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Minissérie mostra o contrabando de cigarro na fronteira com o Paraguai

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Cerca de R$ 50 bilhões deixaram de ser arrecadados no Brasil nos últimos cinco anos por conta do tráfico ilegal de cigarros, vindos principalmente do Paraguai. O país produz cerca de 71 bilhões de cigarros por ano, dos quais 2,3 bilhões são consumidos internamente, 1,3 bilhão é exportado legalmente e 67,2 bilhões são destinados ao contrabando. Os dados são revelados no documentário Cigarro do Crime, nova obra do fotojornalista João Wainer, produzida pela Vice Brasil para o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP).

A produção, que será disponibilizada gratuitamente na internet nesta quinta-feira (14), mostra o caminho que o tabaco ilegal percorre das fábricas paraguaias até as principais cidades do Brasil, onde é comercializado a um preço muito menor do que os maços legalizados. “A maioria das pessoas que fuma cigarro paraguaio fuma por um único motivo: porque é mais barato”, afirma Wainer, em entrevista a GALILEU. No Brasil, a média de preço de um maço legalizado é de R$ 7,51, enquanto os produtos ilegais são vendidos por aproximadamente R$ 3,44.

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Por ano, esse mercado ilegal fatura cerca de R$ 10,9 bilhões, alimentando atividades criminosas de barões do cigarro, colocando em risco a vida de barqueiros e “formiguinhas” (reponsáveis pela travessia e transporte do produto) até chegar ao pulmão de milhares de brasileiros. Apesar de não serem responsabilizados, os consumidores fazem, sim, parte da cadeia do contrabando — e são eles o público-alvo do documentário.

Com apresentação da jornalista Débora Lopes, o longa explica cada etapa do crime e aponta os prejuízos à economia e à saúde pública que o tráfico provoca. No documentário, a repórter entrevista pessoas inseridas no esquema e especialistas, além de falar com fumantes de cigarro ilegal e explicar o caminho que o produto percorre até eles. “Quando eles entendem o que está por trás desse negócio, fica claro que, se tivessem a possibilidade de comprar um cigarro com um preço um pouco mais baixo, certamente optariam pelo produto legalizado”, diz Wainer.

Segundo o documentarista, há duas frentes principais de combate ao tráfico de tabaco no Brasil: uma é a fiscalização da fronteira e a outra busca investir em medidas econômicas. A inspeção policial nas divisas entre Brasil e Paraguai enfrenta muitos desafios, como a multiplicidade de rotas do tráfico e os recursos usados pelos crimonosos para despistar os agentes de segurança, o que inclui o uso de barcos tunados, carros que atingem mais de 250 km/h e soltam fumaça e pregos pela pista.

O problema, porém, não é resolvido apenas pela repressão. Para Wainer, o ideal é que houvesse mais atenção às questões econômicas da situação. Um das propostas é que marcas de cigarro legalizado mais caras tivessem mais impostos cobrados sobre seus produtos, para que marcas mais baratas (e legalizadas) pudessem cobrar menos e, assim, competir com o preço do tabaco ilegal.

Além disso, o tráfico também envolve questões políticas. No Paraguai, por exemplo, o ex-presidente e empresário Horacio Cartes é o principal nome da indústria tabacaleira, dono da Tabesa, fabricante da Eight, marca de cigarros ilegais mais consumida do Brasil e comercializada também em outros países da América Latina, como Colômbia e México.

Em 2011, uma investigação sobre seu envolvimento com narcotráfico e lavagem de dinheiro foi revelada pelo Wikileaks e, em novembro de 2019, um mandado de prisão foi expedido pela Operação Patrón, um desdobramento da Lava Jato. Ele é suspeito de ocultar patrimônio e nunca admitiu as acusações.

Outro ponto citado pelo documentário é o problema de saúde pública que o contrabando desse cigarro gera. Afinal, o produto não é fiscalizado e nem passa por qualquer controle de qualidade, portanto, é impossível saber exatamente o que compõe o cigarro paraguaio. O que pesquisas laboratoriais apontam é que certamente ele é mais nocivo do que o cigarro legalizado. “Além disso, quando uma pessoa compra um maço ilegal, ela deixa de contribuir com impostos que seriam revertidos em campanhas de prevenção ao fumo e tratamento para os efeitos do tabagismo na rede pública de saúde”, explica Wainer.

Além de conscientizar os consumidores do tabaco ilegal, o documentário mostra que o tráfico de cigarro não é um crime “menor” ou menos prejudicial do que o contrabando de outras drogas, como geralmente se imagina. Ainda assim, hoje, os maços traficados representam 57% do mercado brasileiro de cigarros — sobrando 43% para os produtos legalizados

Para narrar essa história, a produção contou com a colaboração de uma forte equipe de jornalistas investigativos: o paraguaio Federico Filártiga-Callizo; o paranaense Mauri König, que é um dos repórteres mais premiados do Brasil; o repórter policial Josmar Jozino e a jornalista investigativa e de dados Gabriela Sá Pessoa.

Clique aqui e assista ao trailer.

 


Fonte: Revista Galileu

D Marquez
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