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“O Biopark é único. Nosso modelo é incopiável”, afirma Luiz Donaduzzi

Todo mês o Biopark traz novas adesões ao projeto

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Luiz Donaduzzi: “Não teremos concorrentes agora e nem a médio prazo". | FOTO: Divulgação
Rui Barbosa

A família Donaduzzi construiu e doou prédio e um campus de mais de nove mil metros quadrados para a Universidade Federal do Paraná (UFPR) prover o curso de Medicina para cinco turmas simultaneamente no interior do Biopark, em Toledo.

Na ocasião da inauguração, falou-se em aporte de R$ 22 milhões dos Donaduzzi. A doação, em valores atualizados para 2022 – em decorrência da elevada inflação de materiais e mão de obra na cadeia da construção civil – se aproxima de R$ 30 milhões.

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Todo mês o Biopark traz novas adesões ao projeto. Já são mais de 140 empresas de vários países. A novata na nominata da adesão é gigante: a Unimed, que fará ali seu hospital regional para receber clientes de Guarapuava a Pato Branco.

E o que o casal Luiz e Carmen ganham com a onerosa generosidade voltada para a educação e capacitação? A resposta objetiva, clara e desconcertante está na voz do próprio mecenas, na entrevista abaixo. Confira.

Bolsas de estudos

“Nos demos conta que precisávamos oferecer bolsas. Temos mais de 30 anos de experiência com desenvolvimento humano. A Carmem e eu já entendíamos que todos os processos passam por aí desde o tempo que se fazia comprimido na mão, no braço”.

Qualidade duvidosa

“Isso foi avançando até o momento que decidimos criar uma universidade corporativa. Pagávamos uma bolsa cara para nosso pessoal e recebíamos um ensino de qualidade duvidosa. Decidimos por uma universidade social, sem lucros, em que injetamos recursos lá. Ainda assim o custo caiu pela metade e colocamos a qualidade de ensino em outro nível”.

Metodologia ativa

“O que aprendemos neste processo: a metodologia de ensino que está aí vem da época do início da revolução industrial: é uma pessoa atrás da outra como em uma linha de produção, com chefe lá no fundo observando inerte. Esse modelo poderia funcionar no império romano. Hoje a coisa está muito dinâmica e interativa. Passamos a atuar com metodologias ativas, em que alunos têm projetos desde o primeiro dia de aula”.

Gradativo

“Implantamos gradativamente a metodologia ativa trabalhando com soluções para problemas de química, matemática, biologia, estatística e lógica. A partir desta base, colocamos o pessoal para desenvolver medicamentos, softwares, planejamento estratégico e marketing, conforme a função de cada um dentro do ambiente corporativo”.

Mobilidade social

“Os cursos são curtos, mas muito intensos. São 900 horas em seis meses. É estressante, mas atraiu muita gente, principalmente de classes sociais menos favorecidas. Atraímos o frentista do posto, o caixa do mercado, esse pessoal sofrido”.

Dinheiro no bolso

“Você pode perguntar, mas por que esse pessoal já com o Ensino Médio concluso, em alguns casos graduados no Ensino Superior ou mesmo com mestrado, se interessariam neste curso? Porque colocamos dinheiro no bolso do pessoal já quando estão estudando e imediatamente após concluírem. Os dez primeiros recebem bolsa de R$ 1 mil, outros recebem R$ 500 ou R$ 200 por seis meses”.

Frentista no TI

“E findo esse processo todos que quiserem trabalhar estarão empregados, com resultados profissionais fantásticos para a empresa e para eles próprios. Resultado: o rapaz que era frentista hoje é programador dentro da empresa”.

Baixa expectativa

“Oitenta por cento dos inscritos têm dificuldades, começam a apresentar rachaduras que vêm lá da infância, problemas psicológicos, porque é estressante, é intenso, vamos cobrar muito, afinal na vida nada vem de mão beijada, só é possível com esforço. Se oferecermos bolsas de estudos em larga escala, podemos tirar muitos jovens de uma vida de pouca expectativa por não perceberem onde podem chegar”.

Encantador de crianças

“Dentro do Biopark estamos encantando crianças a partir de oito anos de idade com o laboratório encantado de matemática, química, biologia, aquelas disciplinas que ninguém diz gostar. Eram disciplinas   que eu adorava na infância e que me deram muito suporte para avançar na vida. Para encantar as crianças nestas áreas usamos, entre outras ferramentas, a robótica”.

Ampliando

“Vamos expandir esse programa para crianças e jovens de cinco a 18 anos. Os alunos, de forma lúdica, vão aprender brincando. Assim podemos ensinar brincando o que nas escolas tradicionais aprende-se com grande dificuldade”.

Mulheres I

“Em toda palestra que vou faço a tradicional saudação com um “bom dia”. Ouço mais homens respondendo. Fico me perguntando: por que as mulheres não ocupam seu lugar ao sol? Não estou dizendo ocupar o lugar dos homens, mas ocupar o lugar delas. Por que é tão baixo o percentual de vereadoras, senadoras, governadoras? Temos que resgatar a autoestima delas, isso me incomoda muito”.

