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Pessoas acima de 50 anos relatam dificuldades de recolocação no mercado de trabalho: ‘Preconceito de muitas empresas’

Especialistas em gestão e RH comentam como dar oportunidades a profissionais de todas as idades pode trazer benefícios ao ambiente de trabalho das empresas.

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Profissionais com mais de 50 anos relatam dificuldades de recolocação no mercado de trabalho — Foto: Heloise Hamada/G1
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As chances de conseguir uma oportunidade de emprego, para muitos profissionais com mais de 50 anos, vai além da análise de um bom currículo ou da preparação para as entrevistas.

Trabalhadores nesta faixa etária, no Paraná, relatam dificuldades para conseguir se recolocar no mercado de trabalho e apontam que o principal problema é a idade que têm.

Dr Rodrigo Dentista

Cátia Mota, de Curitiba, tem 51 anos. Ela conta que está desempregada há cerca de dois anos e que, quando voltou a procurar um trabalho, na área de logística, encontrou uma resistência não declarada por parte das empresas.

“Tenho conversado com várias pessoas que falam que há preconceito de muitas empresas. Eu passava por todas as etapas. Quando perguntavam minha idade, às vezes, quando a entrevista era de manhã, à tarde eu já recebia mensagem: ‘Nós gostamos do seu perfil mas optamos por continuar o processo com candidatos mais aderentes à vaga”, disse.

A história da Cátia não é um caso isolado, e a questão é um problema cultural, segundo quem trabalha com empresas e candidatos.

Eliane Catalano, coordenadora de recrutamento e seleção, conta que existem pontos de preconceito de algumas empresas, que acreditam que a pessoa, pela idade que possui, pode não dar conta de questões tecnológicas ou não se adaptar ao ambiente de trabalho, com profissionais mais jovens.

A especialista comenta que esse pensamento não pode basear a escolha dos recrutadores. Segundo ela, nem sempre a maturidade de um trabalhador está relacionada a quantos anos essa pessoa possui.

“O mercado de trabalho busca profissionais, busca pessoas que tenham experiência ou não, ou algum conhecimento técnico. Esses são pontos que a gente tem que considerar, e isso indefere de idade, indefere de gênero. A gente quer um profissional qualificado. É isso que importa para o processo”, destacou.

A estimativa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), é de que o Paraná tem, em 2021, mais de 3,2 milhões de pessoas que passaram dos 50 anos.

Conforme destacam os especialistas, neste grupo, há muita gente que, muitas vezes, não tem opção: pode e precisa continuar trabalhando.

“A gente vê muitos casos de pessoas até aposentadas que estão ajudando filhos a completar a renda. Muitas vezes, não é só a aposentadoria, no caso das pessoas acima de 60 anos. Estão no mercado porque também precisam ajudar a fechar o rendimento familiar, pessoas que estão ativas”, disse Eliane.

Segundo Mariciane Gemin, executiva em Recursos Humanos e especialista em Pessoas e Cultura, ainda é necessário um amadurecimento expressivo do mercado para que as empresas considerem em plenitude os profissionais acima de 50 anos.

A especialista comenta que é baixo o número de empresas que têm programas estruturados e divulgados para a contratação deste público, assim como de outros aspectos de diversidade.

“Ainda temos algumas pessoas presas a um tempo atrás, olhando pessoas com 50+ comparando-as com outras gerações, sendo que a gente está falando de outra coisa. Hoje, a longevidade das pessoas, o acesso à saúde, entretenimento, bem-estar, fazem com que a expectativa de vida venha aumentando. Uma pessoa com mais de 50 anos, está no auge da produtividade”, comentou.

‘Estudar é primordial’

Lilian Régia Lopes Terceiro, de 50 anos, passou por processo seletivos disputando uma vaga para analista financeira. Após entrevistas, ela começou a trabalhar com consultoria em uma empresa de veículos.

Ela comenta que formar um bom currículo e demonstrar vontade de continuar estudando ajudam bastante ao procurar uma nova chance.

“O que eu percebo é que o fato de ter 50 anos não é um limitador, pelo menos na minha trajetória, porque eu sempre busquei me profissionalizar, me atualizar tecnologicamente, estudar… Estudar eu acho que é primordial em qualquer profissão, seja em qual idade for”, afirmou.

Lilian Terceiro tem 50 anos e comentou sobre a busca por recolocação no mercado de trabalho — Foto: Lilian Terceiro/arquivo pessoal
Lilian Terceiro tem 50 anos e comentou sobre a busca por recolocação no mercado de trabalho — Foto: Lilian Terceiro/arquivo pessoal

Benefícios da oportunidade

Os profissionais que lidam com seleção para as vagas destacam que os candidatos devem demonstrar o que possuem de diferencial, características que podem ajudar a conseguir a tão disputada assinatura na carteira.

Em relação ao grupo específico das pessoas acima de 50 anos, há pontos específicos da faixa etária que podem ser usados a favor.

“Não vou dizer que uma pessoa de 30 não tenha responsabilidade, mas uma pessoa de 50 anos tem a maturidade a favor dela. Como eu também já estive do outro lado, de recrutar pessoas, eu percebo que as pessoas mais maduras têm firmeza na continuidade”, afirmou Lilian.

Eliane argumentou que trabalhadores das gerações mais “maduras” possuem maior estabilidade nos cargos que ocupam. Isso, além de cargas de experiência vividas que ajudam a formar um profissional mais decisivo e importante para o dia a dia corporativo, como destacou Mariciane.

“Maturidade não tem nada a ver com idade, mas quanto mais experiente, mais ‘sênior’ de vida, eu vou me tornando, eu vou tendo uma maturidade até para administração de conflitos, resolução de problemas, maior equilíbrio frente à acabativa das coisas”, afirmou.

As especialistas afirmam que o pensamento das empresas deve ir além da concorrência dos candidatos na seleção para as vagas. Após a contratação, possuir profissionais de diversas faixas etárias pode proporcionar, inclusive, melhora nos resultados do grupo.

“A gente aproxima o jovem da pessoa mais experiente, a gente acelera a curva de aprendizagem do jovem. Esse integrante pode funcionar como um mentor para o jovem, que tem muita energia, pré-disposição, mas que não vivenciou muitas experiências”, concluiu Mariciane.

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