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Dia do Historiador: os desafios da profissão no Brasil atual

Historiadores conseguem fazer uma estrada paralela de momentos antigos e atuais

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Providência

Estudiosos do passado da humanidade têm espaço cativo no calendário há 12 anos, quando foi instituído o Dia do Historiador. Comemorada em 19 de agosto, a data foi criada pela Lei nº 12.130/2009, em homenagem ao nascimento do diplomata e escritor pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910).

Joaquim Nabuco

No município de Marechal Cândido Rondon, através da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, os historiadores se propõem ao resgate, preservação e reflexão sobre os vestígios deixados pela sociedade no município e na região ao longo dos anos.

Gramado Presentes

Historiadores conseguem fazer uma estrada paralela de momentos antigos e atuais. E cada historiador trabalha de uma maneira. Mas, de uma forma ou de outra, nos contam histórias incríveis que nos ajudam a entender quem somos, qual o sentido das diferentes culturas, onde estivemos, aonde podemos parar e daí por diante.

Daqui a alguns séculos o mundo viverá uma nova transformação significativa e tentar sentir as sensações que sentimos hoje fará parte da história das próximas gerações. Continuar esse arquivo de informações e passá-lo para as futuras gerações faz com que nós vivamos de alguma forma nas memórias de quem está por vir. O papel dos historiadores é preservar o passado. Mas, como será que as informações que temos hoje serão armazenadas ao longo das próximas décadas? Precisamos também buscar maneiras de preservar toda a história vivida no século XXI. E talvez essa seja uma das preocupações dos nossos historiadores.

DESAFIOS ATUAIS

Três historiadores, autores de livros publicados pela Cepe (Companhia Editora de Pernambuco) falam sobre o desafio de exercer a profissão num País onde o presidente da República tenta desconstruir fatos históricos documentados.

Elizabet Remigio, Raphael Alberti e Antonio Montenegro

“Estamos vivendo um momento histórico onde o negacionismo encontra-se muito presente. A negação à escravidão, a crítica às comunidades afrodescendentes e indígenas, a exaltação dos tempos sombrios da Ditadura Civil-Militar passaram a integrar os discursos oficiais do Governo Federal. As redes sociais tornaram-se o palco da disseminação de fake news e por esse motivo o trabalho do historiador(a) torna-se ainda mais necessário”, afirma a historiadora Elizabet Remigio, autora do livro As Brigadas Muralistas e as Campanhas de Arraes (Cepe, 2017).

Para Raphael Alberti, que escreveu o recém-lançado título Um Espião Silenciado (Cepe, 2020), disponível na versão e-book, a situação é complexa. “É um desafio maior ainda exercer uma profissão que tem como princípio básico as pesquisas e se deparar com o corte maciço de bolsas de estudos nas pós-graduações, desconsiderando o grande serviço científico, histórico e cultural que ofertamos à sociedade brasileira”, declara o historiador.

“O governo que está aí, apoiado por uma parcela da sociedade, coloca diversos desafios. Um deles é o negacionismo histórico. Não apenas em relação ao período da ditadura, que por sinal outros militares também o fizeram. Porém um discurso e uma prática negacionistas que atingem diretamente a saúde da população ao negar a gravidade da pandemia e em defender um medicamento sem comprovação científica”, declara Antonio Torres Montenegro, professor de história da Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro Travessias: Padres Europeus no Nordeste do Brasil (1950-1990), publicado pela Cepe em 2019.

O negacionismo, continua o historiador, “se transforma numa estratégia política, ao negar os fatos, todas as vezes que ele contraria seus interesses e o do seu grupo. Logo, o desafio para o historiador – para alguns – é como construir novas estratégias de análise histórica, política, social para uma voz de poder que ao expressar uma perspectiva ‘negacionista’ dos fatos em diferentes campos do conhecimento, alcança um significativo apoio de diversos segmentos da sociedade”, avalia Antonio Montenegro.

Sobre o veto do presidente da República ao projeto de lei do Senado que regulamenta a profissão de historiador, Raphael Alberti fez a seguinte consideração: “É um retrocesso e um ataque à profissão que tanto incomoda o presidente por propiciar à população um pensamento crítico sobre os acontecimentos da nossa história. Isto incomoda o presidente que acredita que historiadores deveriam estar a serviço de uma verdade única, a que lhe mais agrada, geralmente feita sem nenhuma base científica”, diz ele.

A decisão do presidente, para Antonio Montenegro, mostra que “estamos diante de um político autoritário, em que seus discursos e práticas podem ser lidos como ‘eu e meus apoiadores somos a medida de todas as coisas’.” O veto, publicado no fim de abril, foi rejeitado em 12 de agosto último numa sessão do Congresso Nacional, observa Elizabet Remigio. “O Estado Brasileiro passou a reconhecer o nosso trabalho. Porém, novos desafios virão com o registro profissional e a construção de lugares institucionais. O exercício do profissional historiador é fundamental para o fortalecimento da democracia”, sublinha a historiadora. A lei que regulamenta a profissão foi promulgada nessa terça-feira (18).

*com informações de CEPE e MEC

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