Mulheres II

“Quando percebo a disposição de um grupo de mulheres em visitar o Biopark, vou buscar de ‘busão’ na cidade em que estejam. Empoderar as mulheres no sentido de elas acreditarem em si próprias e atuarem ativamente, sobretudo na área de tecnologia, é uma missão desta geração de líderes. Todo nosso foco no Biopark está em bolsas para mulheres empreendedoras”.

Cortando galinhas

“Estamos em uma região de grandes frigoríficos. Vejo por aqui. A família veio da roça para a cidade e se instalou nas imediações do frigorífico para lá trabalhar. Em alguns casos, os filhos são criados soltos, expostos ao mundo da marginalidade. Lhes parece, a esses meninos, mais lucrativo o mundo do crime do que seguir o ofício de seus pais cortando galinhas. Precisamos capacitar e introduzir esses jovens no mercado de trabalho”.

Peneirada

“Abrimos inscrições para bolsistas no curso. Foram mais de 1,2 mil inscritos. Após uma primeira peneirada, 600 fizeram a prova. Restaram apenas 63. Destes, 48 se matricularam, hoje temos 42. Muitos perdemos entre nossos dedos, no meio de nossas mãos. É preciso querer estudar, é preciso querer trabalhar”.

Paga em dobro

“Do jeito que o curso está formatado, o aluno sai com dois diplomas relevantes em cinco anos de graduação. Sai engenheiro de software, cara bem formado. De cara, o colaborador migra da condição de auxiliar de produção para tecnologia de informação, dobrando o salário. Estamos maravilhados com o progresso deles”.

Cidade dentro de outra

“O projeto habitacional dentro do Biopark prevê moradia para 15 mil trabalhadores do conhecimento, seis mil trabalhadores braçais e nove mil funcionários da área de gestão e administração. Direcionamos de forma a não descaracterizar o ecossistema de uma cidade orgânica, que vai rodar como um relógio, com excelente qualidade de vida, passando muito distante deste conceito de empilhamento de gente”.

Expansão

“Teremos mais de um hospital aqui. O da Unimed já está confirmado. Irá atender pacientes de Guarapuava a Pato Branco, incluindo a região de Umuarama. Será um hospital regional. Temos quatro universidades aqui e estamos ajustando os detalhes finais para mais uma”.

“Teremos mais de um hospital aqui. O da Unimed já está confirmado. Temos quatro universidades e estamos ajustando os detalhes finais para mais uma.”

Carteiras ociosas

“Criar um polo universitário dentro do Biopark e, principalmente, atuar com eficácia na prospecção de alunos para essas universidades será nosso papel. Vejo um desastre nas universidades federais: a evasão de alunos. O contribuinte pagando carteiras vazias nas faculdades. É possível mudar isso”.

Expansão

“Levamos 25 empresas para expor no Show Rural. Pagamos tudo do bolso. No Biopark temos empresas chilenas, peruanas, argentinas, uruguaias. Para trazer cada uma delas custa uma fortuna. A empresa chega ao Biopark com três anos sem pagar aluguel e dez anos para pagar um financiamento de construção no Sicredi. Lógico que para o Sicredi financiar nestas condições eu pego dinheiro do bolso e coloco lá como contrapartida”.

Fibra enterrada

“Estamos construindo uma cidade tecnológica. Na cidade tradicional, você puxa fiação pelo poste. No Biopark vamos enterrar toda a fibra ótica. Somente no primeiro loteamento investimos R$ 1 milhão para enterrar a fibra. Isso não retorna. Estamos implantando pavimentação de altíssima qualidade em avenidas largas que nunca terão problema de fluxo”.

Stanford I

“Universidades privadas são bem-vindas ao Biopark, mas tenho dúvidas se enquadrariam. Estou com turma de seis alunos. Cada um deles me custa dez vezes mais do que me pagam. Privadas não arcariam com esses custos, já que trabalham com salas cheias. Nossa nota média para avançar aqui é 70, abaixo disso não avança. Ou o Brasil age assim ou não teremos universidade de excelência nem daqui 100 anos”.

Stanford II

“Gosto de citar Stanford como modelo de universidade. Chegar a esse nível pede muito tempo e dinheiro. Durante 30 anos eu e a Carmen trabalhamos todos os dias para chegar à produção de um bilhão de comprimidos por mês sem falhas, sem um comprimido quebrado, sem outro com uma pintinha preta. Hoje temos o menor custo unitário do país com excelência de qualidade”.

Stanford III

“Veja como alcançar uma Stanford pedirá tempo. Diria que não iremos alcançar. Talvez em um século chegaremos ao estágio em que as melhores universidades estão hoje, mas elas já estarão em outro patamar. Repito: não estamos fechados para o ensino privado, mas para vir para o Biopark precisam estar cientes que nossa régua de excelência é muito elevada”.

