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‘Muitas mulheres deixam de pedalar por medo de assédio’ diz cicloativista sobre jovem que sofreu acidente após ser tocada por homem

Viviane Mendonça, que lidera coletivo ‘Vou de Bike e Salto Alto’, com mais de 23 mil mulheres ciclistas, disse que agressão que aconteceu em Palmas, no Paraná, ‘mostra um medo que todas as mulheres têm’. Saiba como denunciar.

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Viviane Mendonça criou grupo que hoje tem mais de 23 mil ciclistas mulheres — Foto: Arquivo pessoal
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Agressões como a sofrida por Andressa Rosa Lustosa, ciclista que se acidentou após ser importunada sexualmente, fazem com que muitas mulheres deixem diariamente de pedalar. É o que diz a cicloativista Viviane Mendonça, de Curitiba, que lidera o coletivo ‘Vou de Bike e Salto Alto’, que tem mais de 23 mil participantes de todo o Brasil.

De acordo com ela, são diários e frequentes os relatos de ciclistas que são assediadas enquanto pedalam.

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O grupo criado em 2016 reúne, pelas redes sociais, mulheres interessadas em ciclismo, que trocam experiências e dicas sobre o esporte.

‘Muitas mulheres deixam de pedalar por medo de assédio. E este é um medo que nós temos não porque somos ciclistas, mas porque somos mulheres. Diariamente mulheres deixam de fazer o que gostam por causa destas agressões, disse.

Uma câmera de monitoramento registrou um destes casos, em Palmas, no domingo (26). 

Nas imagens é possível ver o momento em que um carro se aproximou da ciclista Andressa Lustosa e, na sequência, o carona passou a mão no corpo dela. Com isso, a mulher caiu no chão. Os envolvidos saíram com o carro em seguida.

Segundo a polícia, quatro pessoas estavam no carro no momento do crime. Todos foram identificados, e o suspeito de tocar na vítima foi preso em flagrante, nesta terça (28).

“Esse vídeo da Andressa mostra todos medos todas as mulheres têm. A gente tem o medo do atropelamento em si, claro, mas quando é um carro que vem de trás, você não vê, não tem tempo de se defender e acontece uma agressão como está, é uma baita covardia”, afirmou a cicloativista Viviane Mendonça.

Nas redes sociais, Viviane faz postagens de conscientização sobre o o problema do assécio contra ciclistas — Foto: Reprodução/Instagram
Nas redes sociais, Viviane faz postagens de conscientização sobre o o problema do assécio contra ciclistas — Foto: Reprodução/Instagram

De acordo com Viviane, existem diversas formas de agressão que ciclistas mulheres sofrem frequentemente.

“Pode ser um carro passando muito perto de propósito, pode ser um comentário ou algum assédio mais agressivo mesmo. Todas são situações que inibem as mulheres”, afirmou.

Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), o Paraná registrou 3.914 casos de crimes contra a dignidade sexual, no primeiro semestre de 2021. Os registros incluem casos de assédio, estupro e importunação sexual.

União entre ciclistas

A ativista, que pedala há dez anos, disse que criou o grupo “Vou de Bike e Salto Alto” no Facebook para compartilhar experiências com outras ciclistas e incentivar outras mulheres a iniciarem a prática.

De acordo com ela, proporcionalmente, poucas mulheres usam as bikes como meio de transporte ou esporte.

“Eu comecei a andar de bicicleta e fiquei tão empolgada que eu queria que mais pessoas fizessem isso”, disse.

Viviane Mendonça e grupo de ciclistas, em Curitiba — Foto: Arquivo pessoal
Viviane Mendonça e grupo de ciclistas, em Curitiba — Foto: Arquivo pessoal

Com o tempo, Viviane disse que sentiu a necessidade de criar um ambiente onde apenas mulheres pudessem conversar sobre ciclismo.

“Então em 2016 eu criei o grupo no Facebook, onde só podem entrar mulheres. É um ambiente para dividirmos experiências. Falamos de casos horríveis, como os problemas com assédio, mas também damos força umas para as outras”, contou.

De acordo com a ativista, centenas de grupos de ciclismo composto por mulheres foram formados pelo Brasil a partir da comunidade.

“Estes grupos se organizam para pedalar, o que torna a atividade mais segura”, completa.

Viviane criou grupo para mulheres ciclistas em 2016 — Foto: Arquivo pessoal
Viviane criou grupo para mulheres ciclistas em 2016 — Foto: Arquivo pessoal

Investigação

Sobre o caso de Palmas, na região sul do Paraná, o delegado do caso, Felipe Souza, disse que o suspeito preso responderá por importunação sexual e lesão corporal, mesmos crimes que o motorista do carro também deve responder após ser localizado.

Conforme o delegado, o crime de importunação sexual é grave e prevê a pena de um a cinco anos de reclusão.

Ele informou que os suspeitos foram identificados após denúncia anônima. O suspeito de tocar na vítima negou ter passado a mão em Andressa propositalmente.

“Ele disse que já estava com o braço para fora do veículo e não se deu por conta que havia acertado a ciclista. Só que, na verdade, a gente verificou pelo vídeo que o indivíduo está com o braço recolhido, o veículo está do outro lado da faixa, faz a aproximação e então, nesse momento, a pessoa, indivíduo conduzido hoje preso em flagrante, que ele põe o braço para fora do veículo no intuito de importunar a vítima”, explicou o delegado.

A Polícia Civil informou que continua investigando o caso e tenta identificar mais testemunhas. A equipe também irá verificar a denúncia sobre embriaguez.

Como denunciar?

O Paraná possui uma série de canais de denúncia para registro da violência contra mulher. Eles atendem os mais variados tipos de crimes e também oferecem acompanhamento especializado para cada situação.

Denúncias podem ser feitas pelo telefone 180, que é a Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona 24 horas por dia, incluindo aos fins de semana e feriados. A chamada é gratuita.

As denúncias também podem ser feitas pelo disque 100, de Direitos Humanos, ou 190, da Polícia Militar. Algumas cidades do estado também contam com Delegacias da Mulher e Patrulha Maria da Penha. Confira a lista.

Além disso, as vítimas também podem registrar um boletim de ocorrência pela internet. Para registrar a denúncia online basta acessar o site da Polícia Civil. Neste caso, é necessário ter mais de 18 anos. O crime também deve ter acontecido no Paraná.

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