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Mães fazem B.O. por racismo em atividade de Cmei no Paraná

Segundo elas, filhos negros pediram para alisar cabelo e chegaram a perguntar se mudariam de cor

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Mães fazem B.O. por racismo contra atividade sobre mulheres negras em Cmei do Paraná — Foto: Foto Cedida/Noemi da Silva Modesto
Providência

Duas mulheres registraram um boletim de ocorrência por racismo contra uma atividade escolar que fez crianças colocarem palha de aço para representar o cabelo de mulheres negras. As imagens foram estampadas na parede do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Dona Ruth em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba.

Segundo elas, 17 crianças entre três e quatro anos tiveram que fazer o trabalho.

Ótica da Visão

“Meus dois filhos estudam na instituição, e às 8h de quarta (16) eu fui levar minha bebê e vi o mural. Nessa mesma hora falei com a coordenadora da escola, com toda educação, expliquei que aquilo era racista e pedi para ela tirar. Ela falou que iria tirar, mas no dia seguinte meu pai foi levar meu filho e disse que continuava lá”, contou Noemi Modesto.

A balconista acionou outras mães e recebeu o apoio de Karla Roberta Baptista, que buscou contato com a diretora da escola para pedir a retirada dos materiais, mas recebeu a resposta de que fosse até a instituição para que a professora “explicasse o contexto da atividade”. Segundo a professora, o projeto era uma homenagem e foi feito por conta do Dia da Consciência Negra.

As mães expuseram a situação nas redes sociais e buscaram orientação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Almirante Tamandaré.

Com apoio de advogados do órgão, elas realizaram o boletim de ocorrência na sexta-feira (18). Conforme documento, foi identificado crime de preconceito de raça ou de cor.

Procurada, a Polícia Civil afirmou que as investigações estão em andamento e que acompanha os fatos.

“Em um dia a Pietra [filha] chegou em mim e perguntou se a gente mudava de cor, e eu falei que não. Ela disse que estava na escola dela esse mural, e falou ‘mas eu não tenho cabelo de Bombril, mãe’. O filho da Noemi pediu para alisar o cabelo porque estava com vergonha depois dessa situação”, contou Karla.

Segundo ela, a prefeitura e a Secretaria Municipal de Educação estão dando todo o suporte às mães e garantiram que vão realizar uma atividade de reparação.

“Eles estão propondo uma atividade de reparação na escola, tanto para os nossos filhos que sofreram racismo quanto para as crianças que elaboraram a atividade, porque foi violência também contra elas, induzi-las a praticar esse ato criminoso”, explicou Noemi.

Por nota, a Prefeitura de Almirante Tamandaré afirmou ter acionado a equipe pedagógica do Cmei assim que tomou conhecimento do caso. Disse, ainda, que encaminhou a situação à Comissão de Sindicância, que vai avaliar e pode abrir um processo administrativo.

O município reforçou, ainda, que “não há e nem pode haver espaço para racismo em nenhum lugar de nossa sociedade”.

Até a publicação desta reportagem, a administração pública não havia informado se afastou as profissionais envolvidas na atividade.

‘Inaceitável’

Para Karla, é fundamental que haja consequências para o ato.

“A gente tem que mobilizar, porque é inaceitável. Estamos em 2022 e compararem nosso cabelo com palha de aço, Bombril.. é muito triste. Eu senti a tristeza de infância, a dor que eu passava na escola quando eu estudava. Eu alisei o cabelo com 11 anos, escondida da minha mãe, porque meu cabelo era chamado de Bombril. Hoje eu tenho cabelo ralo, porque eu queimei o couro cabeludo, ele não cresce 100%. São consequências que levam anos”, ressaltou.

A auxiliar administrativa também falou sobre o processo de crescimento dos filhos negros.

“Uma filha negra começa a ser tratada e encorajada para ser uma mulher forte desde que ela cresce. Porque ela tem que aceitar o cabelo, aceitar a cor, aceitar os olhares que a gente recebe na rua como se a gente fosse diferente”, disse.

Sicredi
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