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Entenda os motivos dos haitianos virem ao Paraná para entrar no mercado de trabalho

Tese de doutorado da UEL aponta que fenômeno atingiu o ápice em 2016

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|Foto: Reprodução|
Gramado Presentes

A morte de sete haitianos na explosão do silo de grãos da cooperativa C.Vale, em Palotina, oeste do Paraná, trouxe à tona a maneira e as razões que esses imigrantes chegam ao Brasil. Um brasileiro de 53 anos, trabalhador da empresa, também morreu no acidente.

Os haitianos eram contratados do Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias (Sintomege) e atuavam como movimentadores de mercadorias na cooperativa, que disse estar colaborando com as forças de segurança. Veja abaixo quem são eles.

Charles Pinturas

O professor universitário Lineker Alan Gabriel Nunes apresentou versões dos motivos dos haitianos buscarem o Paraná, principalmente a região oeste, conhecida pela força no setor agrícola, na tese de Doutorado em Geografia dele, concluído em 2023 pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

O trabalho, intitulado “Migração e trabalho dos haitianos no Paraná (2010-2022)”, foi feito em quatro anos e surgiu depois que o pesquisador notou um número expressivo de haitianos em Cascavel, onde mora.

Durante a pesquisa de campo e entrevistas com os trabalhadores, Nunes constatou que, para entrar no mercado de trabalho brasileiro, os haitianos recorrem a funções, em sua grande maioria, totalmente diferentes das que exerciam no país onde moravam.

“Conversei com profissionais que eram advogados, engenheiros, professores no Haiti, mas que mudaram de área quando chegaram ao Brasil para não ficarem sem emprego. É nesse contexto que as vagas em frigoríficos e cooperativas, por exemplo, surgem como uma oportunidade. Elas representam uma inserção mais rápida no mercado de trabalho”, disse ao g1.

‘Boom’ da migração

Com base em dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a tese de Nunes informa que 607 haitianos chegaram ao Paraná. O ano de 2016 significou o pico de migrações, com 7.301.

Conforme a pesquisa, o número de haitianos vem oscilando desde então, chegando 3.965 haitianos registrados em 2021, dado mais recente.

Lineker Nunes explicou que, estudando o assunto, percebeu que o Haiti sempre teve uma tradição de imigração pelas condições sociais e econômicas do país.

Mas, para ele, os desastres provocados pelo terremoto de 2010 e a ajuda humanitária prestada pelo Brasil teria sido o fator desencadeador para que os haitianos buscassem os estados brasileiros.

“Esse fenômeno começa a crescer em 2010 e atinge o seu ápice em 2016, vindo a decair ou oscilar nos anos seguintes. E isso permanece até hoje. O Paraná e outros estados do sul e sudeste, por exemplo, foram muitos procurados depois desse período por venezuelanos, principalmente por conta da instabilidade política recente”.

Quem são as vítimas

Segundo a polícia, as vítimas são:

  • Michelet Louis – 41 anos (haitiano)
  • Jean Michee Joseph – 29 anos (haitiano)
  • Jean Ronald Calix – 27 anos (haitiano)
  • Donald ST Cyr – 24 anos (haitiano)
  • Wicken Celestin – 55 anos (haitiano)
  • Eugênio Metelus – 53 anos (haitiano)
  • Reginaldo Gegrard – 30 anos (haitiano)
  • Saulo da Rocha Batista – 53 anos (brasileiro)

Como os haitianos mortos foram contratados

Segundo o gerente administrativo do sindicato, Nivaldo Sérgio de Souza, os haitianos trabalhavam no cargo de movimentador de mercadorias, que integra a categoria de trabalhadores avulsos. Esse tipo de profissional, conforme Souza, é contratado com base na Lei 12.023, de 2009.

Vítima desaparecida está sob 10 mil toneladas de milho de silo que explodiu, em Palotina, dizem Bombeiros — Foto: Reprodução/ RPC

Vítima desaparecida está sob 10 mil toneladas de milho de silo que explodiu, em Palotina, dizem Bombeiros — Foto: Reprodução/ RPC

A legislação cita que a remuneração, a definição das funções e demais condições de trabalho serão objeto de negociação entre as entidades representativas, como o sindicato, e os tomadores de serviços, como a CVale, onde as vítimas trabalhavam.

Local de explosão da C.Vale antes da explosão — Foto: Reprodução

Local de explosão da C.Vale antes da explosão — Foto: Reprodução

De acordo com o gerente, este tipo de trabalhador tem os mesmos direitos que empregados de outras áreas, como salário, férias remuneradas, 13º salário, adicional de trabalho noturno, adicional de trabalho extraordinário, repouso remunerado e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

“Nosso sindicato presta serviços na área de movimentação de mercadorias. Eles não poderiam trabalhar em outro setor, por exemplo. Muitos vieram com as famílias, outros sozinhos. Não ficavam em alojamentos, cada um tinha a sua vida e a sua casa”, explicou Souza.

O gerente afirmou que o sindicato está dando assistência às famílias para velórios e sepultamentos.

O que diz a empresa

Em nota emitida na quinta-feira (27), a C.Vale informou que está colaborando com os órgãos de segurança.

“A C.Vale comunica aos seus associados e comunidade em geral que nesta quarta-feira, 26 de julho, às 16h50, um sinistro de grandes proporções atingiu nossa unidade central de recebimentos de grãos em Palotina, oeste do Paraná, devido a causas ainda não identificadas.

No momento, a prioridade está centrada na mobilização de todos os esforços e recursos necessários à preservação da integridade dos colaboradores atingidos pelo incidente e apoio aos familiares das possíveis vítimas atingidas.

No momento, todas as equipes de segurança da cooperativa estão ativas colaborando com autoridades públicas envolvidas, visando minimizar efeitos desse lamentável evento.

Assim que todas as variáveis forem identificadas e apuradas as repercussões geradas pelo incidente, nova nota de esclarecimento será emitida pela equipe de gerenciamento de crise instalada nessa oportunidade.”

Como foi a explosão

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o acidente aconteceu na tarde de quarta-feira (26) na cooperativa C.Vale. Oito pessoas morreram e outras 11 ficaram feridas. Um trabalhador continua desaparecido.

Segundo o major Tiago Zajac, a vítima está soterrada embaixo de 10 toneladas de grãos de milho.

De acordo com os bombeiros, foram quatro explosões em série na unidade de armazenagem e secagem de grãos da cooperativa. A primeira foi por volta das 16h50 desta quarta.

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