquei a cabeça pra fora pra sentir o ar e pra ver se não estava vindo de fora o cheiro, porque tinha um caminhão [perto]. Mas eu voltei a cabeça pra dentro e o cheiro vinha claramente de dentro. Aí o farol abriu, ele andou, e eu comecei a ficar mais zonza e com a visão turva. Parecia que o carro estava cheio de pó branco, mas era minha visão.”

Bruna diz ainda que pediu para que o motorista parasse o carro imediatamente, e mandou mensagem para sua namorada. Ela também tirou uma foto do veículo.

“Eu saí e fiquei com medo de fazer alguma coisa porque estava ficando mais tonta. Se eu demorasse mais um pouco acho que não conseguiria nem mandar mensagem.”

A fotógrafa relata que agiu rápido pedindo para descer do veículo porque o mesmo já havia acontecido com uma amiga havia cerca de dez dias. Há também relatos semelhantes nas redes sociais de mulheres de outros estados.

Caso no Rio Grande do Sul

No início de março, a jovem Evelyn Moraes, de 22 anos, relatou ter sido intoxicada durante uma viagem em um carro de aplicativo em Porto Alegre (RS).

De acordo com Evelyn, o motorista contou que produzia aromatizantes para carro e perguntou se ela gostaria de sentir o cheiro. Como a jovem se negou a aspirar o produto, o motorista teria fechado as janelas do carro e ligado o ar-condicionado. Ela então começou a se sentir tonta e decidiu se atirar do carro em movimento. Ela teve lesões no quadril e na perna.

“Ele ligou o ar-condicionado. Quando chegou perto da minha casa, eu comecei a ficar tonta. O ar dele, no canto do motorista, estava fechado, só estava aberto o que vinha diretamente no meu rosto. Senti um cheiro estranho, de enxofre, e comecei a ficar tonta. Quando vi que ia desmaiar, me atirei do carro em movimento”, disse em entrevista ao g1.

Posteriormente, a Polícia Civil concluiu que o motorista não cometeu crime, e autora da denúncia foi indiciada por denunciação caluniosa. A Polícia Civil diz que não encontrou elementos de que Evelyn tenha se jogado do carro em movimento, mesmo após analisar imagens de câmeras de segurança e o laudo de atendimento do hospital onde a jovem foi atendida.

Ao g1, Evelyn sustentou tudo o que disse à polícia, e disse que vai reunir provas e acionar seu advogado. “Eu não vou desistir disso não. Eu tinha que ter sido estuprada pra que acreditassem em mim?”, afirmou.

O que diz a 99

“A 99 lamenta profundamente o ocorrido com a passageira Bruna Custódio. Assim que tomamos conhecimento, bloqueamos o motorista e mobilizamos uma equipe que está em contato com a Bruna para acolhimento e suporte necessários.

Ressaltamos que a empresa não tolera e repudia qualquer forma de assédio. Investimos constantemente em ferramentas de segurança para a prevenção, proteção e acolhimento de todos os usuários, principalmente para as passageiras. Entre as medidas estão a opção de compartilhar rota com contatos de confiança, monitoramento da corrida, gravação de áudio e botão para ligação direta para a polícia.

Passageiras que tenham experienciado essa situação devem reportar imediatamente para a empresa, por meio de seu app, ou no telefone 0800-888-8999 para que as medidas cabíveis sejam tomadas. Trabalhamos 24 horas por dia, 7 dias por semana, para cuidar da proteção e suporte dos usuários.”

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