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Lista de boicote a comerciantes e profissionais ‘esquerdistas’ gera medo e prejuízos em cidades de SC e PR; caso semelhante é registrado em Marechal Rondon

Durante a noite de ontem (25), foi registrada a primeira lista incentivando boicote a empresas supostamente “petistas” em grupos de WhatsApp de Marechal Cândido Rondon

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|Foto: Arquivo/Portal Rondon|
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Uma mensagem compartilhada na semana passada em grupos de WhatsApp por moradores de Mafra e Rio Negro, cidades vizinhas na fronteira entre Santa Catarina e Paraná, causou não apenas prejuízo financeiro a pequenos comerciantes e profissionais liberais da região, mas gerou medo de agressões e outras formas de represálias. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve mais de 67% e 65% dos votos, respectivamente, nos dois municípios, passaram a divulgar uma lista de boicote a estabelecimentos e prestadores de serviço classificados como “esquerdistas” que as pessoas “de direita” não deveriam frequentar ou contratar.

O texto circulou para além de grupos políticos, como de times de futebol e destinados à organização de viagens, e teve grande repercussão local. A advogada Ana Carolina Moreira de Carvalho, que tem 22 anos de carreira e consta na lista de profissionais que deveriam ser boicotados, explica que a viralização trouxe prejuízos financeiros aos citados nos grupos de WhatsApp, que relatam ainda medo de seguir com a rotina na região. Parte dos afetados sequer divulgava posicionamentos políticos publicamente.

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“As pessoas estão com medo de sair de casa, de fazer a rotina normal, de se manifestar. Estão com medo de represálias não só em relação ao seu ganha pão, ao seu negócio, mas também temem por sua integridade física” — diz a advogada.

A lista foi tomando uma grande proporção e começou a afetar a segurança. As duas cidades têm juntas 90 mil habitantes. Todo mundo se conhece.

Ana Carolina Carvalho vai ingressar, junto com outros profissionais e comerciantes afetados, com uma ação de indenização contra quem propagou a lista e contra administrados de grupos em que o conteúdo circulou livremente. Ao menos oito disseminadores da mensagem já foram identificados.

O Ministério Público nos dois estados também foi acionado e acompanha o caso. Episódios semelhantes têm se espalhado por cidades de Santa Catarina ao longo do pleito. Listas pregando boicote já foram registradas em Papanduva, Canoinhas e São Bento do Sul.

O vereador de Rio Negro Elcio Josué Colaço (PSD) chegou a compartilhar o conteúdo. Ao GLOBO, ele afirmou que a publicação foi “um equívoco” e que tentou passar a lista para um amigo e sem querer postou o conteúdo em um grupo.

— Sou contra segregação e boicotes. Acho uma irresponsabilidade a ideia do autor da lista — afirmou.

O prefeito de Mafra, Emerson Maas (Podemos), que é apoiador de Bolsonaro e exibe fotos ao lado do presidente nas redes sociais, também repudiou a mensagem em nota enviada ao GLOBO. “Por vivermos em um país democrático e por defender a democracia, me coloco totalmente contrário a qualquer postura que hoje contraria os direitos individuais mais básicos garantidos pela constituição federal, como liberdade de expressão, escolha ideológica e política”, diz o texto. Já o prefeito de Rio Negro, James Karson Valério (PSD), não respondeu ao pedido de posicionamento.

As subseções da Ordem dos Advogados de Santa Catarina e do Paraná nas duas cidades também publicaram notas repudiando a criação e divulgação da lista no WhatsApp. “A Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de Rio Negro reafirma o repúdio à falta de respeito com a opinião e o posicionamento político de cada cidadão, que é um direito de todos afirmado nas legislações vigentes e afirma que estará vigilante para que atitudes como esta não mais se repitam, e, em prol de toda a sociedade, tomará as medidas judiciais cabíveis, a fim de fazer cessar toda e qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade”, escreveu uma das entidades em seu perfil no Instagram.

Marechal Cândido Rondon

Durante a noite de ontem (25), foi registrada a primeira lista incentivando boicote a empresas supostamente “petistas” em grupos de WhatsApp de Marechal Cândido Rondon, além da lista, geralmente a descrição vem acompanhada de áudios, que pregam que esses comércios e profissionais devem falir.

“Vamos evitar entrar nesses estabelecimentos, tá bom?! Pague mais caro, mas vá em outro, não entre, vamos fazer que nem aquele cara de Goiás, Tocantins, da churrascaria, faliu! Vamos fazer a mesma coisa com o povo de Rondon” diz o áudio encaminhado com frequência no WhatsApp nos grupos de Marechal Rondon

Na lista veiculada a exaustão nas redes sociais, constam empresas e profissionais que não se posicionam publicamente e outras em que os proprietários ou empresa citada é apoiadora de Jair Bolsonaro (PL) e não de Lula (PT).

Essa prática não é nova, há registros históricos importantes de boicote na história mundial como o boicote a judeus (“Judenboykott”), que foi a primeira ação coordenada do regime nazista contra os israelitas na Alemanha. Ele se iniciou no dia 1 de abril de 1933, um sábado.

Naquele dia, os alemães “puros” não deveriam comprar em lojas ou outros estabelecimentos que os nazistas identificassem como sendo propriedade de judeus; também não deveriam ir aos consultórios ou escritórios de profissionais judeus da área de saúde ou de advogados judeus.

Com o acirramento da campanha eleitoral em 2022, houve diversos registros de boicote a supostas empresas petistas e empresas supostamente bolsonaristas.

Os casos referentes as empresas bolsonaristas estão ligadas principalmente aos empresários que fizeram doações para campanha do atual presidente da república, já com os petistas os casos estão ligados a profissionais liberais e empresas de pequeno porte que estão em redutos bolsonaristas no sul do país.

Portal Rondon com informações de O Globo, Enciclopédia do Holocausto e Congresso em Foco

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