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Saúde

Gestantes negras têm risco até 4 vezes maior de complicações e morte por Covid-19, diz estudo da Unicamp

Levantamento coletou dados de 729 mulheres em 15 maternidades do Brasil

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Foto: Sesa/Reprodução
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Grávidas negras apresentam risco até quatro vezes maior de complicações – como internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), baixa saturação e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – e morte em decorrência da Covid-19, de acordo com um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O levantamento integra a Rede Brasileira de Estudos em Covid-19 e Obstetrícia (Rebraco), que coletou informações de 729 mulheres com sintomas respiratórios em 15 maternidades do Brasil entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021. Os dados revelam que as pacientes negras têm, em relação às não negras:

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  • Risco 4 vezes maiorde dessaturação (queda da taxa de oxigênio no sangue) ao dar entrada em unidades de saúde;
  • Risco 3 vezes maior de morte por complicações do coronavírus;
  • Risco2 vezes maiorde admissão em UTIs;
  • Risco 2 vezes maior de SRAG.

De acordo com Fernanda Surita, uma das autoras do artigo e professora titular de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas, os resultados da pesquisa estão atrelados ao racismo estrutural e refletiram desigualdades preexistentes que foram escancaradas pela pandemia.

“A Covid foi essa ‘lupa’ para os dados de mortalidade materna no Brasil. Fazendo esse recorte de cor de pele, ela também amplificou essas diferenças. Agora talvez você tenha uma diminuição nos casos de mortalidade, mas essa diferença continua acontecendo”, afirma.

Surita destaca que a pesquisa foi feita em hospitais-escola que têm centros de pesquisa, e portanto, apresentam uma condição mais privilegiada do que a observada em hospitais gerais do Brasil. “Se isso está acontecendo dentro desses ambientes, provavelmente de forma geral, numa escala maior, seja mais agravado”.

Quem são as pacientes?

Além da evolução da doença, os pesquisadores também avaliaram dados sociodemográficos das pacientes, como região de residência, estado civil, idade, escolaridade, acesso a planos de saúde e Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional.

Nesse contexto, o grupo de mulheres negras e diagnosticadas com Covid-19 analisado no estudo apresentou:

  • Maior concentração nas regiões Norte e Nordeste;
  • Maior utilização do sistema público de saúde;
  • Maior taxa de gestações não planejadas;
  • Maior proporção de adolescentes;
  • Menor escolaridade;
  • Menor IMC.

“Mulheres negras têm piores condições socioeconômicas e isso reflete diretamente tanto no acesso ao serviço de saúde, quanto nas condições de saúde de modo geral. Acho importante destacar que, apesar de ser mais difícil mostrar isso em dados quantitativos, o racismo e a discriminação têm impacto direto na saúde”, destaca Amanda Dantas Silva, primeira autora do artigo.

Políticas públicas

Surita e Dantas Silva têm opiniões convergentes sobre possíveis ações para diminuir as desigualdades na área da saúde. Uma das principais soluções a longo prazo, segundo elas, é a manutenção e criação de vagas por meio de cotas étnico-raciais no ambiente acadêmico.

“A gente tem que falar do racismo, tem que assumir que ele existe. […] À medida que eu tiver mais médicas e médicos negros, eu vou ter um perfil diferente dentro do acolhimento das pessoas no serviço de saúde de uma forma geral”, defende Surita.

Além disso, Dantas Silva reforça a importância de inserir a população negra em debates para que políticas públicas sejam pensadas junto àqueles que vivem o racismo diariamente.

“Temos que colocar a população negra nos espaços para pensar nessas políticas junto com a gente, porque a gente não sabe como que é ser uma pessoa negra no Brasil. São as pessoas que têm essa experiência que vão pensar nisso junto com a gente a partir da visão delas, então elas precisam vir para esses espaços”, afirma.

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