Fale com a gente
Sinatep curso

Economia

Serviços tiveram o pior desempenho do PIB em 2020; entenda o que aconteceu

Descontrole da pandemia da Covid-19 impactou especialmente o setor, que tem mais necessidade de presença física de seus consumidores. Recuperação depende de maior adesão aos protocolos de prevenção e de aceleração da campanha de vacinação.

Publicado

em

Foto: google
lift training

O setor de serviços teve seu pior desempenho da história em 2020. A queda acumulada foi de 4,5%, destaque negativo pelo lado da oferta entre todos os segmentos do PIB do ano passado, divulgado nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, o PIB recuou 4,1% em 2020.

Os serviços são especialmente importantes pelo peso que têm na economia do Brasil: representam mais de 70% de toda a atividade do país e empregam 55 milhões de brasileiros.

Academia Meu Espaço

O resultado negativo registrado em 2020 é consequência direta do descontrole da pandemia da Covid-19, que impossibilitou o retorno à normalidade de atividades que demandam a presença física dos consumidores.

Dados da PMS

O confinamento para conter o vírus impactou principalmente os serviços prestados às famílias (restaurantes, bares e hotéis, entre outros), que tiveram queda de 35,6% no ano passado, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (que não inclui entre os serviços os dados do comércio, como acontece com o PIB).

Houve recuos significativos também em serviços profissionais, administrativos e complementares, de -11,4%, e em serviços de transporte, que recuaram 7,7% — com destaque para o subitem de transporte aéreo, que teve queda de 36,9% no período.

Particularidade da pandemia

Em toda crise, o setor de serviços costuma sofrer. Pelo seu peso no resultado e por ter o consumo das famílias como motor, as quedas costumam ser próximas do resultado geral do PIB. Mas, em 2020, foi pior.

O caráter único da pandemia do coronavírus foi o impacto desigual sobre o PIB como um todo. A queda do comércio e indústria foram menores que o esperado por conta dos novos hábitos de consumo do brasileiro. E a necessidade de ficar em casa fez o gasto com serviços ser substituído pela compra de bens.

No ano passado, a queda de renda da população, esperada nas crises, foi atenuada pelo Auxílio Emergencial, pela liberação de saques emergenciais do FGTS e pelo programa de preservação de empregos (BEm).

Esse fenômeno possibilitou a existência de campeões da crise, como supermercados, comércio eletrônico, venda de materiais de construção, móveis e eletrônicos. São todas atividades que se beneficiam da permanência em casa. Do lado dos perdedores, estão atividades do setor de serviços entre as principais quedas.

Comércio de rua reabre no Centro de Santos com movimento tranquilo | Santos  e Região | G1
Foto: Google

Pior ano do setor

O Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) tem um histórico desde os anos 1980 do PIB brasileiro que confirma 2020 como o pior ano para os serviços. Antes, o momento mais dramático foi a dupla queda do setor na crise de 2015 e 2016: perdas de 2,7% e 2,2%, respectivamente. A projeção da FGV era uma queda de 4,7% em 2020.

Aluguel em Foz do Iguaçu - 7 pontos comerciais para alugar em Foz do Iguaçu  - Mitula Imóveis
Foto: Google

“Em crises passadas, o efeito era homogêneo. Agora, temos divisões que estão muito abaixo do que já estiveram na história e outras beneficiadas”, diz Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV e coordenadora do Monitor do PIB.

Nos cálculos do Monitor do PIB, com base nas pesquisas mensais do IBGE, serviços de Tecnologia da Informação tiveram alta de 8,3% no ano, enquanto transporte aéreo acumula queda de 36,9%.

O mesmo aconteceu em outros setores. O comércio, por exemplo, tem alta de 10,6% nos resultados anuais de móveis e eletrodomésticos e de 10,8% em material de construção, mas também tem tombos de 22,7% em vestuário e calçados, e de 30,6% em livros, jornais, revistas e papelaria.

“Vai ser interessante observar a possível normalização da economia nos Estados Unidos, que estão com vacinação acelerada e com nova rodada de distribuição de renda. Aqui, enquanto esses segmentos prejudicados não decolarem, o PIB não decola”, diz Silvia, do Ibre/FGV.

Vacinação lenta

Observar os EUA será interessante porque é o país de dimensões (e descontrole da pandemia) semelhantes ao Brasil. A meta de vacinação do presidente americano Joe Biden é aplicar 150 milhões de doses nos 100 primeiros dias de governo. Na semana passada, o país alcançou 50 milhões de vacinas aplicadas e observa queda vertiginosa de mortes e novos casos confirmados.

Segundo o levantamento do jornal “The New York Times”, a média móvel de mortes caiu 21% e a de novos casos, 26% nos 14 dias até 28 de fevereiro, frente a duas semanas antes. A ideia do governo americano é imunizar toda a população até julho para que o verão (no hemisfério norte, inverno aqui) tenha ares de normalidade, o que empolga o setor de serviços por lá.

No Brasil, menos de 7 milhões de doses foram aplicadas até aqui e a média de mortes está nos mais altos níveis desde o início da pandemia. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu vacinar todo o grupo de risco até o fim do primeiro semestre, para iniciar os grupos não prioritários na segunda metade do ano. Mas a dependência de matérias-primas e insumos importados já atrasou o cronograma previsto.

 Em fevereiro, economistas já revisaram os cálculos do PIB de 2021 em virtude do passo lento das vacinações e da retirada de programas de distribuição de renda. O setor de serviços, o mais dependente da imunização e também do poder de consumo do brasileiro, deve continuar sofrendo bastante no primeiro semestre.

Para a equipe econômica da LCA Consultores, a divisão de perspectiva é clara de que a vacinação deve avançar para ter grandes efeitos apenas na segunda metade do ano, quando a população economicamente ativa passa a ser vacinada e retomar os antigos costumes.

Enquanto a economia não reage, o mercado de trabalho segue devagar. Mesmo com três quedas seguidas no índice de desemprego, ainda havia 13,9 milhões de brasileiros sem trabalho no trimestre encerrado em dezembro. O número é 6,7% maior que no fim de 2019.

Há, portanto, três fatores na mesa que podem mudar o curso dos primeiros seis meses de 2021: a renovação do Auxílio Emergencial, a contenção da pandemia para que melhorem os níveis de confiança e o controle da inflação.

“Mesmo com nova rodada de estímulos, será em patamares menores. A inflação corrói o poder de compra da população e desestimula consumo. A boa notícia é que os choques parecem ter sido pontuais e estão arrefecendo”, diz Lucas Rocca, economista da LCA Consultores.

A consultoria estima que o Auxílio Emergencial tenha mais que compensado a perda de renda no ano passado. Segundo o cálculo, a massa salarial do brasileiro — junção de renda do trabalho, benefícios previdenciários e assistenciais — teria caído 3,7% em 2020. Com o benefício, ela subiu 5,7%.

A nova ajuda não teria o mesmo efeito, mas pode segurar as pontas até que mais doses estejam disponíveis.

Fonte: G1

Farmasi
Continue Lendo

Doce Arte
Doce Arte