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Geada e estiagem derrubam produtividade das lavouras de milho do Paraná

De quase 15 milhões de toneladas, a expectativa é de que se colha 6 milhões

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Geada e estiagem derrubam produtividade das lavouras de milho do Paraná — Foto: Reprodução/RPC
Rui Barbosa

O Paraná deve colher menos da metade do milho que esperava para a segunda safra. Resultado de estiagem, pragas e geada, tudo ao mesmo tempo.

A Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) estima que essa é a maior perda já registrada nas lavouras de milho paranaenses. De quase 15 milhões de toneladas, a expectativa é de que se colha pouco mais de seis milhões.

Müller Contabilidade

O branco da geada embelezou as paisagens de inverno, mas quando o gelo derrete fica o prejuízo. Foi o que aconteceu com as lavouras de milho do Paraná.

“O problema é que a gente atrasou o plantio do milho. Atrasamos o plantio do soja em setembro porque estava seco, em janeiro quando foi colher o soja choveu muito e atrasou mais um pouco, então praticamente atrasou 30 dias o plantio do milho. Isso fez falta no final de maio e início de junho onde aconteceu a geada”, diz o agricultor Eucir Brocco.

Em junho, a geada atingiu boa parte das lavouras paranaenses na formação dos grãos. Nessa fase, o congelamento da planta paralisa o desenvolvimento.

“Um grão que secou antes do que deveria tem um tamanho menor, vai dar uma qualidade menor. Temos aqui a espiga com falhas na ponteira onde não conseguiu fazer ela inteira, isso causa muita perca”, conta o agricultor Júnior Pagnan.

Balanço

A Seab divulgou um balanço na semana passada mostrando uma quebra de 58% da safrinha paranaense de milho. Se no início da temporada a expectativa era colher 14,6 milhões de toneladas, o volume agora deve cair para 6,1 milhões de toneladas.

As maiores perdas foram no noroeste e oeste, seguidos pelo sudoeste, norte, centro-oeste e sul. A perda representa quase R$ 10 bilhões a menos na receita dos produtores paranaenses.

O pacote de intempéries parece ter chegado com “bônus” para um agricultor em Francisco Beltrão. Além da seca prolongada e das geadas fortes, a lavoura dele também foi atingida por granizo. A perda pode chegar a 60% da plantação.

“Esse ano estamos diante de uma situação bem complicada né, tivemos algumas áreas que tivemos que derrubar, destruir, algumas áreas foram vendidas para silagem, para ter um pouco de aproveitamento né, mesmo silagem de péssima qualidade, infelizmente”, conta Brocco.


Seab estima que é a maior perda já registrada nas lavouras de milho paranaenses — Foto: Reprodução/RPC

A produção menor já alterou o destino do milho paranaense.

“Mudou o cenário. Hoje pela falta de milho que tem no Paraná o nosso milho da cooperativa está ficando aqui dentro do estado e não está mais indo mais para fora e para Santa Catarina, como era nas safras passadas”, revela Fernando Tonius, diretor da Coopertradição.

Quanto maior a quebra, maior o preço. Em julho do ano passado, a saca no Paraná custava em torno de R$ 40. Atualmente, o preço médio passa de R$ 90.

“Normalmente quando se tem aproximação do período da colheita o mercado automaticamente começa a ceder, o preço recua e isso estava acontecendo. Se a gente olhar os gráficos depois de tudo isso que aconteceu em plena colheita, em vez de mercado continuar caindo, em vez de preço continuar caindo, voltou a subir, então, agora estamos na linha de alta de preço”, diz o analista de grãos Steve Cacchia.

O milho é um dos principais alimentos do frango, do suíno, do gado e da vaca. Por isso, os baixos estoques do grão e o alto custo tem preocupado esse setor produtivo do estado.

A produção menor já alterou o destino do milho paranaense — Foto: Reprodução/RPC

Impactos

O Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) reuniu, pela internet, representantes das indústrias, cooperativas, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Seab para discutir o impacto da quebra.

“A gente fala que o frango é um milho de asas. 70% do custo do preço do frango é milho e farelo de soja então preocupa com certeza, né. O pessoal da Conab comentou que o milho da argentina pode entrar aqui com preço competitivo também. Paraguai que é principal fornecedor nosso, a geada pegou forte também, então, não tem muita oferta. Esse é um insumo estratégico para o agronegócio brasileiro porque ele impacta nas carnes e impacta no nosso bolso”, explica o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti.

Pela primeira vez em sua história uma das maiores indústrias de frango do Paraná está precisando importar milho da Argentina.

O presidente da cooperativa e do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) prevê que o estado possa precisar importar milho até dos Estados Unidos no semestre que vem.

“Nós já vinhamos com essa preocupação um ano atrás e podemos dizer que essa preocupação vai durar mais um ano. Momento bem sensível em que o Brasil não tem milho suficiente para rodar as atividades como frango, suinocultura, ovos, pintainhos até julho do ano que vem, quando esperamos que tenha uma safra que recomponha os estoques”, diz o diretor-presidente da Lar Cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues.

Com os custos de produção em disparada, várias empresas produtoras de frango já começaram a criar menos animais.

“Todo país necessariamente vai ter que reduzir alojamento porque é uma forma de diminuir o prejuízo e de as empresas continuarem trabalhando e não ter de suspender abate, dar férias coletivas ou até processos de demissão”, conta Rodrigues.

Para evitar novos riscos de desabastecimento, o Ministério da Agricultura quer incentivar os agricultores a plantar mais milho na primeira safra.

Para competir com a preferência pelo soja, o governo liberou mais dinheiro de financiamento para agricultor que optar pelo milho.

“O produtor, por CPF, pode pegar até R$ 3 milhões para custeio da lavoura. Se ele plantar milho, o Governo Federal, através do Banco Central e Ministério da Economia, da Agricultura, possibilita pegar até 4,5 milhões, então 50% de recurso a mais se for plantar milho”, finaliza Mafioletti.

Sicredi
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