Atraso I

“Aplicamos provas em mais de mil calouros, passaram dez. Pais ligaram revoltados com a reprovação. Eu disse: revoltado estou eu! Veja em que situação chegamos no ensino público. Então fizemos um mês de equalização e conseguimos levar o número de admitidos para 60. Em curto período ensinamos tudo que não conseguiram aprender em 12 anos de Ensino Fundamental”.

Atraso II

“É preciso rever o currículo de nossas escolas e ensinar o que interessa: não tem que carregar com coisa complexas; antes precisamos dominar as quatro operações da Matemática. Já será um grande avanço. Hoje vivemos uma realidade em que pessoas apresentam dificuldade para operar um parquímetro de estacionamento”.

Futuro

“Estamos construindo uma planta enorme. Será o maior laboratório de produção de genéricos da América Latina. Jamais imaginei que chegaríamos a esse estágio. São R$ 200 milhões de investimento para 200 empregos. É isso mesmo, cada posto de trabalho pede investimento de R$ 1 milhão. Tudo na indústria farmacêutica é muito caro”.

Maconha

“O canabidiol é um dos 400 derivados da maconha. Muitas vezes no processo de produção ele pode vir contaminado com o THC, a molécula que dá o barato na maconha. Seria péssimo uma criança tomar um canabidiol para epilepsia que esteja contaminado, então fabricar em larga escala não é uma questão trivial”.

Molécula preciosa

“Foi por essa razão que procuramos no mundo inteiro o princípio ativo de qualidade. Como resultado, hoje temos dois laboratórios no planeta produzindo canabidiol com alta qualidade: o GW, nos Estados Unidos, e a Prati-Donaduzzi no Brasil. Com esse desempenho, abre-se um mercado mundial para essa molécula, e já abrimos uma plataforma para exportação”.

900 crises

“Lógico que não é preciso plantar maconha para produzir canabidiol. Fazemos sintético, é ultrapuro, não tem risco de contaminar com molécula que não interessa. A gente pode fazer tudo em laboratório. Os resultados são fora de série: tratamos uma criança com 900 crises epiléticas por mês. Esse número veio a praticamente a zero, tudo feito com estudo clínico e base científica. Foi um alívio para toda a família e a criança passou a frequentar a escola, algo que a epilepsia impedia até então”.

Negacionismo

“Momentos obscuros que refutam a ciência sempre existiram. Isso vem lá de trás, do tempo da alquimia. O negacionismo é pernicioso. Enquanto ficam brincando com terra plana, tudo bem. Mas quando isso vira política pública, discutida em nível estratégico do país, aí complica”.

Propósito

“Caminhamos para seis mil postos de trabalho gerados. Bacana isso, é um propósito de vida. O que mais podemos deixar, um dinheiro a mais para os filhos? É bom, mas se eu puder ajudar os filhos de muitas outras pessoas a crescer e melhorar de vida, melhor ainda. Não carregamos ninguém nas costas. Nós puxamos pelas mãos, ao nosso lado. É possível fazer, tanto assim que já fizemos”.

Toledo x Cascavel

“Estamos em um território neutro a despeito de rivalidades entre cidades que possa existir. O Biopark tem a capacidade de atrair equipamentos regionais sem passar necessariamente pelo Poder Público. Estamos ao lado de Cascavel. Há uma integração muito profunda entre os municípios. O Hospital da Unimed aqui no Biopark de caráter regional mostra que vamos gerar progresso para toda a região”.

Malucos

“O Biopark é único, e nosso modelo é incopiável. Estamos navegando em um oceano azul. Não teremos concorrentes agora e nem a médio prazo. E por uma razão muito simples: não é comum por aí, nem no mundo todo, encontrar algum maluco disposto a pegar o dinheiro da família e montar um parque tecnológico. Não imagine que governo vai pôr dinheiro nisso. Governante quer sair na foto, mas passou dali, nada, não tem recursos para isso”.

Quanto?

“Eu nunca quis falar em público sobre quantitativos aportados. Construímos um campus universitário inteiro e doamos para a UFPR. Agora estamos instalando nossa universidade própria e 140 empresas. Mas o investimento é enorme, é muito dinheiro. Veja que parques tecnológicos são inviáveis. Somente 7% dos parques do mundo são viáveis. O Biopark está viabilizado porque fomos muito malucos de colocar recursos pesados da família lá”.

Mecenas

“Por que construímos e pagamos um campus para a Universidade Federal do Paraná? Porque daqui 15 anos estaremos mortos. A Carmen vai durar um pouco mais. Eu estarei morto. E o que vamos deixar? Foi para responder essa pergunta que investimos na universidade. O que deixarei além das oportunidades que a educação abre? Deixarei uma família que preza valores, ética, trabalho duro e honestidade”.

Luiz e Carmen Donaduzzi: quase R$ 30 milhões doados à Universidade Federal do Paraná, caso raro de mecenas brasileiros (Foto: Divulgação)

São R$ 200 milhões de investimento para 200 empregos. Cada posto de trabalho pede investimento de R$ 1 milhão. Tudo na indústria farmacêutica é muito caro“.

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