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Ex-líder estudantil que confrontou parlamentares em ocupação de escolas no Paraná, Ana Júlia é eleita deputada estadual; conheça

Jovem foi uma das lideres do movimento de ocupação de escolas que chegou a mais de 20 estados. Estudantes protestavam contra reforma no ensino médio e redução de investimentos na educação

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| Foto: Arquivo RPC e Rodrigo Fonseca/CMC|
Farmasi

Seis anos após a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) presenciar o discurso de uma estudante do ensino médio em prol da educação, a Casa de Leis voltará a ter a presença da jovem Ana Júlia (PT). Hoje com 22 anos, ela foi eleita deputada estadual.

Ana Júlia ganhou destaque em 2016 como uma das líderes do movimento estudantil nacional que ocupou pelo menos 850 colégios do Paraná e chegou a 20 estados do país.

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Na época, ela utilizou a tribuna da Alep para protestar contra a reforma no ensino médio e sobre a morte de um jovem durante uma ocupação, momento em que acusou os deputados estaduais de estarem com a “mão suja com sangue” por omissão.

A atual vereadora de Curitiba foi eleita no domingo (2) com 51.845 votos – a 5ª mais votada do partido, que fez sete cadeiras na Alep, e a 26ª mais votada entre os 54 eleitos.

“Eu estou maravilhada e só tenho a agradecer. Foi a esperança, um movimento que conquistou os estudantes, que conquistou a juventude e agora está eleito, sendo colocado na Assembleia Legislativa”.

A eleição de 2022 foi o segundo pleito eleitoral disputado por Ana Júlia. Antes deste, ela tinha concorrido para vereadora de Curitiba, em 2020, ficando na suplência do PT. Na época, a jovem recebeu 4.538 votos, reflexo de uma campanha pautada principalmente na defesa da educação pública.

Atualmente, ela ocupa na Câmara uma vaga do então titular Renato Freitas (PT), também eleito deputado estadual. Ele teve o mandato cassado em julho, mas pôde concorrer após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu comecei lá [Alep] e naquele momento eles tinham uma impressão que eu era uma doutrinada, um fantoche, queriam cortar a minha palavra […] Diferente de outros mandatos jovens de mulheres que já assumiram, eu não venho de uma família tradicional da política. Imagino que vai ser um desfio e eu espero conseguir mostrar o quanto a nova proposta de se fazer política tem a contribuir e como o fato da pouca idade também é uma coisa boa”, disse a deputada eleita.

Projeção

Ana Júlia contou que a trajetória política dela começou dentro do movimento secundarista.

A projeção do nome da deputada eleita aconteceu de maneira mais significativa em outubro de 2016, quando Ana Júlia tinha 16 anos e participou de uma sessão na Assembleia para defender as ocupações de escolas estaduais do estado.

Na época, um discurso emocionado dela na tribuna da Casa de Leis viralizou e ganhou destaque nacional. Ela defendia investimentos na educação, respeito aos estudantes, e protestava por um colega que morreu dentro de uma escola ocupada.

Em outubro de 2016, as ocupações no Paraná atingiram cerca de 850 escolas, 14 universidades e três núcleos por meio do grupo Ocupa Paraná. As manifestações eram contra uma medida provisória que previa alterações no currículo do ensino médio, e uma PEC que delimitou um teto para os gastos públicos, inclusive na educação.

Relembre:

Parlamentares acompanhavam o discurso de Ana Júlia em silêncio, enquanto ela falava das preocupações dos jovens com o futuro. Houve embate, entretanto, quando a então estudante do ensino médio cobrou responsabilidade dos deputados sobre a morte de Lucas Mota, 16 anos, assassinado a facadas em uma ocupação.

Ao dizer que as mãos dos deputados “estavam sujas de sangue”, ela foi aplaudida por participantes que acompanhavam a sessão, mas repreendida por parlamentares e pelo presidente da Alep, deputado Ademar Traiano (PSD), que cobrou respeito. Ela se desculpou logo após, mas fez tréplica:

“Eu peço desculpas, mas o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, nossos estudantes é da sociedade, da família e do estado […] Nós estudantes não somos vagabundos como dizem aqui, como a sociedade lá fora diz”.

Mais jovem da Alep

Hoje com 22 anos, Ana Júlia é a deputada estadual mais jovem eleita para a Alep, segundo informações da Casa de Leis.

“Eu vivi outras coisas, tive inúmeras outras experiências […] Eu construí política estudantil, universitária, no terceiro setor, exerci mandato, concorri a duas eleições… por óbvio que isso tudo nos muda. Mas o que permanece igual é o mais importante: eu faço política porque eu acredito nela. Porque acredito que ela é instrumento para mudar as nossas vidas”.

Antes dela, três parlamentares estavam empatados com o título de mais jovens da Alep: Maria Victória, Evandro Júnior e Boca Aberta Júnior, todos eleitos com 23 anos.

Segundo Ana Júlia, por ser jovem, ela enfrentou resistência em alguns ambientes, incluindo a própria Câmara. Mas acredita que a “pouca idade” é um diferencial bom para o debate democrático.

“Eu já enfrentei resistência por ser jovem, ouvi pessoas me chamando de vereadora estagiária, aprendiz… E por mais que isso tenha sido falado algumas vezes de forma amigável, inconscientemente isso cria uma imagem de que a pessoa não é capacitada o suficiente, ou não teria condições de estar fazendo articulações […] Mas acredito que mostrei e provei que não era bem por aí… Tive um bom diálogo”, disse Ana Júlia.

Na Câmara

A atual vereadora é a parlamentar mais jovem da Câmara de Curitiba.

Ana Júlia assumiu o mandato em julho, após a cassação de Renato Freitas. Na ocasião, a jovem destacou que não assumia o mandato nas circunstâncias que gostaria, mas que respeitava “o jogo democrático”.

Em setembro, o ministro Luís Roberto Barroso determinou o restabelecimento do mandato de Renato Freitas, anulando a resolução que decretou a cassação.

Até a publicação desta reportagem, entretanto, a Câmara ainda não tinha devolvido o mandato e Ana Júlia permanecia ocupando uma cadeira na Casa.

“Permaneço no cargo enquanto não há a devolução, mas sendo muito honesta, e tenho falado isso publicamente, o tempo da burocracia é diferente do tempo da política, e na politica eu já não sou mais vista como vereadora […] A questão se irá devolver ou não, isso já está pacificado”.

Dr Rodrigo Dentista